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João Pessoa tem condições favoráveis ao Aedes aegypti, diz estudo

Pesquisadores da UFPB concluíram que a capital paraibana tem condições socioambientais favoráveis ao mosquito transmissor da dengue

Por Carlos Rocha Publicado em
Aedes aegypti
(Foto: Divulgação/Fiocruz)

Estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostra que a cidade de João Pessoa, a capital paraibana, tem condições socioambientais favoráveis ao Aedes aegypti, mosquito originário de zonas tropicais e subtropicais e transmissor de diferentes doenças aos seres humanos, a exemplo de Dengue, Zika e Chikungunya.

Predisposição microclimática influencia na reprodução do mosquito. Os resultados da pesquisa demonstram que os bairros de Mangabeira, Cruz das Armas e Alto do Mateus são os que apresentam condições mais favoráveis à proliferação do Aedes aegypti e, possivelmente, à transmissão de arboviroses - enfermidades causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos -, devido a fatores como densidade demográfica, nível educacional, renda média por domicílios, abastecimento de água, tratamento de esgoto e coleta de resíduos.

No entanto, durante o estudo, realizado em 2018, a infestação do mosquito se deu, principalmente, em Manaíra e no Castelo Branco, além de no Alto do Mateus, no mês de julho, por conta da presença de recipientes/depósitos e de armazenamento de água para consumo humano nessas regiões. As notificações de Dengue e de Chikungunya tiveram picos em maio e junho daquele ano.

“Em João Pessoa, o ciclo de vida do Aedes aegypti, ou seja, sua reprodução, eclosão e disseminação ocorrem principalmente em março, na interfase do período seco para o chuvoso. A incidência dos casos de Dengue e Chikungunya é complexa e multifatorial”, explica Anne Freitas, autora do estudo e egressa do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPB.

Segundo a pesquisadora, entre os principais aspectos para incidência de arboviroses, estão ecologia, microclima, epidemiologia, transporte/movimentação de mercadorias e pessoas e condições sociais e urbanas. Especificamente, as condições microclimáticas positivas para fecundidade, fertilidade e sobrevivência do Aedes aegypti são temperatura entre 25 °C e 30 °C, umidade entre 60% e 80% e precipitação até 267 milímetros. Já as razões socioeconômicas fundamentais são densidade demográfica, nível educacional e renda, abastecimento de água, tratamento de efluentes e coleta de resíduos.

“Levando em consideração que a duração mínima do ciclo de vida da fêmea do Aedes aegypti é de até 58 dias e que o pico de notificações em João Pessoa, em 2018, aconteceu em maio, o mosquito se reproduziu e passou pelos estágios de desenvolvimento (ovo-larva-pupa-adulto) em março e, posteriormente, realizou hematofagia, nome dado nas Ciências Biológicas à alimentação com o sangue de outro animal. É durante esse hábito que vírus são transmitidos aos seres humanos, com aparecimento dos primeiros sintomas em maio”, esclarece a pesquisadora da UFPB.

Anne Freitas ressalta que o vetor de arboviroses reproduziu e se desenvolveu, em João Pessoa, em temperatura média de 29,9 °C, umidade média de 72,5% e precipitação média de 85,2mm. “A temperatura entre 25 °C e 30 °C e umidade entre 60% e 80% são fatores positivos para fecundidade, fertilidade e sobrevivência do mosquito e, consequentemente, para as doenças por ele transmitidas”, reforça.

O estudo foi realizado em nove bairros de João Pessoa: Castelo Branco, Expedicionários, Manaíra, Cabo Branco, Mangabeira, Cruz das Armas, Alto do Mateus, Centro e Bancários, nos quais foi executada a medição de temperatura e de umidade do ar por meio do aparelho Termo-higrômetro Digital com data logger HOBO, um registrador de dados.

Unidades do equipamento foram instaladas nas antenas da Embratel, espalhadas pelos bairros do perímetro urbano da cidade de João Pessoa. Também houve levantamento de dados a partir de uma adaptação do Sistema Ambiental Urbano (SAU) de João Pessoa, com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para avaliação da pluviosidade e da velocidade dos ventos, foram utilizados dados diários da Estação Meteorológica de João Pessoa, obtidos junto ao Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Todas as informações da pesquisa foram coletadas nos dois períodos climáticos da área do estudo: o seco (janeiro, fevereiro, setembro e outubro) e chuvoso (março a agosto), em 2018.

O Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti – LIRAa/LIA, a diversidade e quantidade de criadouros e notificações de Dengue, Zika e Chikungunya foram reunidos por meio da Secretaria Municipal de Saúde do Município.

Contribuíram para o estudo os professores da UFPB Joel Santos e Eduardo Lima. A pesquisa teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível (Capes). Até agora, o trabalho rendeu artigo sobre os casos de Chikungunya e sua relação com as condições climáticas do município de João Pessoa e artigo acerca de ocorrência de arboviroses em diferentes espaços geográficos de João Pessoa e a sua relação com o clima urbano.

De acordo com o Boletim Epidemiológico n° 6 da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba, referente a arboviroses e publicado em 30 de maio de 2022, foram registrados mais de 300 casos e um óbito por arboviroses neste ano, em João Pessoa, até agora. No Estado, são 13.568 casos prováveis de Dengue, 9.332 de Chikungunya e 375 de Zika, totalizando 23.275 casos prováveis e 20 óbitos suspeitos de arboviroses até aqui, na Paraíba.

No Brasil, o Boletim Epidemiológico n° 18 do Ministério da Saúde, referente ao mês de maio deste ano, informa que, nos cinco primeiros meses de 2022, ocorreram 757.068 casos prováveis de Dengue, com taxa de incidência de 354,9 por 100 mil habitantes. Em comparação a 2021, houve um aumento de 151,4% de casos registrados para o mesmo período analisado.

De Chikungunya, são 70.092 casos prováveis, com taxa de incidência de 32,9 por 100 mil habitantes, no país. Esses números correspondem a um aumento de 74,6%, em relação ao ano anterior. De Zika, 5.787 casos prováveis, correspondendo a uma taxa de incidência de 2,7 por 100 mil habitantes, um aumento de 214,5%, em comparação ao mesmo período do ano passado.



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