Elizabeth Teixeira: 100 anos da mulher marcada para viver
Conheça a trajetória de uma mulher que se tornou um símbolo de resistência e esperança para a classe trabalhadora rural do Brasil
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O centenário de Elizabeth Altino Teixeira, líder da Liga dos Camponeses de Sapé, é celebrado nesta quinta-feira (13). Sua trajetória foi marcada pela luta e resistência em busca de transformação social, enfrentando intensa perseguição política após o assassinato de seu marido durante a ditadura civil-militar brasileira.
Uma trajetória de luta e resistência
Casada com o lavrador João Pedro Teixeira, com quem teve 11 filhos, vivenciou os desafios da militância sindical desde os primeiros anos de casamento. Em 1958, João fundou a Liga Camponesa de Sapé, organização voltada à defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. No entanto, sua atuação fez dele um alvo de opositores poderosos, culminando em seu assassinato em 1962, a mando do latifundiário Agnaldo Veloso Borges.
Após a morte do marido, Elizabeth assumiu a liderança da Liga Camponesa, ampliando a organização e fortalecendo a resistência camponesa na região. No entanto, sua luta tornou-se ainda mais arriscada após o golpe militar de 1964. Perseguida, ela foi presa e, posteriormente, forçada a viver na clandestinidade por 17 anos, sob a identidade falsa de Marta Maria da Costa. Mesmo escondida no Rio Grande do Norte, manteve-se ativa na militância.
A história no cinema
Em 1964, o documentarista Eduardo Coutinho iniciou as gravações de Cabra Marcado para Morrer, com moradores de Sapé interpretando seus próprios papéis. Inicialmente, o filme tinha como objetivo recriar a trajetória de João Pedro Teixeira, com Elizabeth no papel de si mesma. No entanto, com o golpe militar, as filmagens foram interrompidas. Tropas invadiram o Engenho Galileia, onde as gravações aconteciam, equipamentos foram apreendidos e parte da equipe foi presa sob a acusação de produzir um filme comunista financiado por Cuba.
Elizabeth fugiu, mas foi capturada dias depois. Sua casa foi incendiada, e ela passou oito meses na prisão. Ao sair, soube do assassinato de outros dois líderes da Liga Camponesa, Pedro Inácio de Araújo e João Alfredo Dias, o Nego Fubá. Temendo pela segurança dos filhos, tomou uma decisão drástica: fugiu, deixando-os aos cuidados de parentes.
Nos 17 anos seguintes, viveu escondida no Rio Grande do Norte, sob a identidade falsa de Marta Maria da Costa. Mesmo na clandestinidade, manteve-se ativa na militância, apoiando o sindicato local.
Em 1981, Eduardo Coutinho retomou as gravações de Cabra Marcado para Morrer, agora com uma nova abordagem. O documentário passou a retratar a vivência de Elizabeth, que superou a violência do Estado e do latifúndio em nome da justiça social. O reencontro com os filhos, espalhados pelo Brasil, emocionou o público e consolidou Elizabeth como um símbolo da resistência camponesa.
Legado vivo na luta pela terra
A trajetória de Elizabeth Teixeira segue como um símbolo da resistência camponesa e da luta pela reforma agrária no Brasil. Seu centenário não apenas celebra sua vida, mas reforça a necessidade de manter viva a memória daqueles que enfrentaram a repressão em defesa de um país mais justo e igualitário. Com eventos que misturam cultura, debate e reflexão, a programação em Sapé reafirma o papel de Elizabeth como um exemplo de coragem e perseverança para as novas gerações.
O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas realiza uma programação especial para celebrar o centenário de Elizabeth Teixeira, destacando sua trajetória na luta pela terra.
13 de fevereiro – A partir das 15h, haverá apresentação de Glaucia Lima, seguida de homenagem a Elizabeth e encerramento com show de Escurinho.
14 de fevereiro – A programação inclui lançamentos de livros e do acervo digital, abertura da exposição 100 Faces de Uma Mulher Marcada para Viver, a Marcha da Memória Camponesa e apresentações culturais, com destaque para Naldinho Freire e Coco Caiana dos Crioulos.
15 de fevereiro – O último dia contará com a Feira Cultural da Agricultura Familiar Camponesa, apresentações musicais e um ato político com autoridades, encerrando com shows de Oliveira de Panelas, Coral Voz Ativa e Sandra Belê.