Candidatos podem receber doações através do PIX? Saiba o que diz o TSE
No Brasil, a legislação atual proíbe que empresas financiem campanhas
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou o uso do PIX para arrecadação de campanha nas Eleições Gerais de 2022. A iniciativa tem como objetivo oferecer maior facilidade para as pessoas físicas realizarem doações para financiar os projetos de seus candidatos preferidos. Apesar de reconhecerem que a medida agiliza o processo, especialistas acreditam que ela estimulará um volume maior de operações por impulso, colocando em risco a reputação dos doadores.
Para explicar a existência deste risco, Alexandre Pegoraro, representante da plataforma de compliance Kronoos, faz uma analogia com o trabalho desenvolvido pelo movimento Sleeping Giants Brasil criado na internet para cobrar empresas que patrocinam vídeos com discurso de ódio e desinformação. No mês de maio, a iniciativa anunciou ter chegado a um total de R$ 62 milhões desmonetizados em perfis extremistas. Este montante foi o resultado de dois anos de trabalho, período no qual foram emitidos 1.346 alertas de publicidade feitas por mais de mil empresas em ambientes que ostentavam este tipo de conteúdo ilegal.
“Muitos desses casos envolveram marcas sérias que tiveram suas peças publicitárias convivendo ao lado de influenciadores e comunicadores que defendiam teses nazistas, fascistas, racistas, homofóbicas e com uma série de outros problemas. Ao não tomarem o cuidado de conhecer a fundo os políticos com os quais querem colaborar financeiramente, os eleitores podem sofrer o mesmo tipo de desgaste na imagem já que terão seus nomes associados, mesmo que de forma indesejada, a este tipo de discurso caso eles ocorram”, explica.
O exemplo refere-se a sites, blogs ou perfis que se apresentam como veículos noticiosos e imparciais, mas que na prática são propagadores de fake news e na maioria estão ligados a interesses de partidos políticos. No caso do processo eleitoral brasileiro, a legislação atual proíbe que empresas financiem campanhas. Porém, seus executivos, na condição de cidadãos podem contribuir.
E é aí que está o perigo, pois ao escolherem o candidato errado, colocam em risco a imagem da empresa que eles representam. Por isso, não é exagero companhias de todos os portes, usarem os serviços de plataformas de tecnologia especializadas em compliance judicial com a finalidade de pesquisarem o histórico dos candidatos.
Segundo Pegoraro, o conhecimento prévio das atividades desenvolvidas pelos políticos até este momento pode apresentar indícios de que o envolvimento com atividades ou discursos reprováveis venha a ocorrer no futuro. Ele lembra o caso de um dos deputados mais polêmicos da atual legislatura. Antes de ganhar a eleição para representar o povo no Congresso ele foi preso por suspeita de venda ilegal de anabolizantes em academias e, depois de ter se tornado policial militar, recebeu 60 sanções disciplinares, 14 repreensões e duas advertências por comportamento inadequado na corporação. “Como ninguém quer ter seu nome ligado a atividades reprováveis, a melhor forma de se proteger é ter a informação antes de estabelecer um vínculo”, afirma.
O executivo argumenta que o chamado Risco Reputacional, que pode levar as empresas a terem muito prejuízo junto ao mercado e aos investidores, levou o mundo corporativo a desenvolver tecnologias capazes de realizar verdadeiras varreduras no passado de pessoas e empresas para tranquilizar os lados envolvidos na hora de fechar um negócio.
As plataformas de tecnologia especializadas em compliance judicial hoje em dia já são capazes de disponibilizar, a baixos custos, a possibilidade de fazer pesquisas por meio de mineração de dados e Inteligência Artificial. E nada impede que tais ferramentas sirvam para proteger o mundo corporativo das armadilhas da política.
“Ao se encantar com algum orador carismático, é recomendável utilizar essas ferramentas de pesquisa antes de passar um Pix endereçado à sua campanha. Caso contrário existe sempre a possibilidade de descobrir que o pacifista de hoje esconde manifestações não tão nobres no passado”, diz.