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Ave polar leva base brasileira na Antártida a fazer megatransplante de musgo

O projeto do heliponto da nova base científica brasileira na Antártida já estava pronto quando os técnicos descobriram que ali havia um grande tapete de musgo

Por Redação T5 Publicado em
Base brasileira antartida
Base brasileira na Antártida Base brasileira na Antártida Foto: Ministério da Defesa

ANTÁRTIDA (FOLHAPRESS) - O projeto do heliponto da nova base científica brasileira na Antártida já estava pronto quando os técnicos descobriram que ali havia um grande tapete de musgo e um ninho de skua, uma ave polar que se reproduz na região.

Por conta do impacto ambiental que a remoção desse tapete poderia causar, a empresa chinesa que executou a obra para construir a nova estação foi orientada a transplantar o musgo para um outro local, sob supervisão dos fiscais do Ibama.

O tapete, com cerca de 650 metros quadrados, foi levado para um outro lugar próximo. A operação foi considerada o maior transplante de musgo da história, segundo o biólogo Paulo Câmara, pesquisador antártico que está escrevendo um artigo científico sobre o assunto.

Ele avalia como está a recuperação da planta. "Aparentemente o tapete está muito bem, saudável, crescendo. Agora a gente já sabe que o transplante de musgo é viável, pelo menos aqui na Antártida."

E por que o musgo é tão importante por aqui? "Os tapetes de musgo são a Amazônia da Antártida. Não tem macaco pulando, arara voando, mas tem muitos organismos vivendo ali, é uma floresta em miniatura. Tem que olhar na lupa, no microscópio, o que tem lá."

Entre os microrganismos que vivem ali está o tardígrado, uma criatura estranha e microscópica e se assemelha a um urso aquático. Por isso, é também conhecido como urso d'água.
"O cara vive aqui no inverno, a menos 30 graus Celsus, sobrevive a mais de 100 graus, na água fervendo, e vive no vácuo, no espaço. Se tem uma criatura do capeta é o tardígrado. Ele não morre", diz Câmara.

E o que o animal mais resistente do mundo pode nos ensinar?

"Se a alguém pode ensinar a gente a não morrer é ele. Se tem alguma substância que o deixa à prova de bala, a gente pode aprender com ele. Se a gente remove o tapete de musgo, está removendo ele e toda essa galera que consegue sobreviver nessas condições inóspitas."

Uma pesquisa da Universidade de Tóquio publicada em 2016 na revista científica Nature Communications demonstrou que o bichinho tem uma proteína que protege o seu DNA. Ela teria potencial para ser uma fonte de novos genes e de mecanismos de proteção.

Eles desenvolveram em laboratório células humanas que produziram a mesma proteína e descobriram que ela também protegia as células, especialmente contra a radiação. Mas as do tardígrados se mostraram muito mais resistentes a raios-X do que as células humanas. Ou seja, a criatura tem outras cartas na manga, que mereceriam ser mais bem investigadas.

E como terminou a história da ave skua e seu ninho? Teimosa, ela não desistiu. Voltou a fazer o ninho muito perto do heliponto, em outra área de musgo

A reportagem da Folha de S.Paulo visitou nesta segunda (13) a região, a poucos metros da base e precisou desviar a rota porque a ave investia contra quem se aproximasse do local, caminho de Punta Plaza, a região norte da península Keller.

"Ela faz o ninho no musgo porque é fofo, quentinho, funciona como isolante térmico", diz Luiz Ernesto Trein, analista ambiental e fiscal da obra na base.

Conhecida como mandrião do sul, seu nome científico é Stercoparius, que significa "de esterco". Trata-se de uma referência à forma como a ave busca o alimento, atacando outras aves até elas regurgitarem.

Também se alimenta de filhotes de outros pássaros, como gaivotas e andorinhas, além de ovos de pinguim.

"Ela tem uma alimentação muito variável como toda ave de rapina. Come de tudo, ataca filhotes de outros bichos, come até cadáveres de pinguins."

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