Inédito no Brasil: paraibano passa por transplante de mão em Recife
Somente sete cirurgias como esta foram feitas até hoje no mundo
Um agricultor paraibano passou por uma cirurgia inédita no país, nesta quarta-feira (13). Ele teve a mão esquerda retirada e, em seguida, reimplantada no braço direito. O procedimento foi realizado em um centro cirúrgico de Recife. Antes da cirurgia, Damião Oliveira Bezerra falou sobre a expectativa para o procedimento. Somente sete cirurgias como esta foram feitas até hoje no mundo.
O homem, de 47 anos de idade, depende atualmente da ajuda de familiares para quase tudo. Tem sempre alguém por perto para atender a uma solicitação. Ele perdeu a mão direita quando tinha 17 anos, em um acidente numa máquina de triturar ração de gado quando trabalhava em uma fazenda no município de Monteiro, interior da Paraíba, onde mora.
Após o acidente na adolescência, Seu Damião, que era destro, teve que se adaptar e aprendeu a fazer tudo com a mão esquerda.
No ano passado, o agricultor sofreu um acidente de carro que deixou mais sequelas. A orelha foi arrancada, ele quebrou o osso do ombro e perdeu os movimentos do braço e da mão esquerdos. Ele ficou 28 dias internado em um hospital de Campina Grande, fez a cirurgia na orelha e no ombro, mas não conseguiu recuperar os movimentos do braço esquerdo e da mão.
Damião já estava sem esperanças até que uma médica sugeriu que ele procurasse um cirurgião de Pernambuco, especialista em mãos. O agricultor então ficou impressionado com a sugestão que o médico deu, e aceitou. A de fazer um transplante de mão.
A cirurgia vai ser comandada pelos médicos Rui Ferreira e Mauri Cortez. O procedimento só é possível porque a mão esquerda do paciente tem músculos que estão vivos. A mão não mexe porque os nervos do braço que levam a informação do movimento estão lesionados. É o inverso do que acontece do outro lado. Apesar de não ter a mão direita, os nervos e outras estruturas do braço estão preservados.
A cirurgia está toda planejada a mão esquerda vai ser retirada e transplantada para o braço direito. O dedo polegar vai ficar para o outro lado. Para segurar e dar sustentação à mão vão ser usados fios de aço cirúrgico. Depois disso começa uma série de pequenas conexões. Os médicos vão ligar veias e artérias para transportar o sangue para a mão e nervos que vão conectar os tendões com os ossos.
O transplante de mão de uma pessoa que morreu foi descartado pelo risco grande de rejeição e o uso de prótese, que pode custar 100 mil reais, não é indicado para este caso. "Ela não substitui totalmente o membro que ele tinha antes, ela não tem sensibilidade, ela não tem a força exata como a mão tem normalmente", disse um dos médicos que realizou a cirurgia.
A equipe está muito otimista e diz que há em torno de 98% de chances da mão recuperar movimentos depois que cicatrizar. "Os tendões em torno de três semanas vão ter abrir e fechar a mão e os movimentos finos ele vai ter quando os músculos que tem dentro da mão começarem a recuperar com os nervos que vão ser verdade. Já o dedo polegar na posição inversa é o recomendado, isso não tem muito problema, porque quando a gente vai ligar os nervos é como se fosse ligar um aparelho elétrico vai ligar fio amarelo com amarelo, vermelho com vermelho, azul com azul, para tudo dar certo e funcionar como funciona na outra mão", completou o médico.
Damião não vê a hora de se sentir independente de novo, de recomeçar, de reaprender a viver.
O procedimento durou 14 horas e, de acordo com a equipe médica do Hospital SOS Mão e Ortopedia, o estado de saúde de Damião de Oliveira Bezerra é estável. A equipe responsável pela cirurgia está acompanhando de perto, mantendo a vigilância constante nessas primeiras horas do pós operatório. Segundo eles, os próximos sete dias são cruciais na definição do resultado final desse procedimento.