Não sou mais refém de um sistema judicial tendencioso, diz Ghosn
Ghosn afirmou ainda não estar fugindo na justiça, mas sim de perseguições políticas.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn disse, em nota enviada à imprensa nesta terça-feira (31), que está no Líbano e não é mais refém de um sistema judicial tendencioso. "Não sou mais refém de um sistema judicial japonês tendencioso, onde prevalece a presunção de culpa, a discriminação é generalizada e os direitos humanos são violados, em total desrespeito às leis e tratados internacionais", disse.
Ghosn afirmou ainda não estar fugindo na justiça, mas sim de perseguições políticas. "Eu me libertei da injustiça e da perseguição política. Agora posso finalmente me comunicar livremente com a mídia e estou ansioso para começar na próxima semana."
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Carlos Ghosn, ex-presidente da Renault-Nissan, deixou o Japão, onde aguardava julgamento por suposta irregularidade financeira, e foi para o Líbano. Ele aterrissou no aeroporto internacional Rafic al Hariri, na noite de domingo (29), em um jato particular, segundo a mídia local. Ghosn, nascido no Brasil, tem nacionalidade libanesa, além de francesa. Há muito tempo ele é encarado como um dos homens de negócios expatriados mais bem sucedidos do Líbano, a terra de seus pais.
Ele é sócio de diversas empresas no país, incluindo uma vinícola, e o governo do Líbano intercedeu em seu favor depois de sua detenção no ano passado. Ghosn, no passado celebrado por ter revertido a situação de montadoras de automóveis problemáticas, caiu em desgraça em um dos casos corporativos mais dramáticos dos últimos dez anos, depois de ser detido no aeroporto em novembro de 2018, no Japão, sob quatro acusações de delitos financeiros de conduta. No país, mais de 99% dos indiciados são condenados. Mesmo que seja absolvido, os promotores podem recorrer à Suprema Corte, arrastando o caso por mais alguns anos.
O executivo nega qualquer irregularidade, e a família dele afirma que Ghosn recebeu tratamento desumano enquanto estava preso no Japão. A Nissan afirma que Ghosn declarou remuneração pessoal inferior à real, e dois relatórios financeiros identificam que ele deixou de declarar mais de US$ 80 milhões em remuneração postergada. O executivo negou todas as acusações movidas contra ele pelos promotores da Justiça japonesa, e a Comissão de Vigilância de Títulos e Bolsas do Japão (Sesc, na sigla em inglês) contestou algumas conclusões de um inquérito interno da Nissan, na metade de dezembro. No entanto, a agência regulatória também multou a Nissan em US$ 22 milhões por ter declarado valores inferiores aos reais quanto à remuneração de Ghosn durante quatro anos. Os procuradores públicos japoneses montaram seu caso em parte com dados encontrados em um computador obtido no Líbano de um dos auxiliares de Ghosn.
Leia declaração de Carlos Ghosn na íntegra: Eu me encontro no Líbano neste momento. Não sou mais refém de um sistema judicial japonês tendencioso, onde prevalece a presunção de culpa, a discriminação é generalizada e os direitos humanos são violados, em total desrespeito às leis e tratados internacionais que o Japão tem ratificado e que é obrigado a respeitar. Não fugi da justiça -eu me libertei da injustiça e da perseguição política. Agora posso finalmente me comunicar livremente com a mídia e estou ansioso para começar na próxima semana.
1996 - Carlos Ghosn deixa a Michelin após 18 anos e assume o cargo de vice-presidente da área de compras na Renault 1999 - Renault compra participação majoritária na Nissan e Carlos Ghosn é designado chefe de operações da montadora japonesa. Surge a Aliança Renault Nissan 2001 - Ghosn acumula os cargos de CEO e presidente do conselho da Nissan 2005 - o executivo se torna também o CEO da Renault 2010 - Aliança Renault Nissan assina acordo de cooperação com a alemã Daimler, dona da Mercedes-Benz, para o desenvolvimento de motores e veículos 2016 - Nissan obtém o controle acionário da japonesa Mitsubishi, que também passa a ser presidida por Carlos Ghosn 2017 - Ghosn deixa a presidência da Nissan e passa a cuidar mais de assuntos de governo, com o objetivo de expandir a Aliança