Dois anos de pandemia: quais as lições e o futuro do combate à Covid-19?
O Portal T5 conversou com o vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rodrigo Stabeli. Ele fez um balanço sobre os aprendizados e previsões para o futuro da pandemia no Brasil
Quantas mudanças cabem em dois anos? Desde que a covid-19 foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia - em 2020, máscaras, álcool em gel e distanciamento social passaram a fazer parte da rotina do mundo inteiro. A vida foi moldada pela ameaça de um vírus desconhecido e perigoso.
Na Paraíba, o primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus foi confirmado há exatos dois anos. No dia 18 de março de 2020 um morador de João Pessoa, de 60 anos, testou positivo para a Covid. Naquele momento, acendia o alerta para a circulação do vírus no estado.
Na época, não era possível definir por quanto tempo o novo coronavírus seria uma ameaça para nós. Mas já víamos no mundo um cenário preocupante. Hoje, conforme a Secretaria de Estado da Saúde (SES), já são contabilizadas mais de 10 mil vítimas da doença na Paraíba, e mais de 6 milhões no mundo.
Aos poucos, as pessoas foram aprendendo a conviver com o que chamaram de “novo normal”. A quantidade de casos diários e de mortes por covid-19 foram reduzindo. Na Paraíba, o número de novas internações e vidas perdidas pelo vírus chegaram a zerar. Uma esperança, que só possível por causa de duas decisões: máscaras e vacinas.
“Talvez o grande legado que a pandemia nos trouxe é entender que problemas complexos só podem ser resolvidos com ações complexas. Não existe bala mágica, remédios milagrosos para combater problemas complexos. Existe responsabilidade”, afirmou o vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rodrigo Stabeli.
MÁSCARAS PROTEGEM
O terceiro ano de pandemia começa e as mudanças continuam. Autoridades de saúde pedem para que a população complete o esquema vacinal contra a covid-19 e ao mesmo tempo discutem a desobrigação do uso de máscaras em ambientes abertos. A Fiocruz, porém, avalia a retirada das máscaras como “prematura”.
“A gente precisa pensar que uma doença que é transmitida por via respiratória, o primeiro item que nos protege é, justamente, uma barreira entre aquela pessoa que tá transmitindo e a pessoa que está recebendo a transmissão. Então a máscara é a barreira mais efetiva”, explicou Rodrigo. “É muito prematuro ainda pensar na retirada das máscaras em um contexto pandêmico, de alta transmissibilidade do vírus”.
“Máscara não causa dor, não causa nenhum efeito danoso à saúde. Muito pelo contrário".
"Alguns trabalhos científicos têm mostrado que, se você usa máscara periodicamente, melhora a qualidade do ar que respira para dentro dos seus pulmões. Então, ela deveria ser o último item a ser retirado nesse processo”, declarou Rodrigo.
Ainda segundo ele, antes de flexibilizar as medidas restritivas é preciso observar o comportamento da Covid-19 nos meses de março e abril deste ano. Principalmente, por causa das festas do Carnaval. “Depois dessa observação é que a gente pode entender qual o cenário futuro do Brasil, em termos de medidas de flexibilização, por exemplo, do uso de máscara”, afirmou.
E completou: “Do ponto de vista da saúde pública, tecnicamente falando, a gente só pode pensar na flexibilização do uso que máscara quando tiver de 95 a 97% da população brasileira vacinada com as duas doses”. No momento, temos menos de 80%.
QUARTA DOSE
No último dia 11, a Fiocruz divulgou um boletim do Observatório Covid-19 em que recomenda a aplicação da quarta dose das vacinas para idosos. Ao Portal T5, o vice-presidente da fundação explicou que a dose adicional é uma resposta à alta taxa de transmissibilidade e de mortalidade pelo novo vírus nesse grupo.
“Os idosos já possuem o sistema imunológico um pouco mais comprometido que as pessoas jovens, e essas dose é mais uma dose de reforço”, disse ele.
Vale dizer que já acontece a imunização com a quarta dose para pessoas imunossuprimidas na Paraíba.
VACINAÇÃO NO FUTURO
De acordo com Rodrigo Stabeli, antes de pensar em como vão acontecer as campanhas de vacinação contra a Covid-19, é preciso incentivar a população para completar o esquema vacinal, com as duas doses dos imunizantes.
Para o futuro, a expectativa é de que a vacinação ocorra a cada dois anos, segundo Rodrigo. “Isso sabendo da característica do coronavírus, que tem um baixo índice de mutação quando a gente compara com o vírus da gripe”, explicou ele ao T5.
***
Fazendo um balanço dos dois anos de pandemia, o vice-presidente da Fiocruz destacou que é preciso mudar para não cometer os mesmos erros do passado. Para isso, ele defende “uma ação multissetorial, uma força-tarefa interministerial para combater a doença" no Brasil. "Isso faltou, e falta ainda hoje", finalizou.