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Como refugiados venezuelanos estão vulneráveis na pandemia da Covid-19 em João Pessoa

Grupo de etnia indígena ainda encontra dificuldades após abrigo em uma escola desativada da capital

Por Redação T5 Publicado em
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Os mais pobres sentem mais forte os efeitos da pandemia causada pelo novo coronavírus no mundo. A saúde fica fragilizada aos infectados, que além da incerteza de recuperação, dependem da frágil estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) no país. Quem não é atingido pela doença, sofre os impactos sociais e econômicos, que não poupam quem já vivia em vulnerabilidade, como grupos de refugiados indígenas da Venezuela.

Em João Pessoa, na Paraíba, cerca de 170 índios da etnia Warao foram abrigados nos últimos 30 dias em prédios públicos ou locados pelas gestões municipais e estaduais, com apoio da Igreja Católica. A estrutura de uma escola desativada também é local de abrigo para os venezuelanos.

Sem máscaras, Rafael e a esposa, Maria, com o filho mais novo já brasileiro, de três meses de vida. Escola pública desativada recebe venezuelanos em João Pessoa Foto: Dennison Vasconcelos/RTC

São 48 pessoas que vivem no abrigo improvisado que antes era ocupado por estudantes. As famílias que chegaram primeiro conseguiram ocupar as salas de aula, outras, sem espaço, permanecem aglomeradas no pátio do colégio, onde redes foram instaladas entre poucos objetos pessoais.

Ao deixarem a vila onde viviam em péssimas condições, as famílias de venezuelanos foram cadastradas pela administração municipal, que iniciou um trabalho de atenção básica à saúde e à moradia. Mas segundo Rafael, que fala e compreende bem o português, apenas duas pessoas do grupo recebem o auxílio moradia de R$ 350, fornecido pela Prefeitura de João Pessoa. A assessoria da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) afirmou que pendências de documentação dos imigrantes impossibilitam o depósito do valor do auxílio em uma conta bancária. “Eles precisam estar com documentos, como identidade e Cadastro de Pessoa Física (CPF), para abertura de uma conta bancária para o recebimento do auxílio, que não pode ser entregue em espécie”, disse.

Em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a reportagem questionou o apoio para os refugiados para a abertura das contas correntes e recebimento do benefício. “O entendimento da direção da Funai em Brasília é que os índios venezuelanos não são responsabilidade da fundação. Nós temos colaborado com as solicitações do Ministério Público Federal (MPF), dentro das nossas limitações, e providenciamos abertura de contas na Caixa Econômica Federal, para eles receberem auxílio moradia”, disse. A Funai ressaltou que para abertura de contas na Caixa Econômica Federal (CEF) e a criação do CPF, bastam os documentos que comprovem a situação de refúgio, emitidos na região Norte do país, e a maioria já possui esse registro.

Saúde

Em fevereiro, a Secretaria Municipal de Saúde informou que os cartões SUS dos imigrantes foram expedidos, mas assistência médica também não prosseguiu.

Consciente da pandemia de Covid-19, Rafael teme pela saúde da família que precisa sair de casa todos os dias em busca de alimentação.

Até o momento, não há registro de casos suspeitos de infectados pelo novo coronavírus entre o grupo de venezuelanos, contudo, nenhum teste foi realizado. “Minha mãe que sai todos os dias para rua, ontem estava com um pouco de dor de cabeça. Eu comprei um remédio para ela, que melhorou, mas agora está um pouco gripada” disse, sem pensar na nova doença.

Alimentação

A ação Social Arquidiocesana (ASA) atualmente produz e distribui alimentos e medicamentos fitoterápicos, entre para os venezuelanos abrigados no Centro Social Arquidiocesano, no Centro da capital, e também em uma casa locada no bairro de Jaguaribe, com recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza no Estado da Paraíba (Funcep-PB).

São distribuídas mais de 2,5 mil refeições produzidas, diariamente, por voluntários para beneficiados com os projetos da igreja. “Tem sido um aprendizado para todos nós! No olhar de cada pessoa um pedido de socorro. A fome é uma realidade entre nós. Espero, com sinceridade, que depois de tudo isto, tenhamos aprendido a lição da partilha e da solidariedade e que os poderes públicos olhem com mais justiça pelos pobres”, disse o Padre Egídio de Carvalho, secretário-executivo da ASA.

O projeto da Igreja Católica recebe doações. Saiba como contribuir.

Porém a alimentação não chega a todos. Os abrigados na escola do Ernani Sátiro, a 8 quilômetros de distância do Centro Social Arquidiocesano, tiveram o envio suspenso da comida pronta, fornecida em quentinhas, que foi substituída por cestas básicas. “Em alguns dias chegam dez cestas básicas, cinco frangos, mas não é todo dia”, contou.

A Sedes informou ao Portal T5 que “o próprio líder deles pediu que não fosse mais entregue à alimentação pronta porque não era de acordo com a cultura culinária deles. Então foram entregues cestas básicas para que eles pudessem preparar os alimentos da forma que desejassem” disse a assessoria sem informar a periodicidade das doações.

A cultura de alimentação indígena da etnia Warao não inclui carne bovina; eles se alimentam de peixe, frango e ovos.

Atuação do Poder Público 

Todas as ações promovidas por órgãos públicos foram definidas em fevereiro em uma reunião conduzida pelo MPF e pela Defensoria Pública da União (DPU), depois da pandemia não existiram novos encaminhamentos. Na ocasião há dois meses, representantes de órgãos públicos e entidades se reuniram com lideranças das famílias indígenas venezuelanas. A reunião ocorreu no ginásio do Guarany, quando ainda estavam instaladas no bairro do Róger. Foram definidos encaminhamentos emergenciais e de médio e longo prazo para garantir alimentação, saúde, educação, trabalho e moradia para os indígenas que fugiram da crise humanitária na Venezuela.

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