Temendo 'fake news', Índia realiza maior eleição do mundo
Executivos do WhatsApp já declararam que partidos políticos estavam violando as regras de uso da plataforma ao usar sistemas automatizados para fazer disparos em massa de mensagens ou para espalhar fake news.
Começa na quinta-feira (11) a maior eleição do mundo: em sete fases ao longo de quase seis semanas, cerca de 900 milhões de eleitores votarão na Índia.
Uma das principais preocupações no pleito é o abuso das redes sociais pelas principais siglas durante a campanha.
Executivos do WhatsApp já declararam que partidos políticos estavam violando as regras de uso da plataforma ao usar sistemas automatizados para fazer disparos em massa de mensagens ou para espalhar fake news. As autoridades eleitorais tentam impor uma série de restrições.
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O WhatsApp é uma das principais armas da campanha do BJP (Bharatiya Janata Party, ou Partido do Povo Indiano), do atual primeiro-ministro, Narendra Modi, e da maior legenda adversária, o Congresso, que se acusam mutuamente de espalhar notícias falsas para influenciar eleitores.
Nas eleições de 2014, Modi foi pioneiro no uso de mídias sociais. Na época, ele obteve vitória acachapante contra o partido do Congresso.
Nas eleições deste ano, o primeiro-ministro e seu partido mantêm seu favoritismo, apesar de o desemprego recorde no país ter corroído parte da popularidade do político nacionalista hindu.
O oposicionista partido do Congresso, liderado por Rahul Gandhi, herdeiro da dinastia Nehru-Gandhi, fez uma grande aposta para tentar reverter a maioria do BJP na Lok Sabha, a câmara baixa do parlamento indiano, que tem 545 representantes.
O Congresso propôs um programa de renda mínima para 50 milhões das famílias mais pobres do país. Segundo Gandhi, esse seria o maior programa de garantia de renda do mundo e eliminaria a pobreza na Índia, ao mesmo tempo em que seria fiscalmente sustentável. O projeto custaria cerca de US$ 52 bilhões (o equivalente a R$ 201 bilhões), e a sigla não especificou de onde viriam os recursos.
O programa, chamado de Nyay (Justiça), garantiria uma renda anual de US$ 1.050 (R$ 4.056) para cerca de 250 milhões de pessoas.
O BJP argumenta que os programas de redução de pobreza existentes garantem um apoio maior a essas famílias. A Índia tem mais de 900 programas federais de auxílio aos pobres, entre eles alimentos e fertilizantes subsidiados, garantia de empregos rurais e bolsas de estudo.
No dia 2 de abril, o Congresso lançou seu manifesto para a eleição, em que critica o partido governante por "dividir a nação e espalhar o ódio". No mandato de Modi, multiplicaram-se os episódios de violência da direita nacionalista hindu contra muçulmanos e castas mais baixas.
Mesmo assim, analistas continuam apostando na vitória do BJP nas urnas.
Segundo Akhil Bery, analista de Sul da Ásia da consultoria Eurasia, a probabilidade de o partido do Congresso voltar ao poder é de apenas 15%. O BJP provavelmente perderá sua maioria na Lok Sabha, mas manterá o controle por meio de uma coalizão, prevê.
Modi conseguiu turbinar sua popularidade com os recentes atritos com o Paquistão na Caxemira. A disputa pela região, que remonta à época da Partição da Índia pós-independência, em 1947, e o apoio do governo paquistanês a extremistas que fazem ataques terroristas no território indiano são questões explosivas para o eleitorado local.
As Forças Armadas indianas enfrentaram o Paquistão no mês passado, o que gerou uma onda de fervor patriótico no país de 1,3 bilhão de habitantes.
"As tensões recentes foram um grande ganho para o primeiro-ministro, porque reforçaram sua imagem de líder forte. Antes dos ataques, a oposição tinha ganho certo embalo e chegou-se até a falar em uma possível substituição de Modi no BJP caso ele não fosse bem; mas, desde então, todo o embalo que a oposição tinha ganho desapareceu", disse Bery.
"O foco agora é em Modi dizendo que irá fazer tudo o que for necessário para proteger a nação, uma mensagem que reverbera em vários estados", afirmou o analista.
O BJP está no poder desde 2014, quando deu uma sova no partido do Congresso, graças ao carisma de Modi e uma plataforma que une nacionalismo hindu e modernização econômica.
Mas o partido sofreu derrotas em eleições estaduais em 2018 e está sob pressão por causa do alto índice de desemprego no país.
Um relatório que o governo queria manter secreto, mas que vazou para jornais indianos, mostra que a taxa está em 6,1%, a mais alta desde 1972-73. Não parece tão alta, até que se compare com 2011-12, quando era de 2,2%.
A desocupação é especialmente alta entre jovens de 15 a 29 anos –na Índia urbana, 18.7% dos homens e 27,2% das mulheres nessa idade estão procurando emprego, e 17,4% dos homens e 13,6% das mulheres na zona rural.
Modi atraiu volume recorde de investimentos estrangeiros, primou pela ortodoxia fiscal e fez importantes reformas microeconômicas, como a adoção da lei de falências. Mas uma sucessão de equívocos tirou o brilho de sua gestão na economia.
A "desmonetização" de 2016 –retirada de notas para coibir a informalidade– foi um fiasco que acabou em confusão e falta de dinheiro no país. O ambicioso imposto sobre bens e serviços, embora necessário, teve implementação atabalhoada. E a queda dos preços agrícolas vem enfurecendo os agricultores, eleitorado precioso no país ainda 66% rural.
Mesmo assim, Modi ainda tem o apoio da motivada militância hindu e continua usando de forma muito eficiente as redes sociais, como outros líderes populistas de direita.
A divisão da oposição e os problemas de imagem do partido do Congresso por causa de escândalos de corrupção aumentam o favoritismo do atual primeiro-ministro.
"É muito improvável que o Congresso consiga formar uma coalizão", diz Bery.
"Boa parte da oposição não está unida, está competindo entre si e dividindo os votos, o que ajuda o BJP. Se a oposição conseguisse se unir em torno de um único candidato a primeiro-ministro e focar a campanha em temas econômicos locais, aí talvez houvesse uma chance, mas isso não está acontecendo." Patrícia Campos Mello/FolhaPress
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