Violência contra o idoso: maioria dos agressores convive com a vítima
Doutora em saúde pública desmitifica a má reputação das casas de acolhimento ao idoso
O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa é comemorado anualmente em 15 de junho, desde 2011, quando foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os tipos de violências contra esse público estão abandono e negligência, violência física e psicológica, abuso financeiro, violência patrimonial, sexual e discriminação etária. Existem diversas formas de denunciar abusos ou violência contra o idoso, como o Disque 100, Disque-Denúncia 180, o Aplicativo dos Direitos Humanos do Governo, site da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, as Delegacias Especializadas na Proteção ao Idoso, Ministério Público e a Polícia Militar (190).
A população idosa no Brasil, que inclui aqueles que têm 60 anos ou mais, soma 37,7 milhões de pessoas, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgados em 2021. Nesse cenário, 75% dos idosos contribuem para a renda em suas casas e 18,5% deles ainda realizam algum tipo de atividade remunerada.
De acordo com dados disponibilizados pelo Disque 100, de 2019 para 2020 o número de chamadas para reportar algum tipo de violência contra o idoso aumentou 53%. Somente em 2021, houve 80 mil denúncias de violações de direitos desse público. A maioria delas ocorre dentro da própria casa da vítima (55,17%) tendo os filhos como agressores (51%).
Diante dos altos índices de violência contra os idosos, a conscientização e o acolhimento fazem-se necessários durante todo o ano, como alerta a doutora em saúde pública, especialista em gerontologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), enfermeira e professora universitária Adriana Freitas: “É preciso não falar da importância de combater a violência contra o idoso apenas no dia dedicado a esta causa, mas tratar diariamente. O idoso deve ser observado pela sociedade de forma contínua, não só em campanhas. A ciência tem contribuído também trazendo informação para a população”, enfatiza.
Depois de 27 anos pesquisando sobre o envelhecimento, Adriana sentiu a necessidade de trazer esse tema para mais perto da população. Hoje, além de atuar nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, estende o olhar sobre o envelhecimento humano para a literatura, movida pelo desejo de tornar o conhecimento acadêmico mais acessível em outras linguagens. Na prateleira das obras já lançadas estão Crônicas no Asilo (2016, Editora Albatroz), A menina que queria ser... (2018, Editora Albatroz), As velhices de Berenice (2019, Editora Perfil Editorial) e Sem Retoque (2021, Editora InVerso). “Eu fui para a literatura porque é um gás de imaginação, de produção, de reflexão, e decidi entrar para a literatura, principalmente infantil, para que a gente possa, junto às crianças, desmistificar o que elas veem e compreendem sobre o envelhecer”, esclarece, lembrando que seus livros que podem e devem ser lidos por pessoas de todas as idades.
A especialista reforça que cada ser humano tem seu envelhecimento próprio, se desenvolve de uma forma diferente que varia a depender da interferência da genética, meio ambiente, fatores psicológicos. “No processo do indivíduo é importante salientar que a gente não se refere ao envelhecimento no singular, a gente sempre coloca no plural porque cada ser humano tem o seu próprio processo de envelhecer”, pontua Adriana Freitas.
Ao longo da sua trajetória dedicada a pesquisas sobre o envelhecimento, Adriana acompanhou de perto muitos idosos abrigados em casa de longa permanência (atual nome atribuído aos asilos). “A gente precisa desmistificar as casas de repouso que, muitas vezes, ganham fama de ‘depósito de idosos’. Porém, são um lugar onde é possível viver a velhice recebendo todos os cuidados para que idoso tenha qualidade de vida”, destaca.
Áurea Recanto da 3ª idade
A convivência com idosos na família que necessitaram de cuidados de uma casa de longa permanência despertou na enfermeira Eunice Souza, 48 anos, a vontade de também abrir uma casa para acolher pessoas da melhor idade. Por isso, buscou se especializar em gerontologia, cuidados paliativos, emergência e UTI, além de estimulação de cognição.
Sua missão é zelar por outras vidas. Tudo começou com um pedido da sua mãe, Áurea, já falecida, que a aconselhou a abrir uma instituição para cuidar das pessoas idosas. A mãe de Eunice era costureira e, quando podia, dava assistência a uma casa de repouso juntamente com outra filha também enfermeira. Áurea não chegou a ver Eunice dando início ao recanto da terceira idade, mas batizou o espaço com seu nome como uma homenagem.
Em casa, Eunice teve o maior exemplo de amor e cuidado diários. Sua tia, viúva e sem filhos, necessitou de atenção especial no fim da vida. O marido dessa tia teve Alzheimer, também necessitando de cuidados.
Atualmente, a Áurea Recanto da 3ª idade acolhe 18 idosos que recebem cuidados de uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais capacitados em enfermagem, nutrição, fisioterapia e técnico em enfermagem. “Pra mim é muito gratificante realizar esse trabalho porque entendo que o processo de envelhecimento é para todos e não deve ser tratado como doença. Hoje tenho a satisfação de atuar na minha profissão realizando o sonho dessa casa que foi um projeto idealizado, inicialmente, pela minha mãe”, conta a enfermeira com sentimento de gratidão.
Profissões para quem deseja cuidar de idosos
A gerontologia é uma das profissões mais conhecidas relacionadas aos cuidados com a população idosa. No entanto, a enfermagem, psicologia, terapia ocupacional, nutrição e fisioterapia também agregam atenção à saúde das pessoas com 60 anos ou mais. Veja, a seguir, como cada uma dessas áreas contribui para o envelhecimento saudável.
Enfermagem: essa profissão é uma das mais procuradas da área da saúde, pelos estudantes quando pensam em ingressar na faculdade. No contexto de atenção ao idoso, a enfermagem é fundamental para garantir reabilitação e cuidados continuados. O enfermeiro pode prestar atendimento em hospitais, clínicas ou de forma domiciliar.
Fisioterapia: o fisioterapeuta que atua com foco na população idosa busca ajudar na melhoria da qualidade de vida prevenindo e tratando lesões do corpo.
Gerontologia: o profissional especializado nessa área estuda os processos de envelhecimento do corpo humano e os seus impactos para a saúde e vida social do paciente idoso.
Psicologia: lidar com a velhice pode ser complicado para algumas pessoas, já que o avançar da idade ocasiona diversas transformações que podem trazer problemas para a saúde mental dos pacientes. Nesse contexto, os psicólogos dão suporte garantindo o bem-estar psicológico dos idosos.
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