Relatório mostra que investigadores lutaram contra investidas de Trump para barrar processo
Relatório do procurador especial Robert Mueller sobre a influência da Rússia nas eleições americanas de 2016 indica que não houve conspiração da campanha de Donald Trump com o Kremlin, mas afirma que os investigadores lutaram contra investidas do presidente para tentar obstruir a Justiça e barrar as apurações.
Segundo versão editada do relatório entregue ao Congresso nesta quinta-feira (18) pelo secretário de Justiça dos EUA, William Barr, Trump tentou demitir Mueller ao longo do processo.
Antes disso, ao saber da nomeação do procurador para cuidar do caso, disse: "Meu Deus, isso é terrível. Esse é o fim da minha Presidência. Estou fodido" -a reação é transcrita em nota pela equipe do antecessor de Barr, Jeff Sessions, demitido por Trump.
Esse é um dos dez episódios analisados por Mueller para tentar provar uma possível obstrução de Justiça por parte do presidente. Segundo o relatório, porém, não há evidências suficientes para acusar Trump de ter cometido o crime, apesar de não ser possível isentá-lo de tal prática.
"Não podemos chegar a esse julgamento [de obstrução de Justiça]. Por conseguinte, embora este relatório não conclua que o presidente tenha cometido um crime, também não o isenta", afirma o documento.
Outro ponto levantado por Mueller é a demissão do então diretor do FBI James Comey, que relutava em declarar publicamente que o presidente não estava pessoalmente sob investigação.
Para o procurador especial, os esforços de Trump para barrar a investigação não deram certo porque muitas pessoas que o cercam se recusavam a cumprir ordens nesse sentido.
Nas 448 páginas do relatório, Mueller afirma ainda ter identificado numerosos contatos entre autoridades russas e assessores da campanha de Trump durante e depois da eleição -alguns em razão de negócios, outros por questões políticas, diz o texto. Mas não estabeleceu que esses contatos resultaram em uma conspiração ilegal.
O documento aponta que a campanha de Trump esperava "se beneficiar eleitoralmente" da atuação da Rússia que, via ataques hackers, roubou informações do comitê da então candidata democrata, Hillary Clinton.
Mais cedo, durante coletiva de imprensa, Barr afirmou que discordava de teorias jurídicas usadas por Mueller ao analisar se Trump obstruiu ou não a Justiça.
Segundo o secretário, os dez episódios listados por Mueller que mostram autoridades policiais lutando para fazer avançar as investigações não constituíram obstrução "por uma questão de lei".
O conhecimento de detalhes da apuração deve inaugurar mais uma etapa da batalha política travada por Trump, já que integrantes do Partido Democrata e da equipe de Mueller acusavam Barr de moderar as descobertas para proteger o presidente.
Ninguém em Washington espera, porém, a aparição de qualquer fato novo que ameace a presidência de Trump.
Barr manteve em sigilo no relatório informações de quatro categorias: material do júri; detalhes que podem prejudicar apurações em andamento -procuradores em Nova York ainda investigam as finanças de Trump e pagamentos que ele teria feito para esconder casos amorosos na época da eleição; dados que potencialmente comprometem fontes e métodos dos investigadores, incluindo informantes do FBI; e o que indevidamente viole a privacidade e a reputação dos envolvidos.
Segundo o jornal americano The New York Times, as informações que chegam ao público a partir de agora não são necessariamente uma novidade para Trump. Isso porque autoridades do Departamento de Justiça dos EUA tiveram várias conversas com integrantes da Casa Branca nos últimos dias para debater as conclusões do relatório.
As reuniões, afirmam fontes do governo, ajudaram a equipe jurídica do presidente a preparar respostas e a criar uma estratégia diante do relatório.
Na manhã desta quinta, Trump se manifestou via Twitter falando sobre perseguição.
No saldo final da investigação de Mueller, seis assessores do presidente foram indiciados ou condenados por crimes, a maioria por conspiração ou por mentir aos investigadores -mas o inquérito termina sem acusar nenhum americano de conspirar com a Rússia.
Aliados de Trump estavam bastante preocupados nas últimas semanas porque a versão redigida do relatório de Mueller iria deixar claro quais auxiliares colaboraram com as investigações, o quanto eles disseram e o quanto prejudicaram, com as informações que passaram, a imagem do presidente.
FolhaPress