Anielle fala pela primeira vez sobre assédio de Silvio Almeida: "Me culpei pela falta de reação imediata"
Ministra contou que os primeiros comentários ocorreram em dezembro de 2022, assim que começaram a trabalhar juntos no governo
A ministra Anielle Franco falou pela primeira vez como vítima do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida nos casos de assédio e importunação sexual. O silêncio foi quebrado pela ministra da Igualdade Racial em entrevista publicada nesta sexta-feira (4) pela revista Veja.
De acordo com Anielle, foram quase dois anos de investidas desrespeitosas do então ministro. "Ninguém se sente à vontade pra relatar uma violência. E, nesse caso, a gente está falando de um conjunto de atos inadequados e violentos que aconteceram sem consentimento e reciprocidade", disse.
A ministra não deu detalhes das situações que contou em depoimento à Polícia Federal nesta semana para, segundo ela, não atrapalhar as investigações, mas disse que tudo começou na transição de governo, quando teve o primeiro contato profissional com Silvio Almeida.
O ex-ministro de Lula foi demitido no dia 6 de setembro, um dia depois das acusações serem expostas por uma reportagem do portal Metrópoles. As vítimas buscaram a organização Me Too Brasil, que combate a violência contra mulheres para denunciar o chefe da pasta.
Ela disse que constantemente se culpa por não ter denunciado no momento, principalmente pelo trabalho que desenvolve com outras mulheres, e conta que se sentiu paralisada. "O fato é que não estamos preparadas o suficiente para enfrentar uma situação assim nem quando é com a gente. Eu me senti vulnerável", revelou.
O medo do descrédito e de ser exposta foram fatores importantes nas decisões de Anielle, que contou ainda ter sofrido outros episódios de violência por ser mulher, em seus 40 anos de vida. Por isso, preferiu esperou para falar, mesmo depois das acusações se tornarem públicas.
"É um tipo de violência que machuca a gente emocional e psicologicamente. São marcas que ficam por muitos anos", reforçou.
A ministra também falou sobre a importância de ações do governo para tratar do assunto, o fortalecimento das políticas de defesa dos direitos das mulheres, seu trabalho para combater as desigualdades e citou o apoio da primeira-dama Janja — que postou nas redes sociais uma foto beijando a testa da ministra quando o caso veio à tona.
Apesar dos programas e políticas de combate, a ministra encorajou outras mulheres a fazer o mais difícil": "Romper o ciclo do silêncio, buscando ajuda ou alguém de confiança que possa nos apoiar para atravessar a situação".