Pobres são mais vulneráveis a roubos e furtos de celulares em João Pessoa
Manaíra e Bessa foram os bairros com mais registros de roubos em 2022; veja lista
É comum encontrar um vizinho, amigo ou conhecido vítima de furto ou assalto em que na ocasião o objeto subtraído foi um celular. Não à toa, o item lidera os índices do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com relação aos bens mais citados em casos de furtos e roubos no Brasil. Em João Pessoa, dados da Secretaria de Segurança do Estado, obtidos pelo Portal T5, mapeiam e sinalizam as regiões onde ocorrem, e até as que lideram o número dos registros.
Ao longo do ano de 2022, somam-se 1.151 crimes de roubos e furtos de celulares na cidade. O percentual dos roubos, inclusive, foi bem superior ao dos furtos - com um panorama de 886 roubos e 265 furtos.
Se comparada a cidades maiores, como a de São Paulo, por exemplo, onde 156.284 roubos e furtos foram registrados ao longo do ano de 2021 (dados do Departamento de Economia do Crime, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), a situação pode dar a impressão de que está sob controle.
No entanto, a subnotificação é apontada como vilã por especialistas em segurança pública de João Pessoa. O ato de não denunciar ou registrar um boletim de ocorrência quando há um roubo ou furto de celular tem como possíveis consequências o enfraquecimento ou inexistência de ações por parte do poder público no intuito de trabalhar a solução para o problema.
O Portal T5 consultou Gustavo Batista, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e especialista em Direito Penal e Sociologia Criminal. Em avaliação, ele cita que de modo geral os crimes de roubos e furtos estão associados à vítimas na base da pirâmide social, já que, em função dos poucos recursos, a população pobre está mais exposta a este tipo de crime.
“De algum tempo pra cá há um investimento grande na questão relacionada às taxas de homicídio. E, observamos assim uma redução nesses números visualizando a realidade da Paraíba, mas também a nível Brasil. Mas, não é só isso que traz a sensação de segurança. Aí temos os crimes patrimoniais, que atingem nosso cotidiano e geralmente as pessoas menos favorecidas porque normalmente as vítimas desses furtos de celulares são pessoas que cotidianamente se deslocam no transporte público e geralmente trabalham nas regiões onde são vitimadas”.
Gustavo acredita que, em função das múltiplas violações e privações à essa parcela - que é a maioria dos brasileiros - no desenvolvimento das cidades, a sensação de insegurança é elevada. “Isso faz com que esse público acredite que há omissão e uma falta de cuidado do aparelho de segurança do estado no tocante a determinadas ofensas”.
“Geralmente, as pessoas mais pobres têm os maiores prejuízos. Isso porque compram os aparelhos de forma parcelada. Tornando-se, assim, mais sensíveis ao crime”, destacou.
Mapa do crime
Conforme dados da secretaria de segurança, em João Pessoa os seguintes bairros lideram os índices:
Roubos
- Manaíra - 78 registros
- Bessa - 55 registros
- Centro - 48 registros
- Tambaú - 46 registros
- Mangabeira - 45 registros
Furtos
- Centro - 36 registros
- Manaíra - 21 registros
- Mangabeira - 18 registros
- Tambaú - 16 registros
- Bessa - 13 registros
Conforme explica Gustavo, há uma compreensão para que as respectivas regiões figurem no quadro. Segundo o especialista, “em bairros como Manaíra, Bessa, as pessoas sempre fazem esse uso por deslocamento para o trabalho, necessidades pessoais. Hoje, o celular é basicamente um escritório. Além da agenda, são vários aplicativos não apenas para se comunicar, mas para produzir informação”.
Subnotificação
Gustavo ainda pontua que a subnotificação é real e trata-se de uma questão mundial. No Brasil, especificamente, uma das razões é o descrédito social sobre respostas e punições contra crimes patrimoniais.
“E isso é ruim porque impede o monitoramento e estudos de geoprocessamento, que implicam a adoção de mais segurança em determinadas vias, locais e horários. Tudo isso pelo fato das pessoas se privarem da prestação de informações ao policiamento”, atenuou.
“O aparelho do estado precisa estar junto no intuito de promover mais segurança e estabilidade"
"Assim, como a comunidade deve buscar o serviço, manter esse crédito e, se em algum momento sofrer com violência, deve-se buscar a polícia”.
Caminho
No dia 13 de junho deste ano, um homem foi esfaqueado após rastrear o sinal do próprio celular que havia sido roubado. O caso foi registrado em Santa Rita, na Grande João Pessoa. A vítima resolveu buscar o aparelho por conta própria e, ao chegar em um ponto onde eram comercializados entorpecentes foi agredida com a facada. Esta ação vai na contramão de indicações dos especialistas de segurança. Deve-se buscar as instituições com competência para tal. - neste caso as polícias Civil e Militar.
O professor Gustavo Batista revela que a notificação é uma saída para frear a reincidência das ações criminosas. Através disso, as instituições de segurança poderão estabelecer ações de policiamento ostensivo nos “horários de pico com relação às ocorrências”.
Entre elas, estão “o maior contingente de policiais militares e guardas civis, criação de programas que envolvam orientação para uso do aparelho - a exemplo de São Paulo, que tem suas áreas mapeadas. Isso inclui direcionamento para uso do aparelho apenas em locais fechados. Isso é para não só quem está passando por ali, mas até para os moradores. No entanto, há uma outra parcela da população que se manterá vulnerável em razão do uso do aparelho para realizar as atividades diárias”.
Não é apenas um aparelho
Gustavo considera que a subtração do celular não é apenas a tomada de um aparelho simples. “Mas, de um mecanismo que influi completamente nas condições de trabalho das pessoas. Precisamos cooperar enquanto comunicada e, junto ao aparelho de segurança, a gente possa obter uma paz nas nossas atividades”. Para ele, a parceria entre estado e sociedade é o único mecanismo válido na mudança das realidades.
Fui vítima de assalto, o que fazer?
A primeira medida a ser tomada é manter a calma e buscar o serviço de segurança. Em caso de situação conflitante, como um assalto a mão armada, por exemplo, deve-se contatar o 190 da Polícia Militar ao se livrar do suspeito.
Após a chegada da Polícia Militar (PM) devem ser prestadas as características do(s) assaltante(s). Diligências serão realizadas no intuito de identificá-lo(s).
Em caso de furto sem as características de quem levou, é necessário se dirigir à Polícia Civil para realização do Boletim de Ocorrência (B.O). A Polícia Civil da Paraíba oferece a possibilidade de preenchimento eletrônico do documento. Clique aqui.
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