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Com manifestação pacífica, Caracas vive dia de tensões

Por Redação T5 Publicado em
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Um senhor de cerca de 60 anos, com uma bandeira da Venezuela amarrada aos ombros, se postou diante de uma fileira de oficiais das Forças Armadas Bolivarianas da Venezuela (Fanb), no começo da tarde deste sábado (4), e leu em voz alta a breve e evasiva carta do líder opositor Juan Guaidó aos militares.

Assim como em outros 22 pontos de Caracas, o grupo de oficiais ouviu quieto o texto que fala da necessidade de adesão das Forças Armadas para "este momento crucial de mudança para uma Venezuela pujante, democrática, significativa, gloriosa com a que sonharam os fundadores da pátria".

O que em vários pontos culminou apenas com a leitura do documento, seguido da dispersão da população, em Chacao (Caracas) ganhou um pouco de eletricidade, quando o oficial recebeu a carta das mãos do homem, acendeu um isqueiro com a outra mão e a queimou, mostrando-a à multidão, que então o vaiou.
No geral, a manifestação oposicionista deste sábado ocorreu de modo contido, pacífico e tenso.

A capital estava tomada por agentes da polícia, do Exército e da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) que amedrontaram muitos cidadãos que haviam saído ou pensado em sair de casa para protestar. Na terça (30) e quarta (1º), as forças de segurança leais ao ditador Nicolás Maduro reprimiram com violência os protestos da oposição, deixando cinco manifestantes mortos.

"Estamos esperando que junte mais gente, ninguém quer ser isca da Guarda Nacional", afirmou à Folha de S.Paulo Willy Fernández, 21, um jovem que, com amigos, espiava a movimentação do lado oeste da cidade. Ele disse que um colega havia sido ferido durante a semana.
"Não temos medo, mas já perdi vários amigos. As pessoas precisam vir em massa, senão, não funciona", afirmou.

A mesma cautela se viu do lado leste da cidade, onde pessoas se reuniam em padarias, em grupos, esperando a melhor hora de sair.

"Queremos ir protestar, mas vamos esperar juntar gente antes", disse Aleida Michelino, 34, que tomava café com amigas usando camiseta da seleção venezuelana, em uma padaria de Altamira.

As cartas foram lidas, porém, diante de vários oficiais em Caracas, em atos rápidos em vários dos pontos. Como a ideia era se aproximar muito das bases militares, os cidadãos que foram tiveram medo de permanecer muito tempo.

Lia-se o documento e saía-se em retirada. Comparado ao ato de terça, quando Guaidó e o também líder opositor Leopoldo López –ambos do partido Vontade Popular– chamaram as pessoas às ruas, ou ao de quarta, o deste sábado estava mais diluído e menos volumoso, com uma presença intensiva das tropas nas ruas.

Por outro lado, voltou com força o uso das "guarimbas", espécie de cerco informal construído por moradores com materiais de construção, sacos de lixo em chamas, pedras e vidros quebrados no chão. O objetivo é impedir a entrada de oficiais motorizados nas ruas, principalmente nas que vivem deputados opositores e outras figuras buscadas pela ditadura de Nicolás Maduro.

No meio da tarde, uma pequena multidão tomou a praça Altamira, no leste de Caracas. Entre vários manifestantes pacíficos, havia um grupo de encapuzados preparando coquetéis molotov e gritando "sim, é possível". Do outro lado da mesma praça, jovens distribuíam flores à população.

A presença de Guaidó era anunciada em alguns desses pontos, mas ele não apareceu –segundo sua assessoria de imprensa, por questões de segurança.
Devido à intensa repressão e policiamento dos últimos dias, o opositor permaneceu a maior parte da semana escondido em embaixadas ou na casa de aliados, sem que seu paradeiro fosse conhecido. Já Leopoldo López, o outro líder do movimento, permaneceu com a família na embaixada da Espanha.

A Justiça venezuelana emitiu uma ordem de prisão contra ele e pediu que os espanhóis o devolvam para que volte a cumprir sua sentença, mas Madri disse que não vai entrega-lo. López tem ascendência espanhola, mas não a cidadania, portanto seu status ali é uma espécie de limbo diplomático.

Em Aragua, uma emboscada feita por apoiadores da oposição deixou quatro oficiais do Exército e dois policiais mortos. Houve ainda enfrentamentos nos Estados do norte do país, mas o número de vítimas não foi divulgado.

Maduro realizou, pela manhã, exercícios militares com cadetes, e pediu a eles coragem para enfrentar esse momento de crise, "em que há uma ameaça de invasão por parte dos Estados Unidos".

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse em mensagem em uma rede social que os Estados Unidos estão do lado do povo venezuelano "na busca por liberdade e democracia". "Sua bravura [dos venezuelanos] e vozes colocarão a Venezuela no caminho para a liberdade e a prosperidade".

Folhapress

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