Servidores de Pilões já haviam denunciado condições precárias de ônibus antes de acidente que matou adolescentes
O acidente deixou dois adolescentes mortos e outros 31 feridos no último dia 1º de abril

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Documentos oficiais e relatórios públicos mostram que as condições precárias dos ônibus contratados para fazer o transporte de estudantes e pacientes da cidade de Pilões, no interior da Paraíba, já haviam sido denunciadas antes do acidente que deixou dois adolescentes mortos e outros 31 feridos no último dia 1º de abril.
As denúncias apontam que a situação dos veículos era de conhecimento da administração pública municipal. José, servidor da Prefeitura de Pilões e motorista de ônibus, relatou que, ao assumir a função, encontrou veículos em más condições de trabalho.
“Eu percebi que o veículo ao qual teriam me designado tinha algumas falhas mecânicas, questão de pneus e de freio. Quando a gente pisava no freio, o ônibus saía meio de lado. Essas coisas foram me chamando atenção, porque transportar vidas não é brincadeira. A gente carrega o bem mais precioso de quem fica em casa”, afirmou o motorista.
Preocupado com a situação, José gravou vídeos com o próprio celular mostrando os problemas mecânicos enfrentados no dia a dia. Nas imagens, é possível ver pneus em estado crítico, com deformações visíveis, e falhas graves no sistema de freios.
“Já faz mais de 15 dias que eu peço a manutenção nesse micro-ônibus que trabalho e até agora nada. O ônibus está freando com apenas uma roda. As demais não têm freio. Está colocando a minha vida e a vida dos alunos em risco”, denunciou.
A primeira denúncia formal foi protocolada no dia 3 de dezembro do ano passado, cobrando esclarecimentos sobre as irregularidades e exigindo providências para garantir a segurança dos passageiros.
Dez dias depois, uma nova denúncia foi apresentada, reforçando os problemas e a necessidade de intervenção imediata.
Segundo José, embora o problema tenha se iniciado na gestão anterior, a atual administração deveria ter sido mais atenta durante o processo de transição de governo.
“De uma gestão para outra existe a transição e a equipe de transição não pode ter deixado passar despercebido um assunto tão sério, ainda mais com um protocolo registrado”, ressaltou.
Motoristas recém-contratados pela prefeitura relataram ainda que, após a repercussão do caso, tiveram uma gratificação cortada. Em 7 de fevereiro deste ano, a gestão municipal convocou uma reunião com a categoria, mas o ofício protocolado junto ao Ministério Público não foi recebido e os apelos dos profissionais, segundo eles, não foram atendidos.
Os ônibus utilizados pertencem a uma empresa terceirizada, contratada pela Prefeitura de Pilões. O contrato com o legislativo municipal havia sido encerrado em 31 de dezembro do ano passado, mas a frota continuava operando em caráter emergencial até a conclusão de um novo processo licitatório.
A falta de resposta efetiva às denúncias e o uso continuado dos veículos em condições inadequadas acendem o alerta sobre a responsabilidade na fiscalização e manutenção dos transportes públicos, especialmente aqueles destinados ao transporte de crianças e adolescentes.