Como nova liga do futebol brasileiro pode impactar os direitos de transmissão
Soberania da Globo pode estar ameaçada se competição de fato sair do papel
É com expectativa que sites esportivos, como o portal jornalesportes, acompanham o desenrolar das negociações que podem mudar para sempre os rumos do futebol brasileiro. O desejo por uma nova liga do Campeonato Brasileiro é algo antigo, mas agora as negociações entre os clubes parecem ter avançado e o projeto, antes um sonho, está cada vez mais perto de se tornar realidade.
Tirar o controle do Campeonato Brasileiro das mãos da CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, sempre foi algo almejado pelos clubes. Ter o controle do calendário, negociar melhor os direitos de transmissão e ter mais autonomia para gerir um dos principais produtos do esporte no país estão entre os fatores que impulsionam a criação da Liga. No papel, está tudo certo. Falta negociar para colocar o plano em prática.
Um dos principais pontos defendidos pelos clubes neste momento é uma maior abertura para negociar os direitos de transmissão, mantidos sob a soberania da Globo há muitos anos. Essa foi uma das justificativas dadas pela Warner no ano passado, ao anunciar que não transmitiria mais jogos do Brasileirão neste ano. A empresa, no entanto, pode voltar à ativa caso a Liga ganhe força.
"Esse movimento é importante para o futebol brasileiro profissionalizar o produto e sem dúvida para companhia essa negociação centralizada facilitaria muito. Sempre vamos buscar opções de ligas locais e de ter o torcedor brasileiro consumindo seu produto dentro da WarnerMedia", disse Fábio Medeiros ao UOL, vice-presidente do grupo de mídia na América Latina citando exemplos de Chile e Argentina, onde a emissora tem os direitos da Liga local.
"Com mais opções e modelos disponíveis, você fica aberto a escolher qual faz mais sentido para você. Tenho três filhos de idades diferentes e é impressionante como consumo de esportes deles é diferente do que eu tinha na infância e adolescência. Se a gente não for capaz de entender isso e como somos relevantes nas plataformas disponíveis nunca vamos oferecer produtos para atrair marcar que vão anunciar. Precisamos estar atentos a essas mudanças e vai ser cada vez mais plural os tipos de empresa que vão investir no esporte", complementou o executivo, sobre a importância de novos players no mercado.
Em meados de fevereiro, diversos clubes se reuniram com empresários do grupo XP Investimentos, que está acompanhando as negociações e têm interesse em ajudar na formatação da nova liga. A ideia é internacionalizar o futebol brasileiro, com contratos ao redor do mundo. Os investidores querem usar como exemplo a La Liga, da Espanha.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o contrato de televisão com o Grupo Globo termina apenas em 2024. Todas as eventuais conversas são para um acordo que passaria a valer em 2025 e, para o banco de investimentos, as negociações já deveriam estar acontecendo
"Tem uma janela de investimento no curto prazo. Estamos em uma rodada de conversas sobre os direitos de transmissão. É o grande ativo deste produto [a liga] a partir de 2025. Se você quiser qualquer tipo de upside [lado positivo], deveria se organizar desde já. Esses caras [os dirigentes] deveriam estar sentados hoje para definir um modelo que vão trazer para a mesa [de negociação]", declarou Guilherme Ávila, responsável pela divisão de esportes do banco de investimento da XP.
Em junho do ano passado, a Globo afirmou em nota que não havia sido consultada sobre a nova Liga, mas que apoiava a iniciativa. "Não conhecemos os detalhes da proposta da Liga entre os clubes. Mas vemos como positivas as iniciativas que promovam a união de propósitos entre os clubes, principais agentes do futebol nacional" disse a emissora carioca em nota oficial.
De acordo com o globoesporte.com, as empresas LiveMode e 1190 estão intermediando o contato feito por um investidor mantido sob sigilo cujo interesse é patrocinar a liga dos clubes e organizar os direitos de transmissão. Para isso, esse investidor pretende pagar US$ 800 milhões em troca de 20% da liga de clubes, por um período de 50 anos, que vigoraria entre 2025 e 2074. Com o câmbio atual, o valor corresponderia a R$ 4,2 bilhões.