Chão sagrado: a memória viva do esporte nos estádios de João Pessoa
A história do esporte e o sentimento pelas praças esportivas da capital paraibana.
A história dos esportes em João Pessoa está diretamente ligada às praças esportivas fixas da capital de todos os paraibanos. Além do vôlei de praia, onde o estado e a cidade são referências – com grandes disputas e jogos memoráveis nas areias das praias de Cabo Branco e Tambaú, outras modalidades são destaque nos estádios Almeidão, Graça e na Vila Olímpica. Esta última que, nas contagens do rei, foi palco do gol de número 999 de Pelé – e há quem duvide da numerologia elevando aquele pênalti ao milésimo tento do maior da história.
Um dos mais antigos estádios de João Pessoa é o da Graça. Hoje palco de reformas e melhorias que vão do gramado à estrutura física, o complexo situado no bairro de Cruz das Armas – um dos maiores da cidade, foi fundado em 1944. São 77 anos de pujança ao bairro. Além de partidas profissionais, é um dos equipamentos usados pela comunidade local em jogos festivos e nos fins de semana. O dia de maior público aconteceu há 19 anos, em 2002. Na ocasião, o Botafogo-PB recebeu o Sport Recife pela Copa do Nordeste. Foram quase 7 mil vozes ecoando no encontro de gigantes da região, que teve vitória do Rubro-Negro pernambucano por 3 a 0.
Entrada do estádio da Graça, em João Pessoa. Foto: Divulgação / Secom-JP
O historiador e jornalista apaixonado por futebol, Lorenzo Di Serpa, lembra bem de momentos vividos no palco de tantas emoções. "O estádio Leonardo da Silveira, o popular campinho da Graça, foi o palco principal do campeonato paraibano de profissionais por vários anos. Era ali também onde ocorria os amistosos interestaduais da época. Ali assisti Garrincha jogar com a camisa do Botafogo PB, em 1973. Ali assisti Agnaldo Temoteo cantar no intervalo do jogo amistoso Botafogo PB x Botafogo RJ. As partidas preliminares eram muito prestigiadas pelos torcedores que acompanhavam as revelações. Havia um poleiro de madeira, em uma árvore de uma casa, ao lado da Graça. Um dia ele superlotou e despencou, ficando vários torcedores pendurados. Tinha vários torcedores folclóricos que eram por nóss conhecidos.
A graça perdeu o seu status com a inauguração do Almeidão", destacou.
Estádio da Graça vive revitalização do gramado e estrutura. Foto: Secom-JP
A cerca de cinco quilômetros dali está o Gigante do Cristo. O estádio Almeidão é o maior do estado, com capacidade limitada hoje a pouco mais de 19 mil pessoas. Clubes da capital e região como Botafogo-PB, Auto Esporte, São Paulo Crystal e João Pessoa Espectros são mandantes frequentes.
Estádio Almeidão, em João Pessoa | Foto: Cristiano Sacramento / RTC
Foi palco de algumas das maiores conquistas do futebol de campo e americano no estado. Do título de Campeão Brasileiro da Série D conquistado em 2013 ao vice-da Copa do Nordeste em 2019, viu o Fantasma – apelido do Espectros, levantar o troféu de campeão do Brasil Bowl em 2015 e ser vice em 2018. A área externa é habitualmente preferência de jovens atletas – profissionais ou não, para uma caminhada ao ar livre. A cada passo, a eminência de um um novo talento.
"Já o estádio Almeidão, inaugurado em 1975, nos proporcionou participar de campeonatos nacionais, passamos a ter público feminino nos jogos, a busca da profissionalização dos clubes, o despertar de jovens em ser jogador profissional. Estive no jogo inaugural, quando jogaram Botafogo PB e Botafogo RJ. Também estive, no mesmo ano, na inauguração dos refletores, quando jogaram Auto Esporte Clube e Flamengo do Rio de Janeiro. Lamento muito o estádio nunca ter sido concluído. A sua maior glória e conquista foi o título nacional de 2013, conquistado brilhantemente pelo Botafogo PB", apontou Serpa.
Espectros no Almeidão | Foto: Reprodução / Twitter
O Almeidão tem status de casa. Em João Pessoa, é a casa do Alvinegro da Estrela Vermelha - o Botafogo-PB. Tamanha paixão pelo sagrado lugar, fez o corretor de imóveis Sérgio Costa trazê-lo para casa, literalmente. Ele é autor de uma maquete feita com milhares de palitos de fósforo.
"Sempre falo que o Almeidão pra mim é uma segunda casa. É o final de semana de lazer que eu mais gosto. É o encontro com amigos para tomar aquela cerveja e assistir o futebol do meu clube do coração, o Botafogo-PB da Paraíba. Não é atoa que dispus um tempo para dar vida a essa ideia, construir a mininatura em palitos de fósforo. Adoro o Almeidão, é sempre uma grande energia chegar lá", afirmou.
Imagem: Reprodução / Sérgio Costa / Arquivo Pessoal
"A inspiração da miniatura surgiu do Camp Nou. Vi uma arte parecida e daí disse:' vou fazer um do Almeidão'. Começei a colar os palitos, a cada jogo ficava atento aos detalhes. E aí surgiu essa grande obra de grande importância pra mim", completou.
Sérgio em um jogo do Belo antes da pandemia. Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal
A parte mais diversificada da história na relação entre esporte e João Pessoa está na Vila Olímpica. Nomes como Kaio Márcio, Netinho Marques e até Petrúcio Ferreira deram os primeiros passos, braçadas ou desenvolveram habilidades usandos os equipamentos disponíveis. O espaço, que manteve-se fechado ao público em decorrência da pandemia, hoje abre as portas de forma gradual. Foi lá – ainda no denominado estádio olímpico, que Pelé marcou aquele que, segundo os registros do rei, foi seu gol de número 999.
"Inaugurado em 1959, era um campo com bastante estrutura física e espaço para crescer. Suas dimensões eram oficiais, com pista de atletismo, arquibancada com espaço exclusivo para autoridades, túnel para atletas, cabines de imprensa e um espaço no alambrado para o público da geral. Ali Pelé e companhia estiveram por duas vezes, uma, em 1969, quando do polêmico milésimo gol, em jogo de enfaixamento do Botafogo PB; e em 1972, quando o Santos veio pagar o passe de Ferreira, que tinha sido comprado ao Botafogo. Ali vários amistosos, jogos do campeonato paraibano profissional e juvenil foram realizados", completou Di Serpa.
Registro do gol de Pelé na Vila Olímpica. Foto: Reprodução / Medium via Facebook do Botafogo-PB
Este, certamente,é o capítulo mais marcante: em 1969 o rei tinha 29 anos, o maior da história cumpria excursão do Santos em João Pessoa. O adversário: o Botafogo-PB, que acabara de conquistar o bicampeonato paraibano. Com a bola rolando, 3 a 0 Peixe. Contudo, antes do terceiro gol, pênalti para o Santos. Pelé se recusou a bater. Mas, foi convencido pelos companheiros. Ao bater, fez. Após isso, uma intercorrência médica o colocou no gol – para evitar que o milésimo fosse marcado em outro lugar a não ser no Maracanã.
Vila Olímpica atualmente. Foto: Reprodução / Gov PB