Bolsonaro diz que não falou 'nada demais' sobre pai de presidente da OAB
O presidente disse saber como o pai de Santa Cruz desapareceu durante a ditadura.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (2) que não falou "nada demais" sobre o pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
Em entrevista, ele disse que enviará ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), cópias das declarações em que criticou o militante de esquerda Fernando Cruz, desaparecido na ditadura militar.
Nesta semana, Bolsonaro citou o pai do presidente da entidade para reclamar sobre a sua atuação na investigação do caso Adélio Bispo, autor de facada desferida contra o então candidato na campanha eleitoral. O presidente disse saber como o pai de Santa Cruz desapareceu durante a ditadura.
"Mesmo eu não sendo obrigado [a prestar esclarecimentos], eu presto. Não falei nada demais. Eu vou entregar os vídeos, fazer a degravação e mandar", afirmou.
Barroso encaminhou uma interpelação a Bolsonaro para que ele esclareça "eventuais ambiguidades ou dubiedades" na crítica ao militante de esquerda, que integrava a ALN (Ação Libertadora Nacional).
O presidente chegou a dizer que Fernando não foi morto pelas forças militares, mas pelo próprio grupo de resistência ao regime ditatorial, o que foi desmentido por documentos da época.
"O que eu falei demais para vocês? Me responda. O que tive conhecimento na época. Eu ofendi o pai dele? Não ofendi o pai dele", disse.
O presidente lamentou todas as mortes ocorridas durante a ditadura militar, tanto na esquerda como na direita, e disse que nada disso teria ocorrido se não houvesse a "vontade de implantar o comunismo no Brasil".
"É uma verdade. A verdade dói, machuca. Agora, eu lamento todas as mortes que tiveram dos dois lados", disse.
Barroso deu um prazo de 15 dias para Bolsonaro responder à interpelação. A decisão atendeu a pedido de Felipe, que, de acordo com o despacho. se sentiu pessoalmente ofendido e entendeu que houve crime de calúnia contra a memória de seu pai.
Fernando desapareceu na época da ditadura militar depois de ser preso por agentes do Estado. Até hoje, sua morte é um mistério e seu corpo nunca foi encontrado.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)