Live Action da Barbie mobiliza fãs caracterizados em João Pessoa
O Portal T5 conversou com a psicóloga Suymei Mendonça para tentar entender o quanto referências como a do filme mexem com o imaginário das pessoas
Nesta quinta-feira (20), os corações dos fãs da boneca mais famosa do mundo bateram mais forte. A tão aguardada estreia do primeiro live action da Barbie, protagonizado por Margot Robbie, movimentou as redes sociais e despertou entusiasmo em todos os cantos. Em João Pessoa, um grupo de admiradores da icônica personagem decidiu celebrar o lançamento de forma única: se reunindo caracterizados como a própria Barbie, numa verdadeira explosão rosa que chamou a atenção dos presentes.
A mente criativa por trás dessa iniciativa é a de Williane, conhecida no segmento como H3ntai, uma entusiasta do universo cosplay e eventos, que viu na paixão pela Barbie uma oportunidade de unir pessoas em torno de uma experiência inesquecível. O cosplay, atividade que consiste em se vestir e caracterizar como personagens, foi o ponto de partida para organizar o grupo que se preparou para assistir ao filme em grande estilo.
"Acho que toda menina teve essa influência direta na infância, inclusive eu", H3ntai
"Eu amo a Barbie desde pequenininha. Acho que toda menina teve essa influência direta na infância, inclusive eu. A Barbie é muito autônoma, ela dá esse incentivo de você poder ser o que quiser. Eu cresci assistindo aos filmes, admirando suas histórias como princesa da ilha ou como Rapunzel. Mesmo não tendo tido uma boneca da Barbie na infância, sempre fui uma grande fã da franquia", compartilhou H3ntai.
Para a organizadora, a força da Barbie como símbolo de diversidade e representatividade é uma das razões pelas quais o grupo se reuniu de forma tão animada. A boneca, ao longo do tempo, passou por transformações para se adequar a diferentes padrões e refletir a pluralidade do público, o que a tornou ainda mais especial para seus admiradores.
O filme também vem gerando expectativas por conta da direção de Greta Gerwig, reconhecida por seu trabalho em filmes indicados ao Oscar, como "Lady Bird" e "Adoráveis Mulheres". A escolha de Gerwig, conhecida por seus projetos "indie" e conceituais, instigou curiosidade sobre a direção que o live action da Barbie tomaria. Além disso, a presença de grandes estrelas como Margot Robbie, Ryan Gosling e Will Ferrell no elenco de milhões contribui para o clima de empolgação.
A onda rosa e o imaginário das pessoas
Mas será que a junção de elenco, direção e identificação das pessoas são a únicas responsáveis pelo envolvimento delas com a estreia de um filme dessa maneira? O Portal T5 conversou com a psicóloga Suymei Mendonça para tentar entender o quanto essas referências mexem com o imaginário do público.
"Eu acredito que a Barbie representa muito ao longo de todos esses anos. Ela surgiu na década de 50 e, a princípio, simbolizava uma perspectiva mais avançada para a sua época: ela se cuida, trabalha, administra a casa e tem uma relação amorosa bem-sucedida. Isso representou uma provocação naquela época, fugindo do modelo tradicional em que a mulher era vista apenas como dona de casa e voltada para os filhos. Esse aspecto é positivo, mas, ao mesmo tempo, a Barbie também surgiu com o estereótipo de que a mulher tem que ser perfeita em todos os sentidos: muito bonita, bem preparada, com uma beleza quase inatingível. Essa imagem entrou no imaginário das crianças, adolescentes e até mesmo das mulheres adultas", iniciou.
De acordo com a profissional, a personagem Barbie, ao longo dos anos, representou diversos ideais que a tornaram icônica e mundialmente conhecida. Ela se apresentava como uma mulher independente, trabalhadora e bem-sucedida em diversos aspectos de sua vida. No entanto, ao mesmo tempo, a Barbie também incorporou o estereótipo de perfeição, transmitindo a ideia de que a mulher deve ser impecável em todos os sentidos, tanto fisicamente quanto emocionalmente.
Para Mendonça, ao longo das gerações, a influência da Barbie passou de avós para mães e netas, tornando-se um objeto de beleza idealizada que influencia questões afetivas, morais, pessoais e comportamentais das crianças e adolescentes. A Barbie é associada à eterna juventude, o que pode gerar uma pressão sobre as meninas para que elas também sejam eternamente jovens e perfeitas em todos os aspectos.
"A Barbie se tornou um objeto de beleza irreal, uma idealização. Hoje, quando se fala dessa perspectiva da nostalgia, percebe-se que isso foi transmitido de geração em geração. As avós passaram para as mães, que passaram para as netas. Há uma influência geracional. Como psicóloga, questiono qual a influência que isso tem na personalidade e na identidade de gênero. De fato, ela exerce uma influência marcante não apenas nessas questões, mas também em aspectos afetivos, morais, pessoais e comportamentais. Ela não é inofensiva, mas também não é inteiramente negativa; ela possui aspectos positivos e negativos na formação da identidade de gênero de adolescentes e jovens, uma vez que ela representa uma eterna juventude. Mas a criança, ao se deparar com a Barbie, percebe algo que ela acredita que precisa ser. Ela acredita que precisa ser bonita daquele jeito e conquistar tudo o que a Barbie conquistou", disse.
"Eu acho importante destacar que ser feliz não exige que sejamos como a Barbie, tal qual ela é retratada. Precisamos encontrar a felicidade com o que temos.", Suymei Mendonça
E continuou: "A Barbie é vista como uma mulher multitarefas, com todas as profissões que ela deseja ter, transitando em diversos universos, desde os mais simples até os mais glamourosos, como ser uma princesa. Ela parece conseguir cuidar da casa, ser uma rockeira, enfermeira, entre outros papéis, e está sempre impecável, com roupas desejadas. Porém, para a criança que não possui o mesmo corpo que vê no espelho, surge a imaturidade, como se ela não conseguisse atingir essa perfeição. Isso afeta a autoestima e pode gerar baixa autoestima, pois ela não consegue ser essa Barbie perfeita, mesmo que tente através de cirurgias plásticas, por exemplo".
A psicóloga também destaca que a questão socioeconômica desempenha um papel importante na influência da Barbie. Muitas crianças desejam ter todos os acessórios da boneca, como carros, lanchas e piscinas, o que pode gerar frustração e sensação de falta quando não é possível adquirir esses itens. "A lacuna fica ali, a falta do que desejam. Assim, a Barbie se torna um objeto de desejo, de extrema influência para as crianças, transitando no imaginário delas".
Ela pontua que mesmo com a recente inclusão de diversidade no modelo da boneca, há um longo caminho para desconstruir uma cultura e construir outra: "A Barbie atualizada pela empresa se tornou mais inclusiva, não sendo mais aquela Barbie estereotipada. Entretanto, mesmo com essas mudanças, no nosso imaginário ainda permanece a Barbie branca, de olhos azuis, corpo esguio, pernas longas e seios fartos. Ela não se renovou a ponto de representar plenamente outras situações vulneráveis, como estar na cadeira de rodas ou ser de outras etnias que não sejam brancas".
Outro ponto levantado pela profissional é o imaginário construído em torno da cor rosa, presente na temática da Barbie. A cor rosa é associada à feminilidade, beleza e festividade, reforçando a ideia de que essas características estão diretamente ligadas à imagem da boneca.
"Esse mundo rosa, de fato, existe na cabeça das pessoas. Quando uma jovem associa festas e objetos, por exemplo, o rosa traz essa perspectiva de algo mais bonito, relacionado à feminilidade e à beleza da mulher. No entanto, é importante destacar que ser feliz não exige que sejamos como a Barbie. Precisamos ser felizes com aquilo que temos, com o nosso corpo, e é fundamental nos gostarmos como somos. Não precisamos seguir um padrão inatingível, não precisamos ter sempre um 'Ken' ou uma vida perfeita. Podemos transitar nesse mundo cor-de-rosa, mas devemos lembrar que a vida é nossa, e a verdadeira felicidade está em aceitarmos a nós mesmas", enfatizou.
A mensagem final deixada pela psicóloga é que a felicidade e a realização pessoal não estão atreladas a ser uma Barbie perfeita, mas sim em aceitar e amar a si mesma, valorizando sua individualidade e beleza única. A vida é nossa, e não precisamos nos encaixar em padrões pré-estabelecidos para sermos felizes e bem-sucedidas.
A Barbie e o universo cosplay
Desde o ano passado, o grupo cosplay já estava ansioso pela chegada do filme e, ao invés de assistir individualmente, H3ntai teve a ideia de unir todos em uma experiência única e marcante. A expectativa é alta, pois o filme é considerado um dos mais aguardados do ano, trazendo a oportunidade de vivenciar a Barbie de forma real.
Para os fãs do mundo cosplay, a experiência de incorporar personagens é parte do cotidiano. H3ntai, que participou de vários concursos e eventos de cosplay, compartilhou sua jornada e incentivou os novatos a não desistirem dessa arte que traz tanta alegria.
O universo do cosplay sempre fez parte da vida de Williane (H3ntai), cuja paixão por personagens e desenhos animados a levou a essa forma de expressão artística. Ao longo do tempo, ela aprimorou suas habilidades e hoje é uma referência na organização de eventos geek, anime e cosplay na cidade.
O grupo externou que a estreia do live action da Barbie foi um verdadeiro fenômeno que envolveu não só os fãs caracterizados, mas todos que aguardavam ansiosamente a oportunidade de ver uma das bonecas mais icônicas da história ganhar vida na tela grande. A expectativa, segundo o grupo, é de que o filme proporcione uma experiência emocionante, transmitindo a mensagem de diversidade e representatividade que atualmente é tão presente na trajetória da Barbie.
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