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Em derrota do PSG, torcida promete indiferença, mas não consegue deixar de odiar Neymar

O brasileiro foi o único atleta que não recebeu aplausos no anúncio da escalação da equipe.

Por Redação T5 Publicado em
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Foto: Reprodução/Instagram

SÃO PAULO, SP, E PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - As mesmas bocas que vaiaram Neymar tiveram que gritar gol. Foi assim que o jogador brasileiro definiu a relação vivida com a maior torcida organizada do Paris Saint-Germain após marcar na vitória sobre o Strasbourg, por 1 a 0, no dia 14 de setembro, na estreia do atacante na Ligue 1.

Durante o jogo, uma faixa estendida na arquibancada trazia a mensagem, em português, e direcionada também ao seu pai: "Neymar Sr venda seu filho na Vila Mimosa", referência a uma zona de prostituição no Rio de Janeiro.

Nesta quarta-feira (25), na derrota para o Reims por 2 a 0, no Parc des Princes, os torcedores diminuíram o tom e não houve xingamento nem faixas. O brasileiro foi o único atleta que não recebeu aplausos no anúncio da escalação da equipe.

"Dentro de campo, nós sabemos que o Neymar é decisivo, mas o PSG é maior do que qualquer jogador. A postura dele não é legal, seremos indiferentes a ele daqui em diante e estamos aqui para apoiar o PSG", disse o torcedor Ali, de 29 anos, que frequenta o estádio desde 2000.
Em 2017, os mesmos torcedores fizeram uma recepção calorosa ao atacante, com direito a uma versão de Aquarela do Brasil nas arquibancadas do estádio do time em Paris -uma honra concedida, por exemplo, ao ídolo Raí.

Principal torcida organizada do PSG, o Collectif Ultras Paris (CUP) é o grande responsável pela festa que se vê no estádio da equipe, com bandeiras, faixas, instrumentos musicais e cantos de incentivo atrás de um dos gols, na tribuna Auteuil, onde eles ocupam cerca de 5.000 lugares. Para estar ali, eles têm apoio do clube.

"Oficialmente, eles [o Collectif Ultras Paris] são obrigados a mostrar as bandeiras que vão para o estádio ao PSG. Mas, cada vez que há mensagens como as últimas, sobre o próprio Neymar ou seu pai, o que o clube diz é que é impossível de controlar tudo", diz José Barroso, que cobre a equipe para o diário esportivo L'Equipe.

Os dirigentes alegam que torcedores levam faixas, como as de xingamento ao brasileiro, escondidas. Barroso não descarta, porém, que o clube faça vista grossa quando o alvo do protesto é o atacante, que está em conflito com o dono do PSG, Nasser Al-Khelaifi, após não conseguir deixar a equipe de Paris, em agosto.

O bom relacionamento entre clube e torcida tem influência direta de Nasser Al-Khelaifi, cujo fundo, o QSI (Qatar Sports Investments), comprou o Paris Saint-Germain em 2011.

Foi ele quem incentivou a volta das organizadas aos estádios há cerca de três anos. Durante mais de seis temporadas, esses grupos ficaram proibidos de irem aos jogos por causa de episódios violentos no passado. Em 2010, o torcedor Yann Lorence morreu após uma briga entre facções rivais da própria torcida do PSG, a Auteuil e a Boulogne, nomes de áreas do estádio em que esses grupos se concentravam.

Foi na Boulogne, atrás de um dos gols, que começaram a surgir os grupos de ultras na década de 1980.

"Havia, sim, nessa região do estádio torcidas com esse perfil mais radical, neonazistas. Eles eram superviolentos, iam ao campo para sair na porrada", conta o brasileiro Nicolas Pioli, 39, filho de pai francês e que frequenta o Parc des Princes há 20 anos.

Foi desse setor do estádio que vieram os protestos mais duros da torcida parisiense a jogadores do clube no passado. Em seu jogo de despedida no PSG, em 1995, o liberiano George Weah foi xingado. "Não precisamos de você" estava escrito em uma faixa, que tinha uma variação da cruz celta, um símbolo bastante utilizado por grupos neonazistas.

O goleiro Bernard Lama, campeão do mundo com a seleção francesa em 1998 e negro como Weah, também virou alvo da própria torcida. Ele questionou na imprensa o costume que grupos da Boulogne tinham de imitar macacos para atingir jogadores adversários. Durante algumas partidas do PSG, Lama foi vaiado por se posicionar contra o racismo praticado por torcedores de sua equipe.

A partir da década de 1990 é que surgem organizadas do outro lado do estádio, na tribuna Auteuil, setor mais multicultural que a Bolougne, com negros e imigrantes.

Presidente do clube em 2010 e antecessor de Nasser Al-Khelaifi, Robin Leproux liderou o processo linha dura de exclusão dos ultras parisienses. Com apoio das autoridades francesas, expulsou os grupos organizados, emprestando seu sobrenome ao que ficou conhecido como Plano Leproux.

Incomodado com o ambiente frio no estádio da capital francesa e cobrado até pelos atletas que passaram a fazer parte do caro projeto do clube, o empresário do Qatar participou das negociações com a prefeitura e a polícia local para a liberação recente dos ultras.
"Temos 100% de certeza de que, se Nasser não tivesse feito o que fez, nunca teríamos retornado ao estádio", afirmou Romain Mabille, presidente da CUP, em uma entrevista ao jornal francês Le Monde.

O dono do clube ganhou até uma faixa de agradecimento exibida em duelo contra o Lorient, em dezembro de 2016: "Ultas retrouvés: merci Nasser" ( "Ultras de volta, obrigado Nasser").

A relação também já permitiu a alguns ultras contato mais próximo com jogadores. Antes de duelo com o Real Madrid pela Champions League em 2018, torcedores foram autorizados a entrar no centro de treinamento para conversar com os jogadores.

Este ano, após a eliminação diante do Manchester United na competição europeia, integrantes da organizada também tiveram acesso a um treino fechado no Parc des Princes.

"Eles querem simplesmente que os jogadores honrem a camisa dentro de campo, se doem o melhor pelo time, para fazer o time crescer. É isso que eles pedem a cada vez que a gente se encontra com eles, antes de jogos importantes, a cada reunião que a gente tem, às vezes em algumas coisas pontuais", disse o zagueiro Marquinhos, nesta quarta, após a derrota para o Reims.

O defensor brasileiro, inclusive, é um dos atletas mais ovacionados pelos torcedores parisienses atualmente. No mesmo jogo em que a organizada protestou contra Neymar e seu pai, diante do Strasbourg, Marquinhos, que sequer estava relacionado, ganhou um enorme mosaico exibido na arquibancada do Parc des Princes.

Enquanto as antigas torcidas organizadas da Boulogne e da Auteuil continuam vetadas do estádio, são os ultras do Collectif Ultras Paris que, com a bênção de Nasser Al Khelaifi, seguem incentivando o PSG e, pelo menos por enquanto, odiando Neymar.

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