Substituta de Cardi B, Ellie Goulding pede calma a fãs irritados e critica line-up
"Para ser honesta, acho que as pessoas não deveriam se irritar tanto", disse a cantora.
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Calma, gente. "Para ser honesta, acho que as pessoas não deveriam se irritar tanto", diz a inglesa Ellie Goulding, 32, à Folha. Arremata com uma risada.
Estamos num salão do Copacabana Palace, a horas do show que levaria ao Rock in Rio, nesta sexta (27). A artista, que estourou em 2015 com "Love Me Like You Do", um pop fofo da trilha do filme "Cinquenta Tons de Cinza", não estava escalada inicialmente para o festival.
Veio para substitui Cardi B, uma ex-stripper que virou referência do rap ostentação com faixas como "Money Bag" (saco de grana).
Os fãs da desistente (que alegou "motivos pessoais" pelo furo) se enfureceram com o plano B e foram ao Twitter xingar muito, como uma que postou a imagem de uma mulher empurrando o padre Marcelo Rossi para ilustrar o quanto estava decepcionada com o Rock in Rio: "Chuva, frio, cancelamento da Cardi, coxinha de R$ 20, gourmetização da favela, Ellie Goulding... Eu sou o padre".
Ellie confessa que a onda de hostilidade passou quase toda batida batida simplesmente porque "não consigo entendê-los [os tuítes em português]". Mas aproveita para levantar a própria bola: "O que vou fazer, não tocar? Por que as pessoas ficaram chateadas que substituí alguém? Ora, vai ser eu ou outra pessoa. E sei que faço um show incrível e temos hits."
Nem só de pop dançante vive essa inglesa. Ellie é também uma ativista ambiental que ganhou da ONU o status de embaixadora do meio ambiente. Aceitou o título em 2017, entre girafas no Quênia, onde prometeu se empenhar para "amplificar o ativismo dos jovens comprometidos em criar um futuro brilhante".
Nem sempre é tranquilo conciliar os dois mundos –a celebridade politizada e a popstar de letras como "cada centímetro da sua pele é um Santo Graal que preciso encontrar". "É difícil, porque sinto fortemente que posso fazer tudo ao meu alcance, com minha música, para ser o máximo possível ativista. Ao mesmo tempo, sei que o escapismo importa muito também, especialmente para os jovens", diz. "Tento fazer músicas que te levem para longe do que está acontecendo no mundo."
Mas de algumas coisas fica difícil desviar, e uma delas é o feminismo. Ellie já deu discursos públicos sobre este tema inseparável de sua trajetória.
Pegue o Rock in Rio de exemplo. Atrações lideradas por homens são maioria em seis dos sete dias de concertos. A exceção é o 5 de outubro, com Anitta, H.E.R. e Pink. Em compensação, em quatro dias a testosterona domina o line-up inteiro."Isso me incomoda", afirma.
"É algo que observo ao longo dos anos. Rodei muito o mundo, e em geral os headliners são homens. Às vezes sinto que aquele cara não necessariamente merece estar lá mais do que uma mulher. Já fui headliner [a atração principal] antes, e as pessoas ficaram irritadas porque queriam que fossem homens. Apenas ignoro [as mensagens raivosas em redes sociais]."
A indústria musical ainda transpira machismo, segundo Ellie. "Sei, por conhecer outras compositoras... Sentimos que os tempos ainda não mudaram no sentido de ainda ser controverso uma garota ser o que as pessoas descrevem como promíscua. Apenas se divertir, sabe? Ser uma pessoa sensual sem ser chamada de piranha ou outras palavras pouco agradáveis."
Por alguma razão, a artista sabe que se compor uma canção sobre uma 'one night stand' [sexo casual] "vai ter algum julgamento. E isso não aconteceria tanto com um rapaz".
Nem por isso ela deixa de cantar a respeito do que der na telha, inclusive uma música nova em que fala "sobre apenas querer um cara por uma noite".
Um de seus próprios lançamentos, contudo, promete retornar às marés adocicadas do pop que lhe projetou. Será uma parceria com o tenor italiano Andrea Bocelli: "Return to Love". De volta ao amor.
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