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Indícios de corrupção

Governo federal exonera suspeito de cobrar propina na compra de vacina

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo relatou que integrante do governo teria cobrado propina de US$ 1 por dose de vacina

Por Dennison Vasconcelos Publicado em
Roberto Dias, diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde
Roberto Dias, diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

O Ministério da Saúde anunciou, na noite dessa terça-feira (29), a exoneração do diretor de Logística da pasta, Roberto Dias. A decisão será publicada na edição desta quarta-feira (30) do Diário Oficial da União.

De acordo com o ministério, a exoneração foi decidida na manhã desta terça-feira. O fato, porém, foi comunicado pouco depois de reportagem do jornal Folha de S.Paulo relatar que Dias teria cobrado propina de US$ 1 por dose para fechar um contrato de compra de vacina. A afirmação foi feita por um representante de uma empresa que vende imunizantes.

Segundo a publicação, o representante é Luiz Paulo Dominguetti Pereira, da empresa Davati Medical Supply. A cobrança de propina teria ocorrido durante jantar em um restaurante de um shopping na área central de Brasília, em 25 de fevereiro.

A conversa foi para negociar 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, ao custo de US$ 3,50/cada (segundo a Folha, o valor subiria depois para US$ 15,50). Dominguetti definiu "o que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias" como "uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa".

"Eu falei que nós tínhamos a vacina, que a empresa era uma empresa forte, a Davati. E aí ele falou: 'Olha, para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo'. E eu falei: 'Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?' (...) Aí ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não composse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo (...) Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: 'Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma'", disse o representante. Questionado pela reportagem sobre qual seria a forma, ele respondeu: "Acrescentar 1 dólar".

Dominguetti ainda afirmou que é possível confirmar o encontro. "Se pegar a telemetria do meu celular, as câmeras do shopping, do restaurante, qualquer coisa, vai ver que eu estava lá com ele e era ele mesmo."

CPI da Covid

Após a publicação, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), classificou as acusações de "denúncia forte" e disse que a CPI vai convocar Dominguetti para depor ao colegiado na próxima sexta-feira (2). O vice-presidente, Randolfe Rodrigues, usou os termos "corrupção" e "ladroagem" e afirmou que apresentará requerimento para a convocação do representante da Davati.

Covaxin

A denúncia surge em meio às suspeitas sobre um outro contrato de compra de vacina. Na semana passada, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) contou ter procurado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) depois de ter sido avisado pelo irmão, Luis Ricardo Miranda, que é servidor do Ministério da Saúde, de um suposto esquema de superfaturamento envolvendo o imunizante indiano.

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, na última sexta-feira (25), o parlamentar contou que, na ocasião, o presidente teria dito que havia um interesse do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) no contrato.

Ainda de acordo com a reportagem, Roberto Dias foi indicado ao cargo por Barros. A nomeação do diretor ocorreu em 8 de janeiro de 2019, durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta (DEM). Após a publicação do material, o deputado usou as redes sociais para dizer que, à época da nomeação do funcionário, "não estava alinhado ao governo", não tendo sido responsável, por tanto, pela indicação, e que desconhece "totalmente a denúncia".

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