“Somos todos esquecidos”, diz catadora que sobrevive em lixão, na Paraíba
O que era pra ser um aterro sanitário é, na verdade, um lixão a céu aberto. Ele fica localizado na cidade de Patos, Sertão da Paraíba.
O cenário é de desolação. No meio do lixo, as pessoas dividem o espaço com os urubus. É dali que tiram o sustento de suas famílias. O que era pra ser um aterro sanitário é, na verdade, um lixão a céu aberto. Ele fica localizado na cidade de Patos, Sertão da Paraíba.
Ali os catadores disputam os materiais recicláveis. Mas, para isso se deparam com restos de comidas, e até a lixo hospitalar como seringas, luvas, gases e frascos com medicamentos. Eles reclamam da situação precária e da falta de atenção do poder público. "Fui tirada da Zona Azul, onde eu trabalhava, e agora vivo aqui. O prefeito me jogou no lixão", disse Vitória.
Caso semelhante é o de Dona Leda, de 50 anos. Sem luvas, sapatos e roupas adequadas, a mulher conta que consegue apurar cerca de R$ 200 reais por mês. É com esse dinheiro que ela sustenta seus filhos.
Até crianças são encontradas no local. Aos 11 anos Emily ajuda a mãe a catar o material. Ela tem outros irmãos que também dividem a mesma tarefa.
"Somos todos esquecidos", desabafou Márcia, outra catadora. O semblante é cansado de quem se expõe ao sol e não utiliza os equipamentos de proteção individual. Por quilo, eles recebem 20 centavos. Esse valor sobe quando eles encontram cobre. "O produto mais valioso é o cobre, mas é também o mais difícil", explicou.
Daniel faz do 'lixão' sua fonte de renda. Ele informou que consegue até R$ 300 reais por mês. Diante da situação, o rapaz contou que chegou a levar carne para casa.
Fui tirada da Zona Azul, onde eu trabalhava, e agora vivo aqui. O prefeito me jogou no lixão.
Vitória, catadoraO que diz a lei – O prazo previsto na Lei 12.305 de 2010 determinava que os lixões seriam todos fechados no Brasil até o dia 3 de agosto de 2014. Contudo, o prazo encerrou-se e uma subcomissão temporária do Senado Federal propôs a extensão dessa exigência.
Considerando os prazos atuais, pela proposta aprovada em plenário, capitais e municípios integrantes de regiões metropolitanas ou de regiões integradas de desenvolvimento têm até 31 de julho de 2018 para acabar com as atividades do lixão. Municípios com população superior a 100 mil habitantes até 31 de julho de 2019; municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes até 31 de julho de 2020; e municípios com população inferior a 50 mil habitantes até 31 de julho de 2021.
A cidade de Patos é considerada a quinta maior economia da Paraíba. O município tem cerca de 110 mil habitantes e lá o prazo para extinção do lixão é 31 de julho de 2019. O vereador Ivanes Lacerda (PMDB) disse que a Prefeitura pouco faz para resolver o problema.
"O lixão de Patos é a maior chaga social, uma ruptura do tecido social da nossa cidade. É uma causa que há bastante tempo demanda cuidados. Em efeitos práticos, a municipalidade não tem feito nada. Fala-se muito, mas fica no discurso. Fala-se que vai até Brasília buscar recursos para construir um aterro sanitário, mas eu entendo que a melhor proposta seria uma parceria público-privada para que se construa o mais rápido possível. Não dá mais para esperar. O aterro sanitário é algo para ontem. Já estamos vencidos”, analisou.