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Pandemia agrava fome nas favelas de João Pessoa, alertam pesquisadores da UFPB

Situação deve piorar com chuvas e enchentes em bairros periféricos da cidade

Por Redação T5 Publicado em
Comunidade santa clara castelo branco
Para moradora da Comunidade Santa Clara, no Castelo Branco I, além de alimentos, são necessários suportes como fogão, panelas, gás de cozinha e água potável Para moradora da Comunidade Santa Clara, no Castelo Branco I, além de alimentos, são necessários suportes como fogão, panelas, gás de cozinha e água potável Foto: Deise Nascimento

“A primeira necessidade é resolver o problema da fome”. Ao ouvirem a declaração sobre a expansão da pandemia de Covid-19 nas favelas de João Pessoa, pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) alertam sobre o aumento da precariedade nos bairros periféricos da cidade.

Dados do boletim do projeto "Direito à cidade e as lutas pelo espaço urbano: necessidades radicais e utopia" revelam que, com as chuvas e enchentes desta época do ano, as periferias da Região Metropolitana de João Pessoa necessitam mais do que equipamentos de proteção sanitária e de limpeza para o combate ao novo coronavírus (Sars-CoV-2).

“A pandemia agrava uma questão que já é um problema histórico do país e que vem piorando nos últimos anos, com a falta de políticas públicas. Nesse momento, o enfrentamento da expansão da pandemia de Covid-19 em lugares já muito precarizados da cidade continua sendo a urgência”, destaca Rafael de Padua, coordenador do projeto.

Para a estudante de Geografia da UFPB e morada da comunidade Santa Clara (no bairro Castelo Branco I, em João Pessoa), Tatiana Pinho, em momentos como o atual (de quarentena e isolamento social), as soluções quando chegam são baseadas na abordagem da favela como "um espaço que precisa de ajuda" e que “essa ajuda é sempre a de provimento”.

De acordo com a estudante, o desamparo de políticas públicas para as comunidades é evidente, mas a apatia da população para reivindicar direitos é ainda maior.

“Na maioria dos casos, a resolução é o envio e a distribuição de cestas básicas e produtos de higiene. Obviamente, essas ações ajudam muito. Mas há certa obscuridade no campo do entendimento sobre a particularidade de cada localidade e suas maiores necessidades”, acentua Tatiana.

Conforme a estudante da UFPB, para resolver o problema imediato da fome, as necessidades básicas nem sempre são alimentos e é preciso o entendimento de que há condições necessárias para transformar mantimento em comida, como fogão, panelas, gás de cozinha e água potável – “o que implica em impedimento para algumas famílias que estão muito precarizadas”.

Outra questão apontada pela pesquisadora da UFPB é em relação às quantidades de mantimentos que são distribuídas e nem sempre dão para todas as famílias.

“No momento da distribuição, todos os moradores querem. Há uma brutalidade e um egoísmo gritantes diante do receio de não consumir. Mesmo em momentos críticos, quando a solidariedade deveria existir, a estrutura de consumo se potencializa e muitos que realmente precisam acabam ficando sem. Há uma disputa para ganhar a ajuda emergencial”, lamenta Tatiana.

O professor Rafael de Padua afirma que as enchentes e os riscos em ocupações, favelas e bairros que estão em fundos de vale ou em encostas têm somado para o avanço da pandemia e da pobreza em João Pessoa.

“Essa é uma questão que revela também o modo que a cidade é produzida e nos leva a refletir sobre os fundamentos sociais (e não naturais) desses processos. A luta neste momento é pelo básico e pela vida, já que ela está em risco. Mas necessariamente é mais ampla. Envolve consciência (pensamento autônomo) e emancipação social”, aponta Rafael.

Análises dos pesquisadores da UFPB sobre a pandemia de Covid-19 revelam que, entre os dias 15 de maio e 3 de junho, a maior porcentagem dos casos se deu em bairros centrais empobrecidos e nas comunidades periféricas da Região Metropolitana de João Pessoa.

“Em 20 dias, chamou a nossa atenção os acréscimos de casos confirmados em bairros centrais como Jaguaribe (468% de aumento) e Centro (419% a mais no período). Entre os periféricos, houve aceleração de casos no Bairro das Indústrias (384%) e Oitizeiro (330%)”, enfatiza o professor da UFPB.



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