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Opinião: fake news “enlatadas” reforçam munição de negacionistas no Brasil

Neste A Semana em Fakes, Edgard Matsuki, editor do Boatos.org, fala sobre notícias falsas “importadas” de negacionistas no exterior que atrapalham o combate à desinformação da pandemia aqui no Brasil.

Por Renata Nunes Publicado em
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Não é de hoje que o Brasil se mostra terreno fértil para importação de produções estrangeiras. De filmes, séries, novelas e até ideias de programas (como os reality shows), nosso país tem tradição em consumir “enlatados” (alguns com qualidade mais do que duvidosa). Quando falamos de fake news, o consumo se repete.

Não é de hoje que notícias falsas que surgiram em outros idiomas “ganham” uma tradução em português e fazem sucesso no Brasil. Porém, o movimento se intensificou nos últimos dias. Graças a publicações em sites no exterior conhecidos por ligações com movimentos de extrema-direita e antivacinas, sites brasileiros “especializados” em republicar notícias de “parceiros do exterior” desinformam sobre a pandemia. Na última semana, tivemos quatro conteúdos novos desta natureza.

Um deles aponta que o fungo negro (que tem relação com diversas mortes na Índia) teria sido causado pelo uso de máscaras pela população. A informação surgiu em um site de um médico que (de “tão bom”) perdeu o registro médico no Reino Unido e não tem nenhum lastro na realidade. No Brasil, começou a ser compartilhado como uma “verdade” dita por um especialista.

Outra informação falsa “importada” que circulou na última semana apontava que Anthony Fauci (virologista criticado diversas vezes pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump) teria escrito que o coronavírus foi modificado por “engenharia genética”. Com o intuito de acusar a China de ter criado o Sars-CoV-2, o texto foi publicado em sites conspiracionistas de péssima qualidade nos EUA e foi replicado por sites do mesmo naipe no Brasil.

Claro, as vacinas não poderiam ficar de fora desse movimento. Nesta semana, desmentimos duas notícias falsas sobre imunizantes que surgiram em sites do exterior. Uma delas falava sobre “a prova” de que vacinas mRNA causam problemas de fertilidade por ter “nanopartículas mRNA” sendo espalhadas no corpo. A informação não procedia. A pesquisa que “serviu como base” falava que, em poucos dias, as nanopartículas sumiam do corpo humano e não causavam nenhum problema. É claro que os “tradutores de plantão” se esqueceram de contextualizar e criaram mais um ataque às vacinas.

Outra notícia falsa que chamou atenção foi a que apontava, de forma errada, que vacinados seriam proibidos de viajar de avião. Apesar de a história (que nem é tão recente) já ter sido desmentida por companhias aéreas e sites de checagem no exterior, foi importada por sites que sequer se importaram (ou não quiseram mesmo) fazer uma checagem.

Há duas hipóteses de motivações para que tanto conteúdo falso do exterior seja traduzido por sites no Brasil. A primeira e mais óbvia está no desejo de quem tem as páginas conspiracionistas de conseguir “cliques” (e, consequentemente, lucro) de forma fácil. Afinal, por que produzir um texto “do zero” se você pode pegar um conteúdo que é “nitroglicerina”, jogar no Google Translate, adaptar e postar (infelizmente, tem gente que pensa nisso sem se importar na veracidade do conteúdo)?

A segunda é de que haja uma espécie de “parceria” (mesmo que tácita) entre conspiracionistas do Brasil e do exterior para fortalecimento de pautas que, sinceramente, só negacionistas se prestariam a defender. Alguém duvida que possa existir movimentos assim no mundo das fake news?



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