Polícia pede internação cautelar de adolescente baleado nas duas pernas durante abordagem
Justiça negou apreensão, mas menor ainda pode responder por três crimes. Caso aconteceu no dia 21 de outubro, em Campina Grande
O adolescente de 14 anos baleado nas duas pernas durante uma abordagem policial deve responder pelos crimes de resistência à prisão, desacato e lesão corporal, conforme o inquérito da Polícia Civil da Paraíba enviado à Justiça. A defesa do menor alega que a vítima está sendo tratada como criminoso.
O adolescente ficou nove dias internado no Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande, com ferimentos provocados por tiros nas duas pernas. Ele recebeu alta na última sexta-feira (30). O laudo com informações de quantos disparos foram realizados ainda não foi emitido, no entanto, a família alega que o jovem foi atingido seis vezes.
Pedido de apreensão
No inquérito enviado à Justiça, as investigações afirmam que o menor desacatou, agrediu e xingou um dos policiais no quintal de uma residência. A polícia solicitou internação cautelar, que foi negada pelo juiz Hugo Gomes Zaher.
A defesa do adolescente acredita que existe uma inversão dos papéis de réu e acusado. "É lamentável que uma criança de 14 anos tenha sua vida e carreira em risco em virtude de uma abordagem policial truculenta e negligente. É inacreditável e inadmissível que além de todos os transtornos causados, o adolescente ainda tenha imputados sobre ele três crimes. É tratar a vítima como criminoso.", disse o advogado Warlen Andrade André.
O Portal T5 teve acesso ao texto do inquérito em que a polícia afirma que o adolescente derrubou o agente armado. Veja:
— Na oportunidade, enquanto tentava forçar a rendição do adolescente, este, não obedecendo a ordem, se aproximou do policial e o desacatou proferindo as seguintes palavras “policial b*****”; “você não é homem para atirar” (sic). No mesmo momento, o adolescente entrou em luta corporal com o policial, desferindo socos em seu rosto e derrubando-o, causando-lhe lesões corporais, como consta no laudo juntado aos autos. Ante a ação do jovem, com o intuito de contê-lo, o policial desferiu tiros em suas pernas, oportunidade em que os demais policiais se aproximaram e apreenderam o adolescente.
No período de internação, o menor não foi ouvido pela Justiça. Uma audiência on-line está marcada para o dia 17 de novembro.
O juiz Hugo Gomes Zaher solicitou apuração quanto a responsabilidade do policiais na operação.
Relembre o caso
No dia 21 de outubro, o adolescente foi atingido por tiros nas duas pernas por um policial civil durante um mandado de prisão.
Após o crime, em um vídeo, o delegado Kelsen Vasconcelos revelou que o adolescente foi abordado pelos policiais, mas mostrou resistência e tentou fugir. O delegado disse que faltou respeito à polícia. Em nota, o órgão ainda afirmou que houve "luta corporal com o agente de investigação" e que o adolescente tentou "tomar-lhe a arma e atentar contra a vida do policial".
A família nega a versão da polícia. À época, em entrevista, parentes disseram acreditar que o jovem foi confundido. "Os policiais estavam sem identificação e foram prender um homem que trabalhava como borracheiro. Meu filho estava no local, se assuntou e correu", disse José da Silva, pai do adolescente.
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O alvo dos policiais era um foragido da polícia com quatro mandados em aberto de prisão. Ele foi detido sem qualquer uso da força pelos agentes.
Futuro jogador
Marcos Antônio é aluno de uma escolinha de futebol e estava às vésperas de se apresentar em um clube do estado de Alagoas, o CSA. O teste do adolescente marcado, inicialmente, para janeiro de 2021 deve ser adiado para depois das sessões de fisioterapia.
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