João Pessoa se destaca como destino Turístico em "queridinho" no Nordeste

Cidade experimenta também aumento no número de novos moradores (Foto: Reprodução / Turismo João Pessoa)

João Pessoa, a capital da Paraíba, que durante anos foi ofuscada por destinos vizinhos como Recife, Natal e Maceió, agora é considerada uma das principais joias do turismo nordestino. Antes conhecida por praias tranquilas e orla com hotéis simples e prédios baixos, a cidade experimenta uma transformação visível nos últimos anos, atraindo cada vez mais turistas, novos moradores e investimentos, e conquistando uma posição de destaque nas listas internacionais de destinos em alta.

A grande reviravolta da cidade começou a ser notada nos últimos anos, quando a cidade foi incluída na lista da Booking.com de "destinos em alta", ocupando o terceiro lugar no ranking global. O impacto de tal reconhecimento é palpável: a procura por João Pessoa aumentou consideravelmente, fazendo com que as autoridades locais projetassem uma taxa de ocupação hoteleira de quase 100% durante a alta temporada, que vai de dezembro a fevereiro.

Além do crescimento no setor turístico, a cidade experimenta também um aumento significativo no número de novos moradores. De acordo com o Censo 2022, João Pessoa registrou um aumento de 110 mil habitantes nos últimos 12 anos, o maior crescimento entre as 20 cidades mais populosas do Brasil. Esse aumento populacional é impulsionado, em parte, pela chegada de aposentados e profissionais que podem trabalhar remotamente, muitos dos quais se encantaram com a cidade durante viagens turísticas.

A transformação da capital paraibana tem sido impulsionada por um conjunto de fatores, como melhorias na infraestrutura urbana, campanhas de marketing bem-sucedidas e um investimento crescente da iniciativa privada, principalmente na construção civil. A cidade, que antes era vista como uma alternativa de passeio para turistas que se hospedavam em outros destinos do Nordeste, agora surge como uma opção atraente por si mesma, com um apelo crescente nas redes sociais, onde moradores e turistas compartilham vídeos e fotos das suas experiências.

Impacto no Turismo e na Economia Local

Com a chegada de novos empreendimentos e a reforma de antigos espaços turísticos, a cidade tem se tornado um centro de luxo, com novos hotéis, resorts, beach clubs e restaurantes sofisticados. Esse crescimento é evidente nas áreas como a Praia de Cabo Branco e a Barra de Gramame, onde novos prédios de luxo e empreendimentos imobiliários estão surgindo rapidamente. Na orla, que antes se destacava pela simplicidade, agora as ruas estão cada vez mais movimentadas, e as praias mais frequentadas.

No entanto, a evolução de João Pessoa também tem gerado alguns desafios. A cidade enfrenta agora congestionamentos, com o trânsito se tornando um problema constante, algo que a professora Adriana Brambilla, da Universidade Federal da Paraíba, tem observado diretamente. "Estamos experimentando congestionamentos que nunca havíamos visto antes. Em alguns dias, o trânsito leva quase uma hora em percursos que antes eram feitos em 15 minutos", comenta. Além disso, os preços também dispararam, especialmente no mercado imobiliário, o que se reflete na alta de custos para moradores e turistas.

O setor turístico, por sua vez, também experimenta um boom na demanda por experiências exclusivas, com novos atrativos como piscinas naturais, bancos de areia e os novos empreendimentos de lazer. No entanto, esse crescimento vem acompanhado de críticas quanto ao impacto ambiental. Pesquisadores têm apontado que o novo polo turístico, em construção no extremo sul da cidade, pode provocar danos à vegetação nativa, ao assoreamento de rios e ao impacto em comunidades de pescadores locais.

O Desafio da Sustentabilidade no Crescimento Turístico

A construção de resorts, parques aquáticos e shopping centers no Polo Turístico de Cabo Branco, por exemplo, é vista como uma grande oportunidade de desenvolvimento econômico, mas também como um risco para o equilíbrio ambiental da região. A prefeitura de João Pessoa tem tentado equilibrar esse crescimento com iniciativas de sustentabilidade, mas a pressão sobre os recursos locais, como o aumento da urbanização e o consumo de água e energia, já está começando a ser sentida. Em resposta, a cidade tem investido em melhorias na infraestrutura de transporte público, como o sistema BRS (Bus Rapid System), e em novas vias para tentar aliviar o trânsito.

Em 2024, João Pessoa também teve a segunda maior valorização imobiliária entre as capitais brasileiras, com um aumento de 16,13%, atrás apenas de Curitiba. Apesar disso, imóveis à beira-mar ainda são mais baratos em comparação com outras cidades como Fortaleza, o que continua atraindo investidores e turistas à cidade. Muitos desses novos moradores veem em João Pessoa a chance de usufruir de uma boa qualidade de vida, com praias paradisíacas e uma atmosfera tranquila, mas agora com infraestrutura e opções de lazer modernas.

A Nova Imagem de João Pessoa e os Riscos do Turismo Predatório

O grande salto de João Pessoa no cenário turístico não veio sem desafios. Para o ex-secretário de Turismo da cidade, Roberto Brunet, a mudança aconteceu após a pandemia de Covid-19, quando houve uma busca por destinos menos saturados. A capital paraibana, com sua oferta diversificada de praias, cultura e gastronomia, se apresentou como uma novidade no mercado, especialmente em comparação com outros destinos do Nordeste, que já estavam saturados de turistas. "As pessoas estavam cansadas de repetir os mesmos destinos, e João Pessoa apareceu como uma opção nova e promissora", afirma Brunet.

No entanto, o crescimento rápido tem gerado preocupações sobre o turismo predatório e seus impactos socioambientais. A cidade tem a oportunidade de aprender com os erros de outros destinos turísticos da região e pode, assim, buscar alternativas para um desenvolvimento sustentável. "Esse é o momento de agir com profissionalismo, para que o turismo em João Pessoa não seja passageiro e prejudicial ao meio ambiente", destaca Brunet. A professora Brambilla concorda, acrescentando que "a cidade só será boa para o turismo se continuar sendo boa para a população", ressaltando a importância de equilibrar os benefícios econômicos com a preservação da qualidade de vida para os moradores locais.