Em novo livro, autora da PB critica sensacionalismo na cobertura de feminicídios pela TV
Mabel Dias cita características da cultura patriarcal na estruturação da sociedade.
A crescente onda de violência contra mulheres tem chamado atenção de especialistas em todo país. O assunto, inclusive, está presente no cotidiano da sociedade através das produções televisivas denominadas como policialescas. Da Paraíba, a jornalista Mabel Dias investigou o programa Alerta Nacional, exibido pela Rede TV!. O objetivo é entender como produção e apresentador divulgaram casos de violência contra as mulheres. Assim, identificar a existência ou não de conteúdo que violava e desinformava sobre os direitos humanos das vítimas e sobreviventes da violência de gênero.
Para Mabel, mídia e a imprensa concentram “um papel importante na denúncia dos casos de violência contra as mulheres”. Ela avalia que: “infelizmente, o que acontece, é a culpabilização das mulheres vítimas ou sobreviventes de violência por parte de alguns veículos de comunicação, principalmente dos programas classificados como policialescos. Como estes programas não têm como objetivo principal, informar, mas sim, gerar audiência e lucro para as empresas que os produzem, não há o cuidado ético, a responsabilidade social em denunciar a violência e informar as mulheres como conseguir ajuda, informar sobre a lei Maria da penha, das delegacias da mulher, enfim, de fornecer informações qualificadas para que aquela mulher vítima de violência saiba onde buscar ajuda, apoio para denunciar seu agressor e se resguardar”.
E ela vai além, também esmiúça a situação na Paraíba e declara que na programação das emissoras locais há programas policialescos diários sob um investimento maciço dos “donos da mídia”. "Analisei quatro casos de violência contra as mulheres, ocorridos aqui na Paraíba, e o apresentador fazia chacota da violência", adiantou. E frisou: "Em um deles, no feminicidio da jovem Pamela Bessa, assassinada grávida pelo marido, em Poço José de Moura, o apresentador deste policialesco que vai ao ar todo dia, ao meio dia, brincou com a gravidade do problema, e insinuou que a vitima traia o marido, e por isso teria sido morta! Este é um comportamento rotineiro nos programas policialescos na Paraíba e no Brasil. As supostas traições são usadas pelos agressores e feminicidas para justificar o crime. E os apresentadores dos policialescos reforçam isso".
A pesquisadora destaca que esse tipo de postura exalta e é reflexo de características do machismo na sociedade.
“O que acontece, o que percebo, é um machismo explícito na sociedade brasileira, e isso é estimulado pela cultura patriarcal, que determina cores para meninos e meninas, brinquedos, comportamentos, roupas, etc, começa de pequeno, e é por aí que precisamos transformar. Vemos adolescentes com comportamentos dominadores em relação às namoradas, de posse, e é importante analisarmos o por quê isto acontece e como agir para combater isso. Na internet, há grupos masculinistas organizados, que pregam o ódio e o desprezo às mulheres, e isso incentiva a prática da violência contra nós. É outro ponto que temos que estar atentos e atentos”, concluiu.
Mabel lançará um livro com o tema “A desinformação e a violação aos direitos humanos das mulheres: um estudo de caso do programa Alerta Nacional”. o trabalho decorre da pesquisa da jornalista no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. O lançamento ocorre nesta terça-feira (17), às 18h, no Caravela Cultural, na av. General Osório, 63, Centro de João Pessoa (em frente ao Mosteiro de São Bento).
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