Marketing do crime promove facções com vídeos nas redes sociais
Ao Portal T5, professora Luziana Ramalho criticou a mídia que propaga e lucra com a violência
Uma onda de violência vem assustando moradores de cidades da Região Metropolitana de João Pessoa nos últimos dias. Nove crimes violentos em Cabedelo, Santa Rita, Bayeux e na capital paraibana foram registrados entre a manhã de terça (15) e esta sexta-feira (18). Dar visibilidade a esses casos é um dever do jornalismo, desde que o objetivo seja cobrar das autoridades de segurança medidas efetivas contra esse cenário.
E essa não é uma responsabilidade apenas do profissional de imprensa, sobretudo em tempos de redes sociais. Mas é preciso ter consciência da responsabilidade social que se assume ao divulgar ou compartilhar casos de violência, especialmente quando há imagens dos crimes.
Em Cabedelo, antes de serem mortas, duas das quatro vítimas foram obrigadas a gravar vídeos explicando o porquê seriam assassinadas. As imagens foram divulgadas nas redes sociais e amplamente compartilhadas, inclusive pela imprensa. Porém, a decisão de dar visibilidade a essa prática vem acompanhada de riscos, segundo a professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e especialista em Segurança Pública Luziana Ramalho.
Ao Portal T5, a professora explicou que publicizar esses vídeos de justiçamento fortalece e dá visibilidade à facção, por isso o correto é não divulgar. "Como qualquer outro empreendimento, o crime também se utiliza da propaganda para se projetar socialmente", disse.
A especialista ainda pontuou que a mídia e a sociedade devem buscar construir uma cultura de paz, evitando propagar e lucrar com a violência. “A divulgação de cenas de violência pode ser enquadrada em crime de apologia ou incitação conforme nossa lei. O problema é que há uma forte banalização da violência nossa sociedade e, obviamente, isso se propaga em todos os segmentos", explicou.
"Perdemos cada vez mais o pudor de nos chocar com cenas de atrocidades. A lógica do ‘quanto pior, melhor’ tem nos tornado feras, que consomem e praticam a destruição"
Para Luziana, a apologia ao armamento e à prática de justiçamento no Brasil colocou a população em uma “guerra civil". E esse cenário torna a sociedade, cada vez mais, “indiferente àqueles para os quais a morte do outro é só uma morte necessária, coisa entre bandidos”.
Crise de autoridade
A escalada de crimes violentos nesta semana em cidades da Grande João Pessoa apontam para uma crise de autoridade do Estado, segundo a professora Luziana Ramalho, e que atinge as três esferas do Poder. Para a especialista, a crise envolve a eficácia e eficiência da gestão das políticas públicas, especialmente às voltadas à segurança.
"Desde a década de 1970 já se sabia da expansão e consolidação do crime voltado ao tráfico de drogas e formação de grupos armados. O sequestro de comunidades pobres por traficantes e milícias é um fato social que ninguém desconhece. Contudo, na mesma proporção do conhecimento, há a contradição da expansão e fortalecimento", pontuou.
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