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Relatório aponta potencial de restauração da Caatinga no Cariri paraibano

Além de recuperar a paisagem e sua capacidade de prover serviços ecossistêmicos, a restauração também é vista como uma oportunidade de emprego e renda para a população local

Por Carlos Rocha Publicado em
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Relatório aponta potencial de restauração da Caatinga no Cariri paraibano

Um relatório sobre oportunidades para restauração da Caatinga no Cariri Ocidental, no estado da Paraíba, no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, e no Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte, comprova o potencial de restauração do bioma. Além de recuperar a paisagem e sua capacidade de prover serviços ecossistêmicos, a restauração também é vista como uma oportunidade de emprego e renda para a população local.

Somando os três territórios, as oportunidades de restauração cobrem quase meio milhão de hectares. A regulação hídrica, a estabilização do solo e o controle da erosão, promovidos pela vegetação nativa, são alguns dos serviços ecossistêmicos que, junto aos arranjos de restauração com fins produtivos, podem oferecer oportunidades econômicas sustentáveis, proporcionando renda e empregos para as populações locais.

“A conservação e a restauração da paisagem na Caatinga são cruciais para a resiliência climática, a segurança hídrica e a sobrevivência de suas comunidades”, explica Luciana Alves, Coordenadora de Projetos do WRI Brasil e uma das autoras do estudo. “Pela forte intersecção com a agenda climática, a restauração da Caatinga poderá se beneficiar significativamente de recursos internacionais e privados destinados ao fortalecimento dessa agenda”, salienta.

O estudo sobre restauração faz parte do Programa Raízes da Caatinga e foi promovido pela IDH com apoio do WRI Brasil. A partir da aplicação da metodologia ROAM, foram elencados sete diferentes arranjos de restauração com melhores resultados para os territórios: Sistema AgroFlorestal (SAF) forrageiro, tendo a palma forrageira (Opuntia fícus-indica) como espécie principal; SAF Melífero, focado em espécies para apicultura e meliponicultura; SAF Frutífero, combinando árvores com espécies frutíferas, forrageiras e agrícolas; Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) de caprinocultura com produção de forragem e árvores; Regeneração Natural Assistida (RNA); Restauração Ativa, com plantio de mudas e/ou sementes em áreas totais; e a Restauração Hidroambiental, baseada em intervenções para reverter a degradação e restaurar solo e vegetação.

No Cariri Ocidental (PE), a restauração produtiva, especialmente SAFs e ILPF, totaliza quase 60 mil hectares. No Sertão do Pajeú (PB), a restauração ecológica predomina, com 83 mil hectares, especialmente nas áreas mais áridas e com escassez de água. A restauração ativa cobre cerca de 11 mil hectares, concentrada nas margens dos rios, e a RNA ocupa quase 8 mil hectares distribuídos por todo o território. No Sertão do Apodi (RN), a restauração produtiva está distribuída principalmente nas regiões próximas aos rios, com destaque para os SAFs forrageiro e melífero. A restauração hidroambiental é a mais significativa, cobrindo cerca de 87 mil hectares.

A análise financeira dos cenários de restauração mostrou que os arranjos produtivos como a ILPF focada na caprinocultura leiteira são uma opção atrativa a longo prazo, já que têm potencial de retorno significativo, embora os custos iniciais e de manutenção sejam elevados. No caso do Sistema Agroflorestal (SAF) forrageiro, os custos são mais baixos e o retorno do investimento é mais rápido, constituindo-se em uma alternativa viável e sustentável para muitas famílias. Essas duas oportunidades de restauração são cruciais para a produção de alimentos, produtos madeireiros e nutrição animal, fortalecendo as cadeias produtivas ao mesmo tempo em que promovem a conservação ambiental.

“A restauração da Caatinga não pode ser financiada apenas pelos produtores rurais, que muitas vezes possuem recursos limitados para a implementação dos arranjos. Desenvolver modelos financeiros que considerem subsídios, incentivos fiscais e apoio governamental é essencial para garantir que a restauração seja acessível e inclusiva”, adverte Grazielle Cardoso, Gerente de Programas da IDH.

Os arranjos de restauração sugeridos resultam da combinação da tecnologia com a tradição. As comunidades rurais do bioma desenvolveram, ao longo dos séculos, um valioso conhecimento tradicional para sobreviver a condições climáticas adversas. Oficinas de escuta e visitas a experiências locais serviram para identificar esse conhecimento e também fatores ambientais, sociais, políticos e culturais relevantes para estabelecer oportunidades de restauração alinhadas com as motivações das comunidades locais. A aplicação da metodologia teve início em outubro de 2023 e durou cerca de 8 meses. Confira o estudo completo em https://raizesdacaatinga-restauracao-worldresources.hub.arcgis.com/

A Caatinga

Dos seis biomas que ocupam o território nacional, a Caatinga é o único exclusivamente brasileiro. Ocupando aproximadamente 850 mil km², ela é a região do semiárido mais densamente povoada do mundo: aproximadamente 27 milhões de pessoas vivem nela.

A Caatinga abriga uma variedade impressionante de vida selvagem, com cerca de 1,4 mil espécies nativas de animais vertebrados e quase 3,2 mil espécies de plantas, das quais uma parcela significativa é exclusiva desse bioma. Mas ela sofre com o desmatamento e a degradação. Estima-se que ela já perdeu mais da metade da sua vegetação nativa, e a parcela ainda presente encontra-se, em sua maioria, degradada. Menos de 2% do território é coberto por áreas de proteção ambiental integral, embora seja um dos seis ambientes mais vulneráveis do mundo à variabilidade climática.

Raízes da Caatinga

O Programa Raízes da Caatinga é conduzido pela IDH em parceria com o WRI Brasil e a Diaconia. É uma iniciativa que busca reunir entidades e pessoas dos setores público e privado e da sociedade civil, estruturada em compromissos territoriais para promover o desenvolvimento sustentável e a restauração e conservação do bioma.

O programa incentiva que os atores locais dos territórios nas três paisagens participem de um processo de articulação e da formação de uma coalizão, com estabelecimento de metas conjuntas por meio da construção e assinatura de pactos sociais estruturados nos eixos Produzir, Proteger e Incluir (PPI). Para o eixo “Proteger”, uma das atividades previstas é justamente a identificação das oportunidades de restauração nos territórios a partir da aplicação da metodologia de Avaliação das Oportunidades de Restauração (ROAM, sigla em inglês), que prevê a identificação e participação de atores locais.

O mapeamento desses atores nos três territórios aconteceu por meio de um processo participativo que incluiu a realização de oficinas que, destacadas por uma expressiva participação feminina (52%), permitiram a definição de metas coletivas focadas na recuperação de paisagens degradadas na Caatinga.

Foram identificadas 261 instituições, coletivos e organizações atuando em temas relacionados à restauração e conservação nos três territórios, sendo 75 no Cariri Ocidental, 97 no Sertão do Pajeú e 89 no Sertão do Apodi. Essas entidades englobam uma diversidade de organizações públicas, instituições privadas (com e sem fins lucrativos), organizações locais e representantes da sociedade civil



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