Cabral volta a citar propina a Pezão, que nega e diz que prisão foi violência
Em seu primeiro depoimento após sair da cadeia, Pezão classificou sua prisão como uma violência
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (MDB) negou nesta segunda-feira (3) ter recebido propina do esquema de seu antecessor, Sérgio Cabral (MDB).
Em seu primeiro depoimento após sair da cadeia, Pezão classificou sua prisão como uma violência.
Ele foi o único governador do estado a ser preso durante o mandato. O Rio de Janeiro já teve outros quatro ex-governadores presos por motivos distintos: Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco.
"Fui tirado de dentro do Palácio Laranjeiras [residência oficial do governo] de uma maneira muito violenta. Não esperava, faltando 33 dias para terminar o governo, sofrer o que sofri. Seis homens de fuzis, quatro mulheres de pistolas apontadas para a minha cabeça e na minha esposa", disse Pezão.
Os procuradores Felipe Bogado e Almir Sanches, presentes no interrogatório, questionaram ao ex-governador se houve violência policial. Pezão disse que os agentes entraram com fuzis no palácio procurando cofres e mexendo nas roupas de sua esposa, sem especificar atos violentos.
Pezão foi preso no dia 29 de novembro de 2018, faltando 33 dias para terminar seu mandato. Foi solto por decisão do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Rogério Schietti em dezembro.
Ele é acusado de receber R$ 150 mil de mesada quando era vice de Cabral e de manter o esquema de corrupção em sua gestão.
Em seu interrogatório também nesta segunda, Cabral afirmou que Pezão "participou da estruturação dos benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo". Outros dois delatores, Sérgio Castro e Carlos Miranda, responsáveis por entregar dinheiro da quadrilha, também confirmaram os pagamentos.
Pezão negou as propinas e classificou os três depoimentos como "inverdades".
"Num dos depoimentos, o Serjão [Sérgio Castro] diz que me pagou um dia antes do assalto à minha casa. Eu estava na Itália nesse dia. São informações tão mentirosas que não tenho nem como rebater", disse Pezão.
Conhecido por ter uma imagem pública de vida simples, Pezão afirmou que atualmente vive da aposentadoria de sua esposa e que aguarda a liberação da sua própria no INSS. "É o dinheiro que vou ter", disse ele.
Cabral, contudo, afirmou que Pezão tinha mordomias que não tornava públicas para manter sua imagem "low profile", disse o ex-governador.
"Pezão tinha um estilo de vida simples. Passava a impressão de que esses benefícios não ocorriam. Mas eu sabia que ocorriam e como não usava para ter um estilo de vida low profile. Mas sabia que tinha determinadas mordomias", disse Cabral.
Pezão citou ainda a investigação aberta contra ele em razão da delação de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que mencionou pagamento de caixa dois a sua campanha.
"Fui investigado por três anos pela força-tarefa da Lava Jato. Tive minha vida vasculhada de tudo o que é jeito. A PF pediu arquivamento. De março de 2015 a março de 2018 fui investigado. O que aconteceu de março de 2018 a novembro de 2018 para a PF aparecer com uma força-tarefa para me prender?", questionou Pezão.