Fernanda Montenegro: uma carreira lendária e 95 anos de vida

Fernanda Montenegro, 95 anos: a atriz que inventou o próprio nome (Foto: Reprodução)

A atriz Fernanda Montenegro, uma das figuras mais icônicas da dramaturgia brasileira, comemora seus 95 anos nesta quarta-feira (16). Com uma carreira de 80 anos, ela continua sendo um dos maiores nomes do teatro, cinema e televisão do Brasil. Nascida Arlette Pinheiro Esteves da Silva, em 1929, no Rio de Janeiro, Fernanda Montenegro coleciona prêmios e desempenhos memoráveis, marcando a história da arte nacional e internacional.

Primeiros Passos na Carreira

Criada no bairro de Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro, Fernanda começou sua trajetória artística ainda muito jovem. Aos 15 anos, venceu um concurso que a levou a trabalhar como locutora na Rádio MEC, uma importante emissora de rádio cultural no Brasil. Sua estreia no teatro aconteceu em 1950, com a peça "Alegres Canções nas Montanhas", ao lado de seu marido Fernando Torres. Esse seria apenas o início de uma carreira repleta de momentos brilhantes. Na televisão, Fernanda estreou em 1951, tornando-se a primeira atriz contratada pela TV Tupi do Rio de Janeiro.

Uma Carreira Brilhante no Cinema

Um dos maiores marcos de sua carreira foi a atuação no filme "Central do Brasil" (1998), dirigido por Walter Salles. Nesse papel, Fernanda Montenegro interpretou Dora, uma ex-professora que escreve cartas para analfabetos na estação de trem Central do Brasil, no Rio de Janeiro. O filme, que conta a história de Dora ajudando um menino a encontrar o pai após a morte de sua mãe, conquistou o mundo e rendeu à atriz a indicação ao Oscar de Melhor Atriz, uma honra inédita para uma atriz brasileira. Ela também foi indicada ao Globo de Ouro e venceu prêmios em festivais como o de Berlim, o Festival de Havana, e o National Board of Review Award.

Outro destaque de sua carreira foi sua participação no clássico "O Auto da Compadecida" (1999), adaptação da obra de Ariano Suassuna, dirigida por Guel Arraes. Fernanda interpretou o papel da Nossa Senhora, uma figura central no julgamento das almas dos personagens principais, Chicó e João Grilo. Sua atuação no filme foi reverenciada por trazer uma mistura de compaixão e autoridade, características fundamentais para a figura da Compadecida. A obra, que mescla humor, crítica social e religiosidade, tornou-se um dos maiores sucessos do cinema e da televisão brasileira, consolidando-se como um clássico amado por gerações.

Sucessos na Televisão

Na televisão, Fernanda Montenegro brilhou em várias novelas e minisséries. Em "Guerra dos Sexos" (1983), sua interpretação de Charlô, prima de Otávio, interpretado por Paulo Autran, entrou para a história da TV brasileira. A cena icônica em que os dois jogam comida um no outro durante uma discussão é lembrada até hoje como um dos momentos mais marcantes da teledramaturgia nacional. Por esse papel, Fernanda recebeu o Troféu Imprensa e o Troféu APCA de Melhor Atriz.

Outro papel memorável foi o da vilã Bia Falcão, em "Belíssima" (2005), novela de Silvio de Abreu. A personagem, uma mulher rica e manipuladora, cativou o público com suas artimanhas e fuga para Paris após cometer crimes. Esse papel rendeu à atriz prêmios de Melhor Atriz em Televisão e em novelas.

Ainda na TV, Fernanda conquistou o Emmy Internacional de Melhor Atriz por sua atuação em "Doce de Mãe" (2013). Inicialmente planejado como um especial de fim de ano, o filme sobre Dona Picucha, uma senhora idosa de Porto Alegre, se tornou uma série de sucesso. Sua interpretação tocante da personagem rendeu também uma segunda indicação ao Emmy Internacional.

A vida pessoal

Fernanda foi casada por 56 anos com o ator e diretor Fernando Torres, que morreu em 2008. Juntos, tiveram dois filhos: a atriz Fernanda Torres e o cineasta Cláudio Torres, ambos seguindo os passos dos pais na dramaturgia e no cinema. Fernanda Montenegro sempre destacou a importância da família em sua vida e o papel de Fernando Torres como parceiro tanto na vida pessoal quanto profissional.

Premiações

Ao longo de sua trajetória, Fernanda Montenegro recebeu todos os principais prêmios de atuação do Brasil e vários internacionais, sendo reverenciada como a “grande dama do teatro brasileiro”. Além de ser a única brasileira indicada ao Oscar, a atriz publicou dois livros: "Fernanda Montenegro: Itinerário Fotográfico" (2018), uma coletânea de fotos que retratam sua trajetória, e "Prólogo, Ato, Epílogo" (2019), onde ela compartilha histórias de sua vida e carreira.

Fernanda Montenegro continua ativa na profissão que tanto ama, provando que talento, dedicação e paixão pela arte são os ingredientes para uma carreira longeva e respeitada. Sua influência transcende gerações, e seu trabalho é um legado cultural incomparável, que continuará a inspirar futuros artistas.

Hoje, aos 95 anos, Fernanda Montenegro não só celebra uma vida de realizações, mas também a admiração e o respeito de milhões de brasileiros e de uma vasta audiência internacional. Um símbolo da resistência da arte, ela permanece como uma referência inabalável de qualidade, integridade e entrega à atuação.