Santo Luxo: Dom Delson sabia de tudo, afirma denúncia ao MPPB; Arquidiocese nega
Nesta série de reportagens, Portal T5 detalha como Ministério Público iniciou investigações sobre escândalo na Igreja Católica
Uma denúncia anônima acolhida pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) aponta que o arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, sabia de todos os desvios de verbas que aconteciam no Hospital Padre Zé, no Instituto São José e na Ação Social Arquidiocesana. A investigação desencadeou a operação “Indignus", que investiga o escândalo de fraudes e desvios de recursos nas instituições. Conforme os documentos, que o Portal T5 teve acesso, os crimes supostamente liderados pelo padre Egídio de Carvalho ocorriam há 12 anos.
"O arcebispo da Paraíba é ciente, que por sinal já recebeu um veículo Jeep Compass 2019 (Placa QSF-6748) como pagamento de propina", diz o documento.
Esse veículo está em nome do padre Egídio, que incluiu o pagamento do imposto de licenciamento às despesas do Hospital Padre Zé. Como mostra o documento:
À reportagem, a assessoria da Arquidiocese afirmou que o arcebispo já havia confirmado, em entrevista coletiva no dia 10 de outubro, que não estava ciente dos desvios ocorridos no Hospital Padre Zé e nas duas outras instituições investigadas. Sobre o veículo, a assessoria não respondeu o questionamento. O espaço está aberto para o pronunciamento.
O Portal T5 tentou uma nova entrevista com Dom Manoel Delson, mas o pedido não foi aceito.
Linha do tempo
No dia 7 de agosto de 2023, padre Egídio de Carvalho denunciou o furto de mais de 100 celulares à Polícia Civil, que instaurou um inquérito policial a fim de apurar o crime. O religioso alegou abuso de confiança e destreza. O acusado pelo crime foi Samuel Rodrigues Cunha Segundo, ex-funcionário do setor de tecnologia do hospital.
Viagem juntos - Egídio foi a Foz do Iguaçu acompanhado de Samuel Segundo receber os celulares destinados à doação, oportunidade em que foram separados os itens mais caros das duas instituições em 15 caixas lacradas, entre os dias 22 e 26 de maio. Conforme a denúncia de Egídio, a falta dos aparelhos só foi percebida por ele dois meses depois, no dia 24 de julho. O bazar aconteceu sem os aparelhos eletrônicos no dia 1º de agosto.
Reviravolta - A denúncia anônima contra o padre Egídio, referente aos supostos crimes no Hospital Padre Zé, foi enviada ao Ministério Público no dia 24 de agosto. O relato expõe 33 documentos e notas que comprovariam toda a corrupção. O envio desses materiais acontece 17 dias após a denúncia do padre sobre o desaparecimento dos celulares.
Samuel chegou a ser preso pela Polícia Civil no início de setembro. Ele foi solto três dias depois e foi demitido do hospital por justa causa.
Conforme a denúncia anônima, o furto de celulares aconteceu a mando do padre Egídio.
"O roubo foi feito a mando dele, de celulares e perfumes, para custear as despesas de aquisição de um novo imóvel e a reforma de de um novo apartamento de luxo adquirido. Quando tomou conhecimento da proporção que tomou dentro da empresa, de comentários por todos os funcionários, por ser uma carga de alto, teve que abrir um inquérito. Sua família [de padre Egídio] tem lojas em cidade do interior de PE, onde pode ter sido levado a carga", diz o documento.
Polícia nas ruas - Diante do material enviado anonimamente, o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) montou a operação “Indignus”, no dia 5 de outubro. Além do padre Egídio de Carvalho Neto, são investigadas duas ex-funcionárias do Hospital Padre Zé, Jannyne Dantas e Amanda Duarte, ex-tesoureira.
Um dia depois da operação, o padre Egídio se apresentou na sede do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), em João Pessoa.
À reportagem, o advogado Sheyner Asfóra disse que padre Egídio continua à disposição do Ministério Público para prestar esclarecimentos de forma oficial.
O Portal T5 não conseguiu contato com a defesa dos outros investigados. O espaço está aberto para atualização quando houver resposta.
Dom Delson decepcionado - Em 10 de outubro, o arcebispo Dom Manoel Delson convocou jornalistas para uma entrevista coletiva. No encontro ele disse que se sente envergonhado e traído em meio ao escândalo financeiro que envolve o padre Egídio. A declaração do líder da Igreja Católica no estado foi feitacom um pronunciamento da nova gestão da unidade.
Em outro momento, Dom Delson disse que o patrimônio identificado no nome do padre Egídio é "assombroso", uma vez que um sacerdote recebe aproximadamente três salários mínimos por mês. "Isso nos entristece muito. É uma questão muito grave, porque um sacerdote deve servir aos mais pobres", declarou.
O caso continua em investigação.
Leia as reportagens da série Santo Luxo: