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CRIME AMBIENTAL

“Dubai” destrói reserva de Mata Atlântica em João Pessoa

Em busca de moradia, ocupantes devastaram área de preservação ambiental de 130 mil m².

Por Dennison Vasconcelos Publicado em
Comparação da área de preservação ambiental entre julho de 2020 e setembro de 2021.
Comparação da área de preservação ambiental entre julho de 2020 e setembro de 2021.

Uma área de preservação de Mata Atlântica tem sofrido devastação há mais de um ano, em João Pessoa. Em busca de moradia, famílias em vulnerabilidade ocuparam o ambiente de responsabilidade da gestão municipal e destruíram cerca de 13 hectares de vegetação. Nomeada Dubai, em referência à luxuosa cidade oriental, a ocupação na Paraíba tem cerca de 1.500 pessoas abrigadas em construções de risco, rodeadas pelo desmatamento que corresponde a 13 campos de futebol.

Secretarias do município e do governo do estado disseram que têm realizado fiscalizações na comunidade localizada no bairro de Mangabeira 8. Em setembro de 2020, uma operação policial tentou retirar os moradores da ocupação, mas não existia projeto de realocação das famílias. A última vistoria realizada pela Secretaria de Meio ambiente (Semam) ocorreu em abril deste ano. Atualmente, um processo judicial está em andamento.

Famílias desabrigadas

Na comunidade Dubai, casas frágeis levantadas com madeira, lona e papelão contrastam com a arquitetura ultramoderna da inspiração para o nome da ocupação. Durante a pandemia da Covid-19, a comunidade cresceu com a mesma velocidade das dificuldades potencializadas pela crise. “O negócio da pandemia ficou muito mais doido do que a gente esperava. Foi aparecendo gente abandonada e rejeitada, então fomos acolher”, disse Riva, um dos líderes comunitários.

Pai de duas filhas e com a esposa grávida, Riva, como é conhecido o vice-presidente da associação de moradores, perdeu o emprego durante a pandemia. Sem ter para onde ir, ele e a família foram um dos primeiros na ocupação do espaço ambiental. No barraco de lona, o morador reclamou da falta de comida e oportunidade de trabalho. “Hoje eu vivo com o dinheiro do Bolsa Família e do que consigo catar de reciclagem na rua. Passo necessidade, se eu tivesse onde morar não queria viver nessa situação”, contou ao Portal T5.

O representante dos moradores disse que tem consciência do crime ambiental, mas que não tem escolha. Para ele, problemas de habitação são tão graves quanto as questões ambientais.

 “Sei que o desmatamento é errado e concordo plenamente. Não gosto de ver uma mata sendo destruída, mas mano, sinceramente, também não gosto de morar e dormir no meio da rua, no frio, passando necessidade.”

Dubai 2

Diferente da primeira Dubai, a segunda parte da ocupação de um terreno ao lado pertence ao governo do estado.

Apesar da diferença de titularidade, a Sudema (Superintendência de Administração do Meio Ambiente) informou que fiscaliza todo o território de área verde do estado.

Moradores de Dubai 2 começaram o desmatamento da área de preservação do estado, onde está localizado o Parque das Trilhas. Atualmente meio hectare de Mata Atlântica foi devastado.

Cidade mais quente

Moradores de bairros da Zona Sul de João Pessoa têm poucos espaços de áreas verdes para benefício da população. "A área onde está localizado o bairro de Mangabeira é muito carente de serviços que promovem qualidade natural de vida. Essa ausência de área verde gera impactos socioambientais que atingem a temperatura, com ilhas de calor, formando áreas mais quentes dentro da cidade, bem como, erosão do solo", avaliou Nadjacleia Almeida, professora do curso de Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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