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Brasil precisa cortar emissões de gases do efeito estufa em 92% até 2035, diz Observatório do Clima

País é o sexto maior emissor desses gases no mundo e sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em 2025

Por SBT News Publicado em
Emissao de gases
Países signatários do Acordo de Paris têm até o início de 2025 para apresentar novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Observatório do Clima, uma rede de entidades ambientalistas da sociedade civil, divulgou nesta segunda-feira (26) uma proposta de novo plano climático nacional para o Brasil. Cada país signatário do Acordo de Paris tem seu próprio plano, denominado tecnicamente de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês). Este plano consiste em metas e compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Os países têm até o início de 2025 para apresentar novas Contribuições Nacionalmente Determinadas. O Observatório do Clima propõe que o Brasil, em sua nova NDC, se comprometa a limitar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa a 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2035, o que representaria uma redução de 92% em relação aos níveis de emissão líquida de 2005, estimados em 2.440 milhões de toneladas.

O Observatório ressalta que o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e, no próximo ano, sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). Por isso, o país "precisa entregar à ONU até fevereiro do próximo ano um plano climático nacional ambicioso, que inspire outros países do G20 a aumentar suas metas".

Conforme o Observatório, a proposta divulgada foi elaborada por dezenas de organizações, é baseada "na melhor ciência disponível" e mostra o que o Brasil "precisa entregar em termos de corte de emissões se quiser dar sua contribuição justa para limitar o aquecimento da Terra a 1,5°C acima do período pré-industrial, conforme determina o Acordo de Paris". Atualmente, as metas agregadas dos países, mesmo que totalmente cumpridas, levariam a um aquecimento global de quase 3°C.

Ainda segundo o Observatório do Clima, até o momento, não há indicação de que a nova Contribuição Nacionalmente Determinada brasileira ou de outros grandes poluidores climáticos será "compatível com o que a atmosfera necessita para evitar os piores impactos da crise climática".

A proposta da rede de entidades segue as orientações do Balanço Global do Acordo de Paris, concluído na COP28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no ano passado.

"Ela traz uma meta para 2035 compatível com 1,5°C, aumenta a ambição da meta de 2030 e inicia a eliminação gradual dos combustíveis fósseis no Brasil, propondo a redução do uso desses em 42% (80% do carvão mineral, 38% dos derivados de petróleo e 42% do gás fóssil)", pontua o Observatório.

Segundo David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, a rede estima que, com essa diminuição na demanda, o Brasil não precisará licenciar novos projetos de óleo e gás, "cumprindo a recomendação da Agência Internacional de Energia de barrar a expansão de novos empreendimentos fósseis para cumprir o objetivo de 1,5°C".

Pilares

O Observatório do Clima explica que o cumprimento da meta de redução da emissão de gases de efeito estufa em 92% é apoiado em "cinco pilares principais". São eles:

  • Redução do desmatamento a quase zero em todo o país (limitado a um máximo de 100 mil hectares por ano a partir de 2030);
  • Recuperação do passivo do Código Florestal, de 21 milhões de hectares de cobertura vegetal;
  • Sequestro maciço de carbono no solo pela forte expansão de práticas agropecuárias de baixa emissão;
  • Transição energética para fora dos combustíveis fósseis;
  • Melhoria da gestão de resíduos.

A rede propõe que, no setor de energia, seja feita uma "forte expansão do transporte público", com a construção de 4 mil km de vias de ônibus de trânsito rápido (BRT), substituição completa da gasolina por biocombustíveis e eletricidade em carros de passeio, e instalação de 70 gigawatts de energia eólica e 95 gigawatts de energia solar.

"No setor de resíduos, as reduções de emissão viriam da universalização do saneamento e da erradicação dos lixões — medidas já inscritas em lei no país", acrescenta.

São propostas também várias medidas de adaptação, como a inclusão da análise de impacto e risco climático em todo o orçamento público. "Além disso, a NDC traz a proposta da realização, em dois anos, de um grande diagnóstico sobre perdas e danos no país, algo crucial num momento em que recifes de coral, o Pantanal e grande parte da Amazônia sofrem com uma sequência de eventos climáticos extremos", afirma.

A COP30, no próximo ano, será realizada em Belém, no mês de novembro.



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