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DE VOLTA AOS ESTUDOS

Ensino superior: idosos enfrentam etarismo em busca de diploma universitário

Dados do Inep revelam que 7,7% dos estudantes no ensino superior estão acima dos 60 anos

Por Rinaldo Pedrosa Publicado em
Terceira idade ensino superior
(Foto: Reprodução/Freepik)

Em um ambiente tradicionalmente voltado ao público jovem, há uma parte da população que luta por espaço. Nas salas de aula do ensino superior brasileiro, idosos estão em busca de qualificação. O último censo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), sobre a faixa etária dos alunos do ensino superior, em 2021, foi constatado que apenas 7,6% dos estudantes com mais de 60 anos.

Ubiraci Rodrigues é um dos estudantes que compõe esta realidade. Aos 63 anos, ele cursa radialismo na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e está próximo de se formar. Para ele, a nova graduação apresenta desafios de manter a mente ativa. “A vida de aposentado é extremamente chata. Então, com o tempo, você vai deteriorando a sua atividade intelectual, por não praticar, por não ser inserido em um ambiente em que as pessoas te ajudam a desenvolver um pensamento crítico.”, afirmou.

Natural de Petrópolis, no Rio de Janeiro, Ubiraci esteve na faculdade pela primeira vez nos anos 1980, quando cursou publicidade e propaganda pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e seguiu carreira no setor público. Contudo, decidiu voltar a estudar para realizar um sonho. “Eu tinha a frustração de querer ser cineasta e ter mais um contato com a produção audiovisual, aí decidi voltar a estudar. É angustiante você ter o seu dinheiro, mas não se desenvolver. Viver com frustrações do passado, enquanto você ainda tá vivo, não é bom.”

Para o estudante, não existe desculpa para fugir dos estudos. “As pessoas falam ‘Ah, não deu.’ Pô, não deu? Faz agora, levanta e faz agora. Daqui a quatro anos, de um jeito ou de outro, eu vou ter 67 anos. Já tô pensando na minha pós-graduação.”, completou.

“As pessoas mais novas olham para você como uma pessoa que já deu o que tinha que dar” - Ubiraci Rodrigues

Para quem tem mais experiência de vida, a realidade nem sempre é das mais acolhedoras nas salas de aula. Ubiraci viveu isso na pele nos últimos nove anos. Após ser aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2014, o estudante afirma ter sido, por muitas vezes, excluído dos demais alunos. “Minha relação com os outros alunos foi péssima. Inclusive, o que me fez demorar a concluir o curso foi exatamente essa relação ruim com os outros. Experienciei um preconceito enorme comigo. Tiveram turmas que, quando eu entrava na sala, os alunos não sentavam perto de mim.” contou.

Segundo Ubiraci, a exclusão provocada pelos outros alunos foi um fator determinante para o atraso na sua formação “Eu percebia muito na hora dos trabalhos em grupo, que ninguém me chamava pra nada. E aí eu não tinha como participar e ganhar nota. Alguns professores até me ofereceram uma alternativa, mas outros professores disseram que eu tinha que seguir a didática.”, desabafou.

No início deste ano, viralizou um vídeo em que três alunas debocham de uma estudante, pelo fato dela ter 40 anos. As três podem responder pelos crimes de difamação, injúria e violência psicológica.

Em outra sala de aula

Vivendo uma experiência diferente, Solange se sente renovada por entrar na faculdade, local onde fez novos amigos. Aos 60 anos, ela cursa enfermagem na Faculdade Internacional da Paraíba (FPB). De acordo com a estudante, o ambiente do ensino superior se mostrou muito acolhedor, com direito a novos amigos. Solange, que já é técnica de enfermagem, conta que os outros alunos a veem com muito respeito. "As aulas são diferentes da realidade. A gente estuda porque tem que estudar. Eu fico estudando tudo que já sei, ai fico ensinando as meninas. O pessoal gosta que eu já sei, então me chama pra fazer grupo de trabalho.", contou.

Pensar em desistir

Mesmo se dando bem com o curso e o grupo de amigos, Solange afirma que pensou em desistir, por conta da idade.

"Quando eu terminar o curso eu já vou estar aposentada. Mas, se depender de mim, eu continuo trabalhando. Não gosto de ficar parada em casa não"

Solange ainda trabalha como costureira e na enfermagem do Hospital Frei Damião, em João Pessoa. "Além do trabalho e da faculdade, eu ainda costuro quando chego em casa. Eu costuro as calças masculinas do lugar em que eu trabalhei porque as costureiras não sabem fazer (risos)."

Valor aos estudos

Para Solange, a nova geração não dá o devido valor aos estudos fornecidos pelos pais. “Eu vejo que o pessoal hoje em dia tem a oportunidade e não aproveita. O pai e a mãe pagam e a pessoa não quer nada com nada. Eu sempre quis, sempre gostei de estudar, mas não tinha a oportunidade. Aqui eu consegui uma bolsa."

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