Bolsonaro repete discurso sobre liberdade e democracia após ataques à Folha
O presidente falou sobre o assunto durante solenidade na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ)
RESENDE, RJ (FOLHAPRESS) - Pelo segundo dia seguido, depois de ter excluído a Folha de uma licitação para a Presidência e ameaçar boicote aos anunciantes do jornal, o presidente Jair Bolsonaro repetiu neste sábado (30) um discurso sobre democracia e liberdade.
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Durante solenidade de entrega das espadas aos novos aspirantes na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), Bolsonaro disse que "não vai descansar" enquanto os países sul-americanos "não respirarem democracia e liberdade". "Parabéns a todos vocês, militares das nações amigas. Em especial da nossa América do Sul. Nós não descansaremos enquanto os países-irmãos não respirarem democracia e liberdade. Que os nossos povos não se deixem persuadir ou iludir pela facilidade. A democracia e a liberdade são o nosso oxigênio", disse o presidente.
Entre os 425 novos aspirantes da Aman, 11 eram de fora do Brasil, oriundos de Guiana, Namíbia, Angola, Honduras, Paraguai e Uruguai, segundo o discurso de Bolsonaro. Após o evento, o presidente não quis dar entrevista, repetindo postura adotada na sexta (29), em outro evento em Resende, na fábrica de combustível nuclear da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), e após comer um sanduíche em uma lanchonete local.
Mais cedo, em Três Corações (MG), o presidente também evitou a imprensa, mas fez discurso parecido, ao falar por cinco minutos aos sargentos combatentes da Escola de Sargentos das Armas. Aos formandos, Bolsonaro afirmou que, no passado, "nós lutamos por democracia e por liberdade e que, no futuro, se preciso for, daremos a nossa vida para que essa democracia e para que essa liberdade nunca deixe de existir entre nós".
"A América do Sul, no momento, ainda vive em alguns países momentos de crise. Mas nós venceremos tudo isso. Pela gratidão, pelo sentimento de irmandade que existe entre nós na América do Sul, nós brasileiros só estaremos felizes quando todos os países da América do Sul, o seu povo também gozar de liberdade e democracia", afirmou o presidente na cidade mineira.
Pouco antes, em Brasília, Bolsonaro ampliou as ameaças à Folha, ao dizer que boicota produtos de anunciantes do jornal e recomendar à população não comprá-los. "Eu não quero ler a Folha mais. E ponto final. E nenhum ministro meu. Recomendo a todo Brasil aqui que não compre o jornal Folha de S.Paulo. Até eles aprenderem que tem uma passagem bíblica, a João 8:32 [E conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará]. A imprensa tem a obrigação de publicar a verdade. Só isso. E os anunciantes que anunciam na Folha também", disse o presidente.
A declaração foi dada após a reportagem questionar Bolsonaro sobre a decisão da Presidência de excluir a Folha da relação de veículos nacionais e internacionais exigidos em um processo de licitação para fornecimento de acesso digital ao noticiário da imprensa.
Neste sábado, Bolsonaro mencionou novamente a passagem bíblica citada no dia anterior -e em outros momentos ao longo de seu mandato. "Tenho como lema aquilo que não é comum no meio político, a verdade. Adotei uma passagem bíblica, João 8:32, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. E essa liberdade nos libertou. Quis Deus que uma série de fatos acontecessem ao longo dessa nossa andança, quando aqueles que não têm o menor compromisso com a democracia e a liberdade tentaram abreviar minha carreira. Não conseguiram. Renasci em Juiz de Fora", disse o presidente, relembrando episódio durante a campanha presidencial em 2018, quando Adélio Bispo de Oliveira deu uma facada na barriga do então candidato do PSL em uma tentativa de assassiná-lo.
Na Aman, Jair Bolsonaro assistiu ao desfile da tropa e de bandeiras históricas do Brasil e entregou uma espada a um dos alunos que se destacaram na turma. O presidente iria almoçar no local e retornar a Brasília em seguida, segundo sua assessoria.
No fim da tarde desta sexta, o subprocurador-geral junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), Lucas Furtado, apresentou representação em que pede que a Folha não seja excluída da licitação da Presidência. Para o subprocurador, a retirada do jornal após promessa do presidente Jair Bolsonaro possui motivos que "desbordam dos estreitos limites da via discricionária do ato administrativo", além de ofender os "princípios constitucionais da impessoalidade, isonomia, motivação e moralidade".
Neste sábado, o PSB aprovou uma moção de repúdio ao ato de Bolsonaro de excluir a Folha de licitação do governo federal e por incitar boicote contra anunciantes. O partido estava reunido em conferência no Rio. "A declaração do presidente Bolsonaro corresponde, na prática, a uma espécie de restrição grave à liberdade de imprensa", afirmou Carlos Siqueira, presidente do PSB.
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