Em João Pessoa, Kleber Mendonça revela filmes que o inspiraram para carreira no cinema
Ao Portal T5, cineasta contou detalhes da vida profissional
O diretor, roteirista e produtor recifense, Kleber Mendonça Filho, esteve em João Pessoa, nesta sexta-feira (1º), para um debate acerca do novo filme, "Retratos Fantasmas", que está em cartaz pelo Brasil. Ao Portal T5, o diretor do longa comentou sobre a evolução enquanto profissional, as chances de concorrer ao Oscar e as inspirações de infância para se tornar um cineasta.
Para Kleber Mendonça Filho, "Retratos Fantasmas" é uma boa porta de entrada para quem ainda não viu nenhum filme dele. "Talvez seja uma boa porta de entrada sim. É um filme sobre cidades. É um filme pernambucano, que fala sobre Recife, mas você não precisa ser recifense ou brasileiro para entender." afirmou.
"A prova é que o filme tá circulando muito bem fora. Os filmes que eu destaco são de muitos cineastas, homens e mulheres, então por questões de arquivo, eu mostro muitos filmes meus, mas isso não está relacionado a algum tipo de autopromoção, mas sim que aqueles filmes foram filmados naquele lugar. Então é muito interessante você usar um filme de ficção para transformar em um documentário. Acho que seria uma boa porta de entrada para quem nunca viu meus filmes.", completou.
Inspirações do passado
Saudosista, o cineasta relembra as inspirações de infância que, segundo ele, o fizeram criar a paixão pelo cinema. "Eu tive muita sorte. Era uma criança pequena nos anos 1970 e fui um adolescente com muita fome de filme nos anos 1980. Os filmes que eu via, normal assim, terça a tarde, lançamento no cinema São Luiz, são filmes muito importantes. Então, essa mistura de salas incríveis com filmes incríveis, como por exemplo: John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo, Eles Vivem, O Príncipe das Sombras, o primeiro Duro de Matar, Robocop, Caçadores da Arca Perdida, ET, Veludo Azul.. é muito especial.… São todos filmes que formaram um caráter, um amor pelo cinema e uma admiração que até hoje reverbera. Não tem como, é impossível não lembrar de todo aquele momento."
Kleber Mendonça conta que a evolução enquanto profissional se deu ao longo dos filmes produzidos e que "aprender a se ouvir" foi importante para tornar-se o diretor que é hoje. "O Recife Frio (2009) é um filme muito pessoal sobre a minha cidade, Recife. Mas é curioso que eu não coloquei minha voz no filme. Eu até inventei um personagem estrangeiro, que é o narrador e o observador da cidade. Mas, é engraçado, porque, cinco anos depois, eu fiz a Copa do Mundo no Recife, que de certa forma é parecida com Recife Frio. Foi interessante, porque nesse filme eu coloquei minha voz, foi a primeira vez que eu fiz isso. E no “Retratos Fantasmas” sou eu do início ao fim. Eu subi esse degrau, Recife Frio, Copa do Mundo e agora Retratos Fantasmas. Então, eu acho que nesse tempo eu aprendi a me ouvir, a não ter vergonha de colocar a minha voz e eu gosto disso. Gosto de me sentir à vontade para fazer isso.", revelou.
A reinvenção dos cinemas independentes
O diretor fez um apelo para que os cinemas independentes sejam mais investidos pelo Brasil. "O tipo de sala que Cine Bangüê é, e que o cinema da Fundação (em Recife) é, é exatamente o tipo de sala que o país precisa investir. Esse tipo de sala precisa ser multiplicado no país inteiro, porque esse é o tipo de sala que constrói um olhar, que apresenta uma diversidade e uma energia diferente. Isso não tem nada a ver com um multiplex. Acho que esse tipo de cinema (multiplex) precisa existir, os mais comerciais, mas não devem ser um padrão absoluto, onipresente da ideia de ir ao cinema, porque existem outras maneiras de ver filmes e o Cine Bangüê apresenta uma outra maneira de ver filmes. Esse padrão precisa ser estimulado até como projeto de governo."
“Muitas cidades não têm nada como o Cine Bangüê. Isso é um problema muito grave."
Oscar 2024
Cotado para o Oscar 2024, o diretor comenta as chances de chegar à premiação. "Ainda não vi nenhum concorrente, mas o que fizemos foi nosso trabalho de produtores. Retratos Fantasmas teve uma visibilidade internacional muito grande esse ano e é natural que a gente inscreva (no Oscar) , então, vamos ver se nesse ano vai (risos)."
Admiração pelo cinema paraibano
Por fim, Kleber Mendonça Filho revelou admiração pelo trabalho do cinema paraibano e dos profissionais com quem já trabalhou. "Eu venho trabalhando com atores e atrizes da Paraíba desde o Som Ao Redor. Sebastião Formiga, Waldemar Solha. Em Bacurau, Jamile Facury… Não só para mim, mas para vários cineastas de Recife, pensamos em atores e atrizes do país inteiro, mas existe uma certa segurança que eu pessoalmente tenho, de lembrar sempre que tem a Paraíba, para vim aqui e fazer teste, ou conhecer novas pessoas. Existe alguma coisa aqui no universo dramático de atuação.", finalizou.
Retratos Fantasmas está em exibição nos cinemas paraibanos.
Leia também: