Farmacêutica brasileira quer cristalizar vírus da covid no espaço; entenda
Objetivo é revelar mais detalhes da geometria e conexões da proteína N do novo coronavírus
Uma farmacêutica brasileira quer cristalizar uma proteína do vírus SARS-CoV-2, o novo coronavírus, no espaço. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (6), pela Cimed, que irá financiar o estudo. A pesquisa é de longo prazo - cerca de 5 anos - e a empresa irá investir R$ 300 milhões no projeto.
A Cimed está realizando o estudo junto a outras três instituições: Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA); empresa de logística Airvantis; e o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização supervisionada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O estudo tem como objetivo revelar mais detalhes da geometria e conexões da proteína N (nucleocapsídeo) da covid 19, responsável pelo ciclo de vida do vírus dentro de um organismo, a fim de descobrir como ele se conecta dentro do ser humano. Dessa forma, os cientistas terão mais conhecimento sobre a microestrutura da proteína, permitindo investigar a ação que ela tem no organismo e a interação com princípios ativos e fármacos, podendo tornar mais eficiente a busca por novos medicamentos ou entender o funcionamento dos já existentes, para aumentar sua efetividade no combate à doença.
Etapas da pesquisa
Em outubro, amostras da covid-19 foram trasnportadas para a JAXA, no Japão, onde os cientistas as preparam para a viagem espacial. Depois de prontas e embaladas, elas foram enviadas para a NASA, em novembro. Agora, elas aguardam o lançamento do foguete rumo à Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês), que ocorrerá em 21 de dezembro. No espaço, um astronauta irá executar o experimento brasileiro e, cerca de três a quatro meses depois, as amostras contendo cristais de proteína retornarão à Terra para serem analisadas no acelerador de partículas do CNPEM, o Sirius, por meio de um processo chamado cristalografia.
O que é um cristal de proteína?
Os cristais proteicos são formações em que as moléculas da proteína se solidificam de forma ordenada e, vistos de um microscópio, é possível obter mais informações sobre a microestrutura da proteína de forma mais detalhada.
Por que no espaço?
No espaço, onde há a microgravidade, as proteínas não se achatam, permitindo obter cristais com uma qualidade superior às obtidas na Terra. A técnica de cristalização de proteínas fora do planeta já é utilizada há mais de 20 anos. "Ainda não conseguimos obter cristais da proteína N nessas condições em solo, de forma que a cristalização em microgravidade pode significar um importante avanço", afirma o pesquisador Celso Benedetti, do CNPEM.
"Acreditamos que a investigação por meio dos experimentos espaciais é vital para contarmos com uma indústria farmacêutica nacional mais bem preparada em atender às diversas necessidades de saúde atuais e futuras", explica o presidente da Cimed, João Adibe Marques.
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