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Redescobrindo João Pessoa: conheça as pegadas negras e indígenas na capital paraibana

Nomes de bairros a pontos de memórias, saiba mais sobre as influências negras e indígenas da história pessoense

Por Gabriela Lins Publicado em
Igreja rosario pretos destruida
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, foi demolida 1923 e funcionava onde hoje é o Ponto de Cem Reis

João Pessoa, capital da Paraíba, completa 439 anos nesta segunda-feira (5). A cidade, conhecida por suas belas praias e rica história, tem fortes influências de culturas negra e indígena. Em comemoração ao aniversário, o portal T5 conversou com Felipe Coutinho, um dos idealizadores do Apuama Turismo, que criou o roteiro intitulado "Caminhada Jampa Negra".

Felipe Coutinho, que é artista visual e guia de turismo, contou que a ideia da Apuama Turismo surgiu durante seu curso de design gráfico, quando realizava registros fotográficos de comunidades ribeirinhas. “Dentro dessas vivências, percebi que dava para fazer roteiros turísticos, algo que a comunidade já desenvolvia dentro de uma perspectiva de turismo de base comunitária, que hoje chamamos de afroturismo”, explica.

Há dois anos, Felipe conheceu Bárbara e Danilo, que já desenvolviam a Caminhada Jampa Negra no Centro Histórico de João Pessoa, destacando pontos de memória da população negra e indígena. Bárbara identificou elementos da cultura Iorubá na fachada por trás da Igreja de São Francisco, o que motivou Felipe a se aprofundar no projeto.

Com Bárbara e Danilo fora do estado, a responsabilidade pela continuidade da Caminhada Jampa Negra recaiu sobre Felipe. Ele assumiu o guiamento dos passeios, que já são realizados há mais de três anos. Além da Caminhada Jampa Negra, Felipe menciona a Rota Sankofa Paraíba, e o lançamento da Rota Raízes do Catolicismo Negro, previsto para o dia 5 de agosto.

A Caminhada Jampa Negra percorre cinco pontos de memória: Ponto de Cem Réis, Igreja da Misericórdia, Praça Barão do Rio Branco, Igreja de São Francisco e Ateliê Multicultural Elionai Gomes. Esses locais foram selecionados por Danilo e Bárbara, e Felipe continua a guiar os visitantes por essa rica jornada histórica.

Por falar em jornada histórica, Jinarla é uma artista paraibana com uma profunda conexão com a cultura popular e a arte de rua. Em 2024 ela idealizou o projeto "Bora Conhecer a História Negra de João Pessoa", a série de vídeos nasceu de uma necessidade pessoal de explorar e entender mais profundamente as raízes negras de sua cidade natal.

Jinarla compartilha que, ao longo de sua trajetória, ela percebeu a ausência de uma memória coletiva que representasse a contribuição da população negra na construção da cidade de João Pessoa. Ela ressalta: "Quando a gente não tem memória, não sabe a nossa história, a gente não tem como ter raízes, não tem como se identificar se a gente só tem essa identidade construída a partir do que a gente tem como referência."

Essa ausência de referência, especialmente nas grandes mídias, fez com que ela sentisse a necessidade de criar algo que pudesse preencher essa lacuna. Assim, a ideia de uma série de vídeos surgiu como uma forma de pesquisa e produção artística. Jinarla menciona que a série foi idealizada e produzida por ela mesma.

Um dos momentos mais emocionantes para Jinarla foi a criação do vídeo sobre João Balula, uma figura emblemática da cultura popular em João Pessoa. A história de Balula, um homem negro, LGBT e envolvido com a cultura popular, ressoou profundamente com ela, especialmente por ter descoberto a forma desumana com que ele foi tratado enquanto estava internado com AIDS.

A série de vídeos tem sido um sucesso, e seu último vídeo será lançado no dia do aniversário de João Pessoa, abordando a reflexão crítica sobre a contribuição negra na construção da cidade, um tema que Jinarla considera de extrema importância.

A influência indígena em João Pessoa é profunda e multifacetada, marcando não apenas a história, como também a cultura e o cotidiano da cidade. Os povos indígenas, como os Potiguaras e Tabajaras, desempenharam papéis cruciais na defesa de suas terras e tradições frente às tentativas de colonização e escravização.

A resistência desses grupos não se limitou ao combate físico, mas também envolveu a preservação de suas culturas, línguas e práticas espirituais, influenciando diretamente a configuração social e territorial da região. Essa resistência é refletida na identidade local, presente em elementos como a gastronomia e os nomes dos bairros.

Exemplos notáveis incluem:

  • Tambaú: de origem Tupi significa "curso de água ou rio" ou "águas das conchas".
  • Jaguaribe: significa "na água de onça", a partir dos termos Tupi îagûara (onça), 'y (água, rio) e pe (em).
  • Manaíra: pode significar "mel cheiroso" ou "abelha cheirosa", derivando de termos indígenas relacionados ao cheiro forte e agradável.
  • Tambiá: significa "olho-d'água" e é associado a uma lenda sobre um guerreiro indígena chamado Tambiá.

Além disso, o artesanato indígena, que inclui cerâmica, tecelagem e trabalhos em palha, influencia o design e as técnicas usadas por artesãos locais em João Pessoa. Peças de artesanato que refletem técnicas e estilos indígenas podem ser encontradas em feiras e mercados de artesanato.



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