Quadrilhas juninas se reinventam e mantêm viva a tradição e o brilho durante a pandemia
Ficou um vazio, igual canjica sem canela, forró sem sanfona, céu sem fogos de artifícios coloridos, mês de junho sem fogueira. Mas será mesmo que o calor da paixão pelo São João esfriou?
Um balde de água gelada na brasa da fogueira de São João. Foi assim que a pandemia de Covid-19 veio para os amantes da grandiosidade e do brilho da festa no meio do ano. Ficou um vazio, igual canjica sem canela, forró sem sanfona, céu sem fogos de artifícios coloridos, mês de junho sem fogueira. Mas será mesmo que o calor da paixão pelo São João esfriou?
Se depender de Kelson Odilon e de Cléo Carvalho, não! É que os dois são quadrilheiros da junina Ubando, de João Pessoa, que – enfrentando os desafios – foi fundada há um ano, na noite de São João.
Kelson é tecnólogo em logística e entrou na Ubando por amor à dança e ao São João. Sentimento comum, inclusive, à maioria das pessoas que dançam em quadrilhas juninas. Já para Cléo, é difícil explicar. “É amor, é paixão, é uma coisa fora do normal”, disse ela.
Com o propósito “de sentir novamente o prazer de fazer parte de uma história e de trazer de volta o velho sentimento de quadrilha na comunidade e para a comunidade”, a quadrilha junina Ubando foi criada por Renan Marinho e George Costa no ano passado. A junina que carrega o lema ‘Do jeito que a gente quer, do jeito que a gente gosta’ surgiu da “necessidade de resgatar o sentimento pelo junino e a forma de fazer quadrilha”, declarou George, co-fundador e vice-presidente da quadrilha.
O que a junina Ubando e todas as outras quadrilhas não contavam é que iriam ficar dois anos longe dos palcos e do público. Por causa da pandemia, as atrações com as quadrilhas juninas precisaram ser canceladas. Afinal, elas mobilizam muitas pessoas.
“É bem complicado. Chega até a emocionar quando a gente fala sobre ficar dois anos parados, longe dos tablados, sem se apresentar para o público - que é uma coisa extraordinária: você vê todos aqueles olhinhos olhando para você quando você tá dançando é uma coisa inexplicável”, contou Cléo ao Portal T5.
Para Kelson, a saudade é “da energia que vem dos ensaios, das amizades que se renovam neste tempo”.
Como a possibilidade de ter um São João presencial em 2020 era muito pequena, a quadrilha Ubando tinha esperança de que este ano se apresentaria presencialmente.
“Desde ano passado trabalhamos todos os quesitos, como tema, coreografias, figurino... foi um trabalho árduo e muito mais dificil perante nossa realidade”, contou o vice-presidente da quadrilha junina. “É até frustrante”, completou ele, garantindo que as expectativas que não foram realizadas se confortam em saber que a saúde e a vida sempre serão as prioridades.
Na Capital paraibana não terá evento de São João presencial. Porém, com o apoio da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), a Liga das Quadrilhas Juninas vai realizar, de 27 a 30 de junho, o Festival Virtual das Quadrilhas Juninas de João Pessoa. Uma iniciativa que pode “fortalecer o movimento junino em João Pessoa e mostrar que a luta de manter essa cultura viva persiste”, acredita George Costa.
“O coração chega bate forte quando a gente pensa que vai ter como dançar esse ano. E assim, é uma coisa fora do comum, dançar novamente”, disse Cléo animada para o evento on-line.
Os ensaios da Ubando para o Festival Virtual estão acontecendo seguindo “todos protocolos orientados pela secretaria de Saúde”, garantiu George. Foi preciso se adaptar à nova realidade. Para esses encontros, “o acesso é restrito aos participantes, com uso de máscara, aferição de temperatura na entrada e uso álcool gel a cada intervalo”, disse ele.
A esperança de dias melhores é o combustível para os quadrilheiros seguirem acreditando que voltarão aos palcos e com público.
Para 2022...
“Espero que possamos ter de volta o calor e o prestígio do público”, resumiu George Costa.
“Ansiosíssimo para podermos viver o que não vivemos – numa intensidade bem maior – e acredito que dando mais valor, pois só damos valor as coisas quando as perdemos, só reconhecemos o quanto nos faz bem quando somos impossibilitados de viver”, disse Kelson.
“Eu espero estar dançando dentro de um pavilhão, de um tablado, de um ginásio… eu espero de todo coração que aconteça o nosso São João. Que a gente possa se apresentar e mostrar nossa cultura – que é linda, maravilhosa. Vamos abrilhantar o São João ano que vem. Eu creio”, declarou Cléo.
Para acompanhar o Festival Virtual de Quadrilhas de João Pessoa, acesse o canal do evento no YouTube e @ligadasquadrilhasjppb no Instagram.