Paraíba já foi atingida por tsunami, diz estudo; Lucena foi a cidade mais afetada
Na praia de Lucena, as ondas, que chegaram a medir até 1,8 metros, de acordo com a pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)
A Paraíba possui um registro histórico singular, de acordo com pesquisadores Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj): foi uma das áreas atingidas pelo único tsunami documentado no Brasil, em 1755, após o devastador terremoto que destruiu Lisboa, em Portugal. O evento trouxe ondas gigantes que avançaram por até quatro quilômetros no interior do estado, afetando localidades como a praia de Lucena.
Na madrugada desta segunda-feira (2), um fenômeno climático conhecido como tsunami meteorológico foi registrado em Jaguaruna, cidade localizada no litoral sul de Santa Catarina. Com isso, o assunto do estudo da UERJ, publicado em 2020, voltou à tona.
O impacto do tsunami de 1755 na Paraíba
Segundo o estudo, na tarde de 1º de novembro de 1755, um tsunami atingiu a costa nordestina do Brasil, sendo a Paraíba uma das regiões mais afetadas. Na praia de Lucena, as ondas, que chegaram a medir até 1,8 metros, destruíram casas modestas e avançaram cerca de 300 metros terra adentro, de acordo com a pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Cartas históricas, como as do arcebispo da Bahia e do governador da Paraíba, relatam os danos causados pelo fenômeno. Uma delas descreve: "Em Lucena e Tamandaré, a enchente do terremoto entrou pela terra adentro coisa de uma légua (4 a 5 km), levando casas de palhoça e desaparecendo com uma mulher e um rapaz."
Pesquisas recentes identificaram evidências geológicas do evento, como camadas de areia grossa e microfósseis em praias paraibanas, confirmando o impacto do tsunami. Esses vestígios foram encontrados após análises detalhadas em 22 praias entre o Rio Grande do Norte e Pernambuco, com destaque para Lucena.
O professor José Alberto Vivas Veloso, ex-chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), explicou que as condições geológicas do Atlântico dificultam a formação de tsunamis com força para atravessar o oceano. Ele destacou que, mesmo no pior cenário de colapso do vulcão, as ondas perderiam força antes de alcançar a costa brasileira.
Um estudo publicado pela Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) reforça essa análise, afirmando que tsunamis provocados por erupções vulcânicas são raros e geralmente localizados. Além disso, eventos desse tipo em La Palma já foram discutidos no passado, mas sempre com uma probabilidade considerada ínfima.
A Paraíba tem sido referência nos estudos sobre tsunamis no Brasil, especialmente pela riqueza de dados históricos e geológicos relacionados ao evento de 1755. Na praia de Pontinhas, por exemplo, pesquisadores identificaram camadas de areia e elementos químicos que só poderiam ter sido depositados por ondas gigantes.
Esses achados contribuem para compreender fenômenos naturais e reforçar a necessidade de monitoramento e estudos sobre o litoral nordestino. Ainda que o risco de tsunamis seja considerado baixo, a história mostra que a região não está completamente imune a fenômenos extremos.