Governo não diz como cobrirá buraco de R$ 1 bi no Bolsa Família neste mês
O governo pode remanejar recursos para elevar o orçamento do programa e evitar a insuficiência de dinheiro para as famílias que vivem em situação de pobreza ou de extrema pobreza.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A equipe do presidente Jair Bolsonaro evita dar explicações sobre como irá bancar o pagamento a todos os beneficiários do Bolsa Família em dezembro. Dados do governo apontam para um buraco no orçamento do programa de cerca de R$ 1 bilhão.
Apesar do rombo, Bolsonaro anunciou o início dos depósitos deste mês, que incluem o 13º às famílias. O governo pode remanejar recursos para elevar o orçamento do programa e evitar a insuficiência de dinheiro para as famílias que vivem em situação de pobreza ou de extrema pobreza. A reportagem solicita informações sobre como se dará esse deslocamento de verbas desde segunda-feira (16), mas o governo não respondeu. O pagamento de dezembro começou na semana passada e vai até o dia 23.
A 13ª parcela do Bolsa Família foi promessa de campanha de Bolsonaro. Segundo o Ministério da Cidadania, o orçamento do programa no ano fechou em R$ 33,6 bilhões. Mas só R$ 32 bilhões estão liberados. De acordo com nota técnica do Legislativo, faltariam R$ 759 milhões na reserva do programa para garantir os pagamentos neste ano. Isso indica um buraco de cerca de R$ 1 bilhão no orçamento do programa.
Procurado, o Ministério da Economia disse apenas que "até o momento não há informação oficial sobre eventual mudança no orçamento do programa Bolsa Família". O Ministério da Cidadania não respondeu. O governo afirma que 13,1 milhões de famílias serão atendidas no mês, mas não informou o motivo da divergência no orçamento. Não é permitido o pagamento de recursos acima da verba autorizada. Mas o time de Bolsonaro pode destinar mais dinheiro ao Bolsa Família para inflar o programa. Em novembro, uma análise de técnicos do Congresso fez um alerta: o orçamento do Bolsa Família para este ano pode ser insuficiente para que o presidente cumpra a promessa de pagar um 13º para os beneficiários. Bolsonaro, na época, negou a falta de recursos para o programa, mas não explicou como ampliaria a verba. Se não houver suplementação de recursos, 4 milhões de famílias poderão ficar sem receber o benefício.
O número é aproximado porque depende do valor do benefício pago a cada beneficiário. Responsável pelo gerenciamento do programa, o Ministério da Cidadania havia informado ao jornal Folha de S>paulo, em outubro, que o 13º seria garantido por um aumento de R$ 2,6 bilhões no orçamento do programa. Isso foi feito, e, para este ano, ficaram previstos R$ 32 bilhões para a transferência de renda a pessoas em situação de pobreza e de extrema pobreza. Por mês, os desembolsos somam, em média, R$ 2,5 bilhões. Assim, a nota técnica apontou a necessidade de elevação da verba. O governo também não quis se manifestar sobre a falta de recursos levantada pela área técnica do Congresso. Sem dinheiro, o Bolsa Família enfrenta um processo de enxugamento sob Bolsonaro.
O governo passou a controlar a entrada de novos beneficiários por falta de orçamento. A fila de espera para receber o pagamento supera a marca de 700 mil famílias. Oficialmente, o governo de Bolsonaro tem se recusado a apresentar dados sobre o enxugamento nas transferências de renda para a população mais pobre. A reportagem espera resposta sobre essas informações desde o fim de setembro. Com a barreira criada, a cobertura do programa vem recuando mês a mês, após atingir o auge em maio (14,1 milhões de famílias). Em dezembro, é a menor do ano (13,1 milhões). Em novembro, a cobertura do programa foi de 13,2 milhões de famílias. O benefício médio é de R$ 191,08.
O Bolsa Família atende pessoas que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 89 mensais, e em pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 por mês. Criado em 2004, esse é o carro-chefe dos programas sociais do governo e atende a pessoas extremamente vulneráveis.
A fila de espera se forma quando as respostas demoram mais de 45 dias. O prazo vinha sendo cumprido desde agosto de 2017, quando Osmar Terra, atual ministro da Cidadania, era ministro do Desenvolvimento Social do presidente Michel Temer (MDB). Mas, por falta de recursos, o programa regrediu em 2019. Para o próximo ano, Bolsonaro promete uma reformulação do programa, que pode incluir ampliação do público-alvo.
Mas a iniciativa enfrenta -novamente- um problema orçamentário. O governo precisa retirar recursos de outro ministério para, então, ampliar o Bolsa Família. Por ora, não houve consenso sobre a reestruturação do programa que atende pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza no Brasil.
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