Bolsonaro e ministro da Defesa discutem Exército no Ceará
O governador cearense, Camilo Santana (PT), encaminhou a Brasília um pedido para que a GLO - que permite a atuação das Forças Armadas no estado até esta sexta (28) - seja prorrogada
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - No dia seguinte às reações de diversas autoridades devido ao envio de mensagem com a convocação para atos contra o Congresso, o presidente Jair Bolsonaro adotou o silêncio e evitou entrevistas com jornalistas em duas ocasiões na manhã desta quinta-feira (27).
Com a agenda pública de Bolsonaro esvaziada, o único compromisso divulgado pelo Palácio do Planalto ocorreu no Ministério da Defesa, pela manhã, onde Bolsonaro discutiu a operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no Ceará, estado que enfrenta uma crise na segurança pública em razão de um motim de policiais militares.
O governador cearense, Camilo Santana (PT), encaminhou a Brasília um pedido para que a GLO - que permite a atuação das Forças Armadas no estado até esta sexta (28) - seja prorrogada.
Ao final do encontro de Bolsonaro com seus auxiliares, o ministro Fernando Azevedo (Defesa) disse que o presidente ainda não decidiu se vai atender ou não o pleito de Camilo.
Na saída da agenda, Bolsonaro não parou para dar declarações aos jornalistas que lhe esperavam na entrada do Ministério da Defesa.
Mais cedo, na saída do Palácio da Alvorada, o presidente tampouco parou para realizar qualquer declaração a jornalistas ou para responder perguntas, embora tenha descido do comboio presidencial para cumprimentar seus simpatizantes.
Além de Azevedo, participaram da agenda na Defesa os ministros Sergio Moro (Justiça), André Mendonça (Advocacia-Geral da União), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Braga Netto (Casa Civil), bem como os comandantes do Exército e da Marinha e um representante da FAB (Força Aérea Brasileira).
Bolsonaro enfrenta críticas desde a quarta (26) por ter encaminhado a contatos no WhatsApp um vídeo que conclama a população a ir às ruas no dia 15 de março, quando está marcado um ato pró-governo e contra o Congresso.
A manifestação do dia 15 é uma reação à fala do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, que chamou o Legislativo de "chantagista" na semana passada.O ato estava previsto desde o final de janeiro, mas acabou mudando de pauta para apoio a Bolsonaro e encorpando insinuações autoritárias após Heleno atacar o Legislativo.
Foram diversas as reações na quarta ao conteúdo da convocação repassada por Bolsonaro a seus contatos.
Pela manhã, o decano do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Celso de Mello, disse em nota à coluna Mônica Bergamo que, se confirmada a conclamação feita por Bolsonaro, ela revela "a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático!!!".
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu, também na quarta, respeito às instituições democráticas. "Só a democracia é capaz de absorver sem violência as diferenças da sociedade e unir a nação pelo diálogo. Acima de tudo e de todos está o respeito às instituições democráticas", afirmou o parlamentar.
"Criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir. Somos nós, autoridades, que temos de dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional. O Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir", escreveu Maia em rede social.
Após a repercussão negativa do episódio, Bolsonaro escreveu no Twitter, também na quarta, que as interpretações sobre o compartilhamento do vídeo são "tentativas rasteiras de tumultuar a República". Ele não negou que tenha encaminhado o vídeo a seus contatos.
"Tenho 35 milhões de seguidores em minhas mídias sociais (Facebook, Instagram, YouTube e Twitter) onde mantenho uma intensa agenda de notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. Já no WhatsApp tenho algumas poucas dezenas de amigos onde, de forma reservada, trocamos mensagens de cunho pessoal", escreveu o presidente.