"Minha neta estava armada por acaso?"; questiona avô de menina morta por polícia no RJ
O corpo de Ágatha deve ser enterrado às 16h deste domingo (22)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Parentes de Ágatha Félix, 8, negam a versão da polícia de que a menina fora atingida em meio a troca de tiros, na noite de sexta-feira (20). Indignados, moradores do Complexo do Alemão protestaram ontem contra a violência policial. Há outra manifestação marcada para hoje, às 13h.
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Aílton Félix, avô da criança, que foi baleada nas costas quando voltava para casa com a mãe, entrou em desespero ao receber a notícia. Em vídeo, registrado pela TV Globo, ele chora inconformado e afirma que a polícia atirou em sua neta.
"Mais um na estatística", afirmou o avô. "Vai chegar amanhã e dizer que morreu uma criança no confronto. Que confronto? Confronto com quem? Porque não tinha ninguém, não tinha ninguém. Ele atirou por atirar na kombi. Atirou na kombi e matou minha neta. Isso é confronto? A minha neta estava armada por acaso para poder levar um tiro?".
Os moradores que testemunharam o ocorrido também contestam a versão da polícia e afirmaram que não houve troca de tiros. Segundo eles, os policiais desconfiaram de um motociclista e abriram fogo contra a moto. "Foi a filha de um trabalhador, tá? Ela fala inglês, tem aula de balé, era estudiosa. Ela não vivia na rua não. Agora vem um policial aí e atira em qualquer um que está na rua. Acertou minha neta. Perdi minha neta. Não era para perder ela, nem ninguém", disse o avô também na madrugada de sábado.
Ágatha é a quinta criança a morrer baleada no Rio de Janeiro este ano, segundo dados do aplicativo Fogo Cruzado, que monitora a violência armada no grande Rio. No fim da tarde de sábado, a OAB-RJ divulgou nota criticando a política de segurança do governo Wilson Witzel (PSC). "A OAB-RJ lamenta profundamente que horas antes da morte de Ágatha o governador tenha dito, conforme informou a imprensa, que promoveria 'combate e caça' nas comunidades", diz a entidade.
Para a OAB, a política "afronta os parâmetros básicos de civilidade". "A morte de Ágatha evidencia mais uma vez que as principais vítimas dessa política de segurança pública, sem inteligência e baseada no confronto, são pessoas negras, pobres e mais desassistidas pelo Poder Público".
Em nota, a Polícia Militar afirma que, por volta das 22h desta sexta-feira (20), equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Fazendinha "foram atacadas de várias localidades da comunidade de forma simultânea. Os policiais revidaram à agressão".
O corpo de Ágatha está sendo velado no cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio. O enterro está marcado para 16h.
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