Relatório aponta que mais de 1 milhão de usuários compartilham pornografia no Telegram
O relatório analisou 874 links denunciados por conterem imagens de abuso e exploração sexual infantil
Um relatório da SaferNet, ONG que atua na promoção dos direitos humanos na internet, revelou que 1,25 milhão de usuários do aplicativo de mensagens Telegram estão envolvidos em grupos ou canais que compartilham e vendem imagens de abuso sexual infantil e material pornográfico. Entre essas comunidades, uma delas, ainda ativa, conta com 200 mil usuários.
Intitulado "Como o Telegram tem sido usado no Brasil como um espaço de comércio virtual por criminosos sexuais", o relatório foi entregue à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, à Polícia Federal e a autoridades francesas, que também investigam crimes na plataforma. Recentemente, essas investigações levaram à prisão do fundador do Telegram, Pavel Durov, na França. Ele responde em liberdade, mas está proibido de deixar o país.
O relatório analisou 874 links denunciados por conterem imagens de abuso e exploração sexual infantil. Desse total, 149 links permaneciam ativos sem restrição pela plataforma. Além disso, a SaferNet encontrou mais 66 links inéditos com conteúdos criminosos.
De acordo com Thiago Tavares, presidente da SaferNet, muitos dos links ativos estavam associados à compra e venda de imagens de abuso sexual infantil, criando uma espécie de "feira livre" de crimes digitais. No Brasil, a posse, divulgação e comercialização de material sexual envolvendo crianças e adolescentes são crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Investigações e denúncias
A SaferNet também identificou o uso de bots para gerar novas imagens pornográficas mediante pagamento, facilitando ainda mais o comércio de material ilícito. Os criminosos utilizam criptomoedas e processadores de pagamento em 23 países, incluindo empresas sancionadas internacionalmente.
Tavares alertou que esses mecanismos violam normas do Banco Central e podem estar ligados à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. A ONG pediu ao MPF que notifique o Banco Central e a Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro, para fortalecer a regulação no setor.
Telegram na mira de denúncias
O Telegram lidera o número de denúncias sobre pornografia infantil na SaferNet. Desde 2021, o aplicativo está entre os dez domínios com mais links associados a esse tipo de crime. Além disso, há anos o Telegram é criticado por não remover comunidades que promovem discriminação racial, ataques à democracia e apologia ao nazismo.
O Telegram não respondeu às tentativas de contato da Agência Brasil até o fechamento desta reportagem.
Como denunciar
Denúncias de páginas com conteúdo de abuso sexual infantil podem ser feitas na Central Nacional de Denúncias da SaferNet Brasil (https://new.safernet.org.br/denuncie) ou pelo Disque 100. No Telegram, os usuários também podem denunciar grupos ou canais pelo e-mail [email protected].