Suicídio é assunto proibido no jornalismo? Saiba como tema sensível pode ser tratado na mídia
Neste domingo (10), Dia de Prevenção ao Suicídio, Portal T5 discute papel da imprensa e a possível existência do "efeito contágio"
O jornalismo tem a função pública e social de contribuir com as transformações positivas da sociedade, tanto pela essência de informar quanto pelo potencial de formar opiniões e influenciar comportamentos. E isso vale para todas as questões que atravessam a vida, inclusive o suicídio. E por quê falamos pouco sobre ele?
Na avaliação da professora de jornalismo Joana Belarmino, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o suicídio sempre ocupou um lugar “estranho” na imprensa. “Em muitas redações, foi um tema vedado, censurado. Acreditava-se que a cobertura de episódios de suicídio pudesse influenciar outras pessoas a procederem dessa maneira. O suicídio foi condenado pelas religiões cristãs, pela família, pela sociedade de um modo geral. Então os meios de comunicação silenciavam ou davam notas curtas quando havia um episódio”, disse.
De um modo geral, a imprensa estabeleceu uma espécie de acordo extraoficial que exclui os suicídios dos noticiários. Não se fala sobre esse tipo de morte em televisões, rádios e portais. Mas, ao contrário do que se pensa, não é proibido tocar nesse assunto. Uma comunicação correta e responsável é, até mesmo, uma ferramenta importante para prevenir novos casos.
Não à toa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou há mais de vinte anos um manual sobre prevenção do suicídio para profissionais da mídia. O documento traz recomendações de como fazer uma cobertura jornalística em casos de suicídio, como evitar descrições detalhadas e não divulgar fotos do falecido ou cartas suicidas.
De mãos dadas
Ao Portal T5, o médico psiquiatra Alfredo Minervino reforçou a importância do jornalismo sério e cuidadoso na prevenção de mortes por suicídio e na desconstrução do efeito contágio. “Não existe quaisquer riscos de desencadear, provocar ou incitar suicídio ao falar sobre ele”, explicou. Mas, segundo o médico, é preciso ter, sobretudo, respeito e ética ao noticiar casos assim.
O mesmo ponto de vista é compartilhado pela professora Joana. Para ela, especialmente em tempos de redes sociais, a cobertura precisa ser equilibrada. “Nem pode descambar para o sensacionalismo, tampouco pode ser uma cobertura fria, factual”, frisou.
De acordo com a professora, a imprensa precisa falar sobre suicídio de forma aprofundada, divulgando e fortalecendo as redes de apoio à família e aos indivíduos. “Os índices de suicídio entre jovens são alarmantes, dizem as pesquisas. A imprensa precisa pautar o tema e a cobertura não pode ser rasa. Os especialistas precisam ter espaço nos meios de comunicação, assim como os órgãos de saúde e as redes de apoio, a exemplo do Centro de Valorização da Vida (CVV)”.
Nas redações da Paraíba, jornalistas pouco têm buscado formas de abordagem para a discussão das mortes por suicídio. Para Edcésar Oliveira, gerente de Conteúdo da Rede Tambaú de Comunicação, a dificuldade para esse tema ocorre por conta do preconceito e constrangimento, mas é necessário outra percepção para avançar. “O jornalismo profissional precisa estar atento e informar de maneira que possa contribuir com a identificação precoce do problema e ajudar o público na busca de apoio. Esse é um passo importante também para tirar o preconceito sobre o assunto, naturalizando a abordagem”, defendeu o gestor.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando problemas relacionados à saúde mental ou tenha pensamentos suicidas, procure ajuda. É possível encontrar rede de apoio nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da sua cidade e através do Centro de Valorização da Vida (CVV), que é um serviço gratuito.
O CVV trabalha realizando apoio emocional e prevenção do suicídio 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188 e também por e-mail e chat (acesse aqui).
Setembro Amarelo
Neste domingo (10) é celebrado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio. A data é lembrada no mês da campanha Setembro Amarelo, tem o objetivo de desenvolver ações de prevenção ao suicídio e o cuidado com a saúde mental. A campanha é realizada desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina. Neste ano, o tema da campanha é: Se precisar, peça ajuda!.