Mais de 900 idosos buscam tratamento contra a depressão e outros transtornos, em JP

Serviço contra doença é oferecido na Policlínica Municipal da Pessoa Idosa. (Foto: Cecília Bastos/USP Imagens/Arquivo)

Ser forte a todo instante não é assim tão fácil. E, ao contrário do que muitos pensam, pedir ajuda nem sempre é uma saída tão acessível diante de alguma dificuldade. Com Antônio José da Silva, de 70 anos, a força e o auxílio vieram de pessoas que o olharam com o carinho e a dignidade que precisava no momento mais difícil de sua vida.

Fotógrafo natural da cidade de Solânea, na Paraíba, Antônio trabalhou durante 45 anos dando brilho, cor e eternidade aos momentos que pôde registrar profissionalmente. O descanso do aposentado foi interrompido após partida de quem muito o ensinou sobre a vida.

O ex-fotógrafo é pai de três filhos e avô de seis netos. A família é grande. No entanto, o pilar que o ajudou a construir seu maior patrimônio foi uma das mais de 10 mil vítimas fatais da Covid-19. Maria das Dores, se foi, deixou saudades e também um vazio que nunca mais seria preenchido. 

Após a morte da companheira, Antônio também foi acometido pela Covid-19. Foram cerca de 15 dias em casa, isolado, de luto, sem poder ter contatos com seus familiares e alimentando alguns sentimentos que vinham fragilizando ainda mais o momento delicado que passava. Além das sequelas respiratórias, ele dava sinais de que precisava de uma ajuda especial para compreender melhor a nova realidade que vivia.

“Eu estava querendo descer ao fundo do poço. Tiveram muita paciência e calma para cuidarem de mim”

O suporte que ele precisava partiu da percepção de Maria José Carneiro, diretora-geral do Hospital Santa Isabel, em João Pessoa. Foi dela a indicação que deu um novo impulso a Antônio. Um serviço especial na Policlínica Municipal da Pessoa Idosa (PMPI) para pessoas a partir de 60 anos. Foi por lá que ele conheceu o apoio psicológico.

“A população idosa apresenta particularidades inerentes a esse ciclo de vida, que exige adaptações constantes e capacidade de enfrentamento de situações de fragilidade, com as limitações físicas e mentais/cognitivas que se manifestam nessa faixa etária. O acompanhamento é mais delicado no sentido de que as pessoas idosas podem acumular gradativamente uma bagagem de experiências positivas, mas também de perdas, doenças simultâneas e riscos à sua autonomia e dignidade”, explicou a psicóloga Ana Luísa Pôrto.

Ana Luísa ainda explicou que os impactos da pandemia do novo coronavírus atingiram diretamente a qualidade de vida dos idosos e que essa é uma das causas da maioria dos casos que chegam à unidade de saúde. As mudanças que todo o mundo precisou se adequar às medidas sanitárias, sobretudo o isolamento social, tiveram consequências difíceis de serem assimiladas diante da tamanha incerteza vivida.

A profissional fez também questão de enfatizar a necessidade de as pessoas darem o devido significado aos idosos, independente se a situação vivida por eles apresenta ou não traços de fragilidade. Com a idade mais avançada, todo cuidado é fundamental para que eles permaneçam saudáveis do corpo e da mente.

“É de suma importância o respeito à dignidade da pessoa idosa para reduzir os riscos dos transtornos mentais, especialmente da depressão, que está ligada a aspectos multifatoriais, econômicos, familiares, culturais, psicológicos, entre outros”, comentou.

Com a direção apontada de como poderia seguir nesse novo momento, Antônio foi receptivo, reconheceu a necessidade que tinha de cuidar de sua mente na terceira idade e, muito convicto, segue um tratamento que já dura há mais de oito meses. O fundo do poço foi revertido ao voltar a encontrar motivos para se convencer que viver é bom.

“Sentia uma dor de cabeça muito forte e uma desilusão muito grande. Minha vida era algo que não existia mais. Mas, graças a Deus, me indicaram a Ana Luísa, da Clínica da Pessoa Idosa, que me ajudou muito. Tudo tinha acabado quando a minha esposa morreu, mas agora estou aliviado desse problema”

Antônio é o modelo de alguém que buscou solução ao luto que o fez sentir as piores sensações da vida. Foi através dessas descobertas que ele encontrou a justificativa para continuar sendo a fonte de fortaleza para si e para os filhos e os netos.

Com tanto cuidado, amor e serviço, o caminho do idoso foi recolorido e registrado num polaroid — aquele aparelho fotográfico de revelação instantânea muito usado em sua juventude —, para que ele visite seu passado e sinta saudade somente dos bons motivos que os trouxe até aqui.

Como funciona o serviço na PMPI?

Os atendimentos ao público da terceira idade ocorrem com o encaminhamento por parte das Unidades de Saúde da Família para as especialidades médicas; ou, de acordo com especialidade, a demanda também pode ser espontânea. Entre janeiro e agosto deste ano, mais de 900 pacientes da capital paraibana foram atendidos no local.

O acompanhamento psicológico, em especial, se inicia com o acolhimento do usuário do serviço, por meio da escuta ativa e avaliação da demanda, realizando as intervenções qualificadas pela equipe de psicologia, de acordo com as necessidades de cada caso.

As ações da psicologia envolvem desde o acolhimento, consulta especializada e acompanhamento psicoterápico individual, até atividades educativas em sala de espera e grupos terapêuticos.

O endereço fica localizado na Praça Caldas Brandão (sem número), no bairro Tambiá, no anexo ao Hospital Municipal Santa Isabel, com atendimento de segunda a sexta-feira, das 7h às 11h e de 13h às 17h.

Quais os sintomas de depressão na terceira idade?

Os idosos manifestam os sinais de depressão de forma bem diferente do que as pessoas mais jovens. Os adultos, por exemplos, se queixam muito de humor deprimido, desinteresse, sentimentos de culpa e de inutilidade. Na terceira idade é comum haver perda de apetite, irregularidades no sono, tontura, desânimo para realizar atividades antes vistas como prazerosas e até mesmo alterações cognitivas.