Batata frita e a guerra na Ucrânia: como o nosso bolso sente o primeiro ano de conflito
Brasileiros sentem impacto da guerra nos preços de alimentos e combustíveis.
Nos últimos meses, as idas aos supermercados têm ficado cada vez mais caras. Vários itens apresentaram alta e, em comparação com os primeiros meses de 2022, muitos produtos quase dobraram de valor. Você já reparou, por exemplo, no preço do pacote de batata pré-fritas congeladas? Em um ano, o mesmo pacote que era vendido por cerca de R$ 17 passou a ser encontrado por R$ 28. O que explica esse aumento? De acordo com um especialista ouvido pelo Portal T5, o preço elevado é consequência da Guerra na Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro de 2022.
Há um ano, o T5 conversou com o supervisor de Comércio Exterior Moisés Pacelli sobre os impactos que poderiam ser sentidos na Paraíba por causa do conflito no leste europeu. Na época, ele explicou que havia a possibilidade de aumento nos preços de alimentos e combustíveis. E assim aconteceu.
Na primeira semana de 2023, foi divulgado que o índice de preços de alimentos da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) teve uma alta recorde em 2022. O índice teve média de 143,7 pontos no ano passado, uma alta de 14,3% em relação a 2021. A maior desde 1990. Ou seja, os alimentos nunca estiveram tão caros.
Com relação aos combustíveis, o cenário também permanece cauteloso. Como no Brasil o preço do petróleo segue a cotação em dólar, as alterações no mercado exterior afetam os preços dos combustíveis para os brasileiros. De acordo com o Valor Data, o preço médio do barril de petróleo em 2022 foi de US$ 97,20, uma alta de 38,05% comparado com 2021.
No entanto, o preço médio dos combustíveis no Brasil teve uma queda nos últimos meses por causa da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nesses produtos.
Mas o que a batatinha tem a ver com a guerra?
De acordo com Moisés, o Brasil produz e também importa a batata que consome. Em razão da guerra da Ucrânia, o valor da batata comprada de outro país aumentou e, como consequência, o preço final do produto para os brasileiros também. “A batata que custava 0,62 euros por quilo pulou para 1,39. Então hoje a gente já consegue sentir essa elevação nos pontos de venda final. O pacote de batata que antes era comprado por R$ 17 passa a ser comprado por R$ 25 e até R$ 30. É um efeito em cadeia”
Para Moisés, já era esperado o aumento no preço da batata por causa da safra ruim. Mas, segundo ele, esse efeito foi intensificado pela guerra.
Além disso, conforme o especialista, para a produção dessa batata pré-frita congelada é utilizado óleo de girassol, que o Brasil importa da Ucrânia. E, por causa da guerra no país, a produção desse óleo ficou prejudicada, especialmente porque muitos colaboradores de empresas foram convocados para defender o próprio território.
Comprando mais caro
Assim como a batata e o óleo de girassol, o Brasil está importando outros produtos mais caros, especialmente os que vêm da Rússia e Ucrânia. Segundo Moisés, “o trigo, utilizado na ração e no pãozinho, ainda é muito importado pelo Brasil, que não produz tudo que consome. E importa com preços altíssimos, em comparação com o que a gente tinha há um ano”.
“Quando a gente coloca a Ucrânia como uma grande produtora agrícola e a Rússia como um player [que influencia] nos combustíveis, a gente vê o casamento perfeito para que os preços, principalmente nos alimentos, subam”, completou ele.
Vai continuar assim?
Segundo Moisés, a previsão para o Brasil após um ano de guerra na Ucrânia continua a mesma. Ou seja, com impactos nos preços dos alimentos e combustíveis.
“Mesmo que o Brasil tenha reduzido o ICMS dos combustíveis e seja um grande produtor de alimentos, há uma pressão para que os preços não baixem no mercado internacional. Não sentimos um aumento vertiginoso como no início da pandemia, mas também não vemos os preços baixarem”, explicou ele.
Na Paraíba esses efeitos devem ser sentidos de forma indireta. Já que o estado não possui uma balança comercial ativa nem com a Rússia nem com a Ucrânia.
Sobre o futuro da guerra, o supervisor de Comércio Exterior afirmou que tudo ainda é muito incerto. “Existem elementos que nos levam a crer que a guerra pode não acabar em breve. Porque tem países que estão dando condições para a Ucrânia resistir e existe uma Rússia que consegue atender muitos mercados, que continuam movimentando a economia por lá".
Vidas perdidas
Ao longo desse ano de guerra, a agência para refugiados da ONU (Acnur) registrou cerca de 7,7 milhões de ucranianos em vários países da Europa, incluindo a Rússia. Os índices chegam a cerca de 180.000 mortos ou feridos nas fileiras do exército russo, e 100.000 ucranianos, além disso, 30.000 civis morreram, conforme um balanço divulgado pelo Noruega. Diante do conflito, Rússia e Ucrânia não apresentam balanços confiáveis de mortes há meses.
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