Estudo realizado na PB mostra como a pandemia afeta a vida dos profissionais de saúde
Estudo coordenado por neurologista do HULW-UFPB analisou dados de 710 pessoas de 21 Estados, além do Distrito Federal
Profissionais de saúde do Brasil sofreram impactos na qualidade de vida por causa da pandemia de covid-19, especialmente em relação à dieta, consumo de bebida alcóolica, sono e atividade física. É o que aponta pesquisa coordenada por Isabella Araújo Mota, neurologista do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB/Ebserh), da Universidade Federal da Paraíba e vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
O objetivo do estudo foi detectar mudanças na vida diária e nos hábitos de sono de profissionais de saúde do Brasil bem como avaliar a presença de dor, sua intensidade e impacto na vida diária desse público. A pesquisa foi realizada com 710 profissionais de saúde, dos quais a maioria era formada por mulheres (80,8%); com idade entre 30 e 40 anos (46,6%).
Dentre o público pesquisado, havia predominantemente médicos (41,8%), enfermeiros (13,5%), fisioterapeutas (11,1%) e técnicos de enfermagem (10,3%). Os profissionais que responderam ao questionário estão distribuídos pelo Distrito Federal e 21 dos 26 Estados brasileiros, sendo que 66,9% dos participantes residem na Paraíba.
O estudo aconteceu entre maio a julho de 2020 e foi realizado por meio de um questionário do Google Forms disponibilizado aos profissionais de saúde brasileiros no aplicativo móvel WhatsApp e por meio do site da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Cerca de dois terços do total de profissionais pesquisados reportaram queixas relacionadas ao sono: 25,8% tiveram dificuldade de iniciar o sono; 29,6% relataram dificuldades de manter o sono; e 32,5% de acordar cedo (despertar precoce pela manhã). Entre a população estudada, 25,8% afirmaram que usam algum tipo de medicamento para insônia (e 60,3% desses se automedicavam). Dentre as medicações adotadas para a dificuldade de dormir, estavam: antidepressivos; benzodiazepínicos; medicamentos fitoterápicos; fármacos hipnóticos não-benzodiazepínicos; melatonina.
Além disso, 81,8% dos participantes da pesquisa apontaram mudanças na prática de atividades físicas, com a maioria dos profissionais de saúde parando de se exercitar (53,9%) ou reduzindo a frequência de treino (25,8%). Apenas 9,7% dos professionais relataram aumento na frequência de exercícios físicos durante a pandemia.
A pesquisadora Isabella Araújo Mota, que é neurologista do HULW-UFPB e coordenou a investigação científica, explica que profissionais de saúde são mais suscetíveis a doenças físicas e mentais secundárias à pandemia de covid-19. Segundo o estudo, 41,1% dos participantes referiram dores diferentes das comuns apresentadas em sua vida. Além disso, a frequência do tratamento medicamentoso por esses profissionais (29,2%) foi maior do que o tratamento não medicamentoso (21,8%). “Nós observamos maior prevalência de dor nos indivíduos que classificaram a insônia inicial como intensa ou muito intensa e nos que interromperam as atividades durante a pandemia”, afirma.
A ocorrência de mudanças na dieta alimentar também foi referida por 78,5% dos participantes do estudo, que reportaram especialmente o incremento na ingestão de carboidratos (60,5%). Pouco mais de 30% relataram comer de forma compulsiva; e 30,6% aumentaram a ingestão noturna de comida. A maioria dos entrevistados afirmou que não se acordava no meio da noite para comer (92,7%). O estudo também apontou que 27% dos indivíduos relataram aumento no consumo de bebidas alcóolicas, especialmente vinho (14,2%) e cerveja (11,2%).
A coordenadora da pesquisa ressalta a importância do estudo para um olhar mais sensível para os profissionais de saúde que estão na linha de frente da pandemia de covid-19. "A gente não deve deixar de olhar para os nossos profissionais. Dependemos deles para vencer a pandemia", pontuou.
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